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Dicionários divergem sobre acordo ortográfico
Por Adriana Ferraz
Do Diário do Grande ABC
05/10/2008 | 07:05
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Nem Aurélio nem Houaiss. As novas regras da Língua Portuguesa, sancionadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na última terça-feira, causam dúvidas até em lexicógrafos (autores de dicionários). As duas publicações mais usadas pelos brasileiros apresentam divergências na grafia de algumas palavras contempladas pelas novas regras. Afinal, os atuais prefeitos poderão ser reeleitos ou re-eleitos? E, os livros didáticos? Terão de ser reeditados ou re-editados? Os famosos dicionários respondem cada um à sua maneira.

A dúvida deve ser sanada, em novembro, quando a Academia Brasileira de Letras divulgar novo Volp (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa). A publicação é feita periodicamente, mas desta vez, há expectativa de todo o mercado, que aguarda as definições para a revisão de produtos literários. Até o governo resolveu esperar a lista oficial.

"Para o Ministério da Educação, a compra de dicionários, por enquanto, não é apropriada. Vamos lançar o edital ano que vem e, se a publicação não estiver correta, será reprovada", disse o diretor de ações educacionais do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação), Rafael Torino.

Pela conta do governo, serão comprados até dez milhões de dicionários, para uso de 37 milhões de alunos. O investimento está avaliado entre R$ 70 milhões e R$ 90 milhões. Gasto considerado dispensável para especialistas em Letras. "Toda a classe é contra esse acordo. José Saramago (escritor português premiado com o prêmio Nobel de Literatura em 1998) já declarou que não mudará sua maneira de escrever. Essa reforma só vai dar trabalho e à toa. Não adianta impor esse acordo por lei. Qual será a sanção, por exemplo, para quem não aceitar? Nenhuma", afirmou o professor de Lingüística da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo, Bruno Dalari.

Pelo decreto, a padronização passa a valer em janeiro de 2009. A total adaptação de documentos, porém, tem prazo estendido até 2012, quando todos os livros escolares, por exemplo, terão de ser escritos de acordo com a norma, válida para países da CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa): Brasil, Portugal, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Timor Leste.

Discutida desde 1990, a reforma atinge cerca de 0,8% das palavras adotadas no Brasil e 1,3% das usadas em Portugal. Aqui, a mudança mais radical é a extinção do trema. Sinais, agudos e circunflexos, além do hífen, também serão modificados.

Ao assinar o acordo, Lula afirmou que o Brasil está num processo de reafirmação de suas raízes mais profundas. O presidente disse que a medida tem significado estratégico na cooperação entre os países lusófonos. Para o doutor em Letras pela USP (Universidade de São Paulo) e autor do livro O Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, Maurício Silva, a unificação de culturas não depende deste acordo.

"Ortografia não é um elemento de dissidência. Sou contra, mas principalmente pelas lacunas deixadas pelo decreto. Se nem os dicionários chegam a um consenso sobre as regras, imagine o que vai acontecer com os livros didáticos?"




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