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Estudo mostra que médicos vivem no fio da navalha
Elaine Granconato
Do Diário do Grande ABC
27/04/2002 | 16:37
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A precariedade do sistema de saúde pública, o excesso de demanda, a falta de materiais básicos nas unidades hospitalares, os plantões extenuantes e a má remuneração são fatores que colocam os médicos entre os profissionais mais propensos ao estresse. Estudos e pesquisas recentes de entidades acadêmicas, entre elas a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), apontam que esses profissionais, principalmente entre 40 e 50 anos, são os que mais adoecem com problemas cardiovasculares. Os cirurgiões, além de serem os campeões em separação conjugal, são os que mais sofrem infartos e morrem precocemente.

Para Sérgio Nicoletti, 55 anos, diretor do Departamento de Serviços da Associação Paulista de Medicina e professor-adjunto da Unifesp, os médicos estão cada vez mais submetidos a situações de trabalho extenuantes. “Existe hoje muito médico doente e estressado”, afirmou o cirurgião, que também é ortopedista e fisiatra. Os motivos apontados pelo profissional são diversos: sedentarismo, excesso de horas de trabalho, condições inadequadas e até mesmo lugares de segurança arriscados.

A profissão de médico, por si só, já é altamente estressante. “Não podemos errar. Afinal, lidamos com vidas e, eventualmente, com a morte, algo muito desgastante. Sem falar que a nossa atenção e raciocínio são exigidos no atendimento ao paciente”, disse o cirurgião e obstetra Gilberto Archêro Amaral, 45 anos, diretor da SPTM (Sociedade Paulista de Medicina do Trabalho) e especialista em medicina do trabalho.

Segundo as pesquisas, clínicos e anestesistas também estão entre os profissionais que mais sofrem com o estresse, principalmente os que trabalham em ambulatórios e hospitais da periferia. “Sem dúvida, o estresse é um fator fundamental nas doenças psíquicas, gástricas e cardiovasculares que atacam os profissionais dessas especialidades”, afirmou o médico José Erivalder Guimarães de Oliveira, 50 anos, presidente do Simesp (Sindicato dos Médicos do Estado de São Paulo) e especialista em medicina do trabalho.

Regras – Preocupados com o adoecer dos médicos, profissionais da área médica criaram recentemente a Resolução nº 90, que aborda a saúde ocupacional desses profissionais. A legislação, criada a partir de uma reunião na Câmara Técnica do Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Trabalho), dá ênfase aos aspectos psicossociais relacionados ao exercício cotidiano da medicina e focaliza a prevenção dos riscos biológicos, químicos, físicos e ergonômicos para o profissional da área de saúde.

Em linhas gerais, a resolução demonstra que o médico não deve ir além de suas forças. A redução das jornadas de plantões, por exemplo, aumenta a quantidade de ofertas de trabalho. Para complementar os rendimentos, segundo o diretor da SPTM, o médico atua hoje em vários empregos. “A situação é extremamente desgastante, o que coloca em risco a sua saúde e a dos pacientes”, afirmou Amaral. A legislação ainda proíbe que o médico dobre um plantão de 24 horas e determina que tenha condições de conforto, como local para repouso, alimentação, higiene pessoal e necessidades fisiológicas.




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