Setecidades Titulo Coluna
Dos porões do inferno
Por Rodolfo de Souza
24/10/2019 | 07:00
Compartilhar notícia


Assisti noutro dia a um filme que conta a história de seres que habitavam, tempos atrás, a escuridão. Eram débeis criaturas que, apesar de débeis, alimentaram durante muito tempo um projeto ambicioso: tomar posse de uma das maiores nações do planeta e escravizar o seu povo.

E, a despeito de toda limitação, eles sempre souberam que para tocar em frente o seu intento necessitariam do apoio de alguém. Mas de quem? Reuniram-se, pois, uma infinidade de vezes, para discutir o assunto e talvez chegar a uma conclusão acerca de quem viria tal ajuda. Foram discussões acaloradas que visavam traçar estratégias para o golpe certeiro que haveria de colocá-los no poder daquela terra. Tencionavam, inclusive, arruiná-la, porque maldade é o seu passatempo predileto. Venderiam, pois, suas maiores empresas para o capital estrangeiro, queimariam suas florestas, derramariam óleo nas suas mais belas praias, promoveriam o desemprego em massa, destruiriam previdência, saúde e a educação daquela boa gente, disseminando mentiras e intrigas todo o tempo. Enfim... Promoveriam todo o tipo de arruaça que, a seu ver, se configuravam justas e boas medidas.

Talvez o talento para a patifaria venha mesmo da consciência de sua origem torpe, que fez daquelas pessoas entidades abjetas tomadas pelo rancor e pela frustração. Bestas nascidas unicamente para odiar tudo que é belo e sensível. É notório, pois, o apetite que sente um urubu diante de uma iguaria à base de carniça. Da mesma forma é o sentimento daquelas tristes figuras com relação à ruína de um povo. Alimentam-se disso, afinal.

Por esta razão, não economizaram entusiasmo para levar a cabo o seu projeto. Estavam determinados a tomar aquele vasto quintal e transformá-lo num território bem adaptado ao seu aconchegante meio lá das profundezas. Só para se sentirem em casa, sabe? E assim, apesar de soar cansativo demais arquitetar tramoias e mais tramoias, dada sua pouca ou nenhuma afinidade com a arte de pensar, se lançaram ao trabalho, certos da vitória.

A ideia de tomar posse daquele imenso pedaço de chão, tentadora que só vendo, surgiu também porque descobriram, nas muitas observações que fizeram, a inteligência precária de um determinado segmento da população dali, que sem dúvida seria fundamental para levarem adiante o seu plano. Sem esse povo, de muitíssima afinidade com o lado obscuro do universo, definitivamente não seria viável empreitada de tal monta.

E, depois de muito empenho, tudo resultou satisfatório para os seres da escuridão, que se mudaram de mala e cuia para o país dominado, levando-o à ruína como era desejo seu. Fartaram-se e lambuzaram-se praticando, com plena liberdade, todo o tipo de trapaça ao seu alcance.

Até que um dia, depois de transcorrido tempo considerável, as hordas governantes começaram a se estranhar. Todos, sedentos pelo poder e corroídos pela ganância e pelo egocentrismo agudo, passaram a atirar pedras nos telhados uns dos outros. E, porque não havia ali teto que não fosse de vidro, os estilhaços se espalharam para todos os lados. Imagine, demônio acusando demônio pela sua má conduta frente a uma conjuntura que as pessoas, com um mínimo de bom-senso, previram o surgimento quando as primeiras levas deixaram suas tumbas e correram para as telas.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;