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Para empresários do Grande ABC, decisão estadual foi ‘equivocada’

Entidades se manifestam contra mudança, que manteve isolamento no Grande ABC

Por Flavia KurotoriBR>Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
28/05/2020 | 00:01
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Celso Luiz/DGABC


As sete cidades da região ficaram de fora da flexibilização da quarentena anunciada ontem pelo governador João Doria (PSDB). Sem a reabertura gradual dos comércios e serviços não essenciais, ao contrário do que vai acontecer na Capital, os representantes da economia do Grande ABC classificaram a decisão como “equivocada” e “absurda”. Os estabelecimentos estão de portas fechadas desde o início do decreto estadual, em 24 de março.

Um dos setores mais afetados é o comércio, já que apenas supermercados, farmácias e outros classificados como essenciais podem operar. De acordo com o presidente da Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André), Pedro Cia Junior, deixar a região de fora “foi uma decisão absurda, estamos repudiando essa ação que só está beneficiando a Capital”. “Eles mesmos dizem que a situação (da pandemia) é complicada na Região Metropolitana e que a Capital é o epicentro, então, isso é um contrassenso”, afirmou. “Os sete prefeitos devem se juntar para flexibilizar aqui, senão o consumidor da região vai para São Paulo, prejudicando não só no privado, mas também no público, com arrecadação de impostos, que vão ficar na Capital. Foi decisão estapafúrdia e política”.

O presidente da Acisbec (Associação Comercial e Industrial de São Bernardo), Valter Moura, afirmou que a decisão deve ser tomada pelos municípios. “Como pode a cidade de São Paulo flexibilizar para shoppings enquanto nós, que somos vizinhos, que estamos ao lado, não podemos? O que vamos fazer, enviar nossos consumidores para a Capital? É um absurdo”, disse. “Quem deve decidir sobre a reabertura ou não do comércio deveriam ser os prefeitos, porque um município é diferente do outro. A decisão do governador é inconsciente e desnecessária”, disse, acrescentando que é preciso “fazer algo para planejar 2021, porque 2020 já está perdido”.

A crítica também partiu do presidente da ACE (Associação Comercial e Empresarial) de Diadema, José Roberto Malheiro. “A cada dia que passa, os comércios vão morrendo. Só hoje (ontem), soube de três que tiveram que fechar. Esta notícia é mais um baque, porque já perdemos as vendas de Dia das Mães e vamos ficar sem o Dia dos Namorados também. As vendas estão praticamente zeradas. Em alguns casos, só não estão zeradas por causa das vendas on-line, mas a maioria não estava preparada para isso e o que vende não chega nem perto do que venderia com as portas abertas.”

A decisão também traz consequências para bares e restaurantes, segundo o presidente do Sehal (Sindicato das Empresas de Hospedagem e Alimentação do Grande ABC), Beto Moreira. Ele afirmou que muitos estabelecimentos nem devem reabrir, e que a maioria já aguardava a retomada a partir do dia 1º de junho.
“Eu só queria entender como a prefeitura de São Paulo consegue ser uma ilha de excelência em meio a esse caos com a pandemia. É lamentável! E ainda mais, o que quer o governador com esse decreto, que a gente mande os nossos clientes daqui para consumir na cidade de São Paulo? É muito absurdo, pois é uma concorrência desleal”, disse.

SHOPPINGS
Com a região dentro da quarentena, os shoppings do Grande ABC devem continuar fechados. O Diário questionou os estabelecimentos sobre a decisão do Estado e os preparativos para uma possível retomada. Em Santo André, o Grand Plaza afirmou que reabertura depende do cumprimento de critérios estabelecidos pelo governo estadual e posterior definição do município. O estabelecimenro pretende seguir protocolo de reabertura, contendo procedimentos que ofereçam segurança e proteção aos colaboradores e clientes.

Em São Bernardo, o Shopping Metrópole afirmou que seguirá as determinações dos órgãos competentes e aguardará diretrizes da Prefeitura. “O empreendimento está se preparando para o momento de retomada de seu funcionamento, adotando um rigoroso protocolo para garantir uma operação zelosa, segura e adequada e preservar o bem-estar de todos, colaboradores e terceirizados, lojistas e clientes”, informou, em nota.

O Golden Square Shopping, localizado na mesma cidade, informou que avalia as medidas de flexibilização do isolamento físico e possui plano de retomada, que contempla medidas de biossegurança e protocolo de prevenção com procedimentos de sanitização e desinfecção com produtos de higiene.
Os demais estabelecimentos não se posicionaram. A Abrasce (Associação Brasileira de Shopping Centers) informou que também preparou um protocolo de recomendações para o retorno.

Para indústria, expectativas também foram frustradas

A indústria do Grande ABC também se posicionou contra a decisão de deixar a região fora da flexibilização da quarentena. Para o setor, o comércio é visto como essencial para o escoamento da produção, por isso a importância de uma reabertura no atual momento de crise econômica, causado pela pandemia do coronavírus.

“Para a indústria fluir a produção precisa de comercialização. Nós vemos a decisão com muita preocupação, e sem entender bem o critério. Fiz contato com o Consórcio (Intermunicipal do Grande ABC) e foi importante ouvir que pelo menos a posição deles é não concordar com essa medida. Pretendemos conversar e continuar acompanhando isso. Agora, o que não pode é a economia continuar parada”, disse o diretor titular do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) Santo André, que também responde por Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, Norberto Perrella.

O diretor titular do Ciesp de São Bernardo, Cláudio Barberini Junior, afirmou que a expectativa era de uma reabertura gradual, a partir de 1º de junho. “A região tem números melhores do que a Capital. Não dá para ter medidas diferentes, porque estamos na divisa com a Capital. Por exemplo, não dá para separar São Caetano da Vila Prudente. em São Paulo. Enxergamos isso com muita preocupação, porque o comércio é onde se desova todos os produtos”, afirmou o diretor titular do Ciesp de São Bernardo, Cláudio Barberini Junior.

O diretor do Ciesp Diadema, Anuar Dequech Júnior, afirmou que as empresas tiveram queda de cerca de 70% na produção. Disse ainda que a entidade já tinha defendido a reabertura que foi anunciada pelo prefeito da cidade, Lauro Michels (PV), mas foi barrada pela Justiça. “É necessário flexibilizar. Esse decreto (de flexibilização) ainda deixou pendente a questão da indústria, que precisa ser classificada como essencial”, reclamou.YF

Representantes dos trabalhadores defendem que a quarentena continue

Na contramão dos empresários, os sindicatos representantes das principais categorias da região defendem a continuação do decreto de quarentena. Para os sindicalistas, o fim do isolamento físico pode provocar onda de contaminação, principalmente para os moradores do Grande ABC que precisam se deslocar para a Capital para trabalhar.

“Acredito que nenhuma medida de flexibilização deveria ser adotada sem a recomendação da OMS (Organização Mundial da Saúde). Deveríamos estar em um cenário de declínio de contágio e também de mortes. Mas não estamos em condições de fazer isso, pois o que existe é aumento dos números. A diferença para outros países que vêm fazendo isso (reabertura) é que este não é o momento de flexibilização”, afirmou o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana, o Wagnão.

De acoreo com o sindicalista, há muitas pessoas na região que trabalham na Capital. “Não existem muros nas cidades. Temos diversas pessoas que vão trabalhar na Capital e nas demais cidades, o que facilita o contágio”, afirmou.

O presidente do Sindicato dos Químicos do ABC, Raimundo Suzart Lima, também afirmou que os casos na região têm aumentado. “É muito perigoso, neste momento, colocar muita gente na rua e os espaços sem controle. O mais importante é salvar vidas”, disse.

“Com relação à flexibilização, é uma medida equivocada no momento em que a pandemia não está controlada e o sistema de saúde continua sobrecarregado. O governo deveria anunciar medidas de acesso ao crédito para incentivar os setores econômicos a manter a quarentena e aumentar o isolamento das pessoas”, afirmou o presidente do Sindicato dos Bancários do ABC, Belmiro Moreira. Segundo ele, a medida deve agravar ainda mais a situação de contágio na região, por causa da interligação. YF




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