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Dinheiro de expropriação do Hospital Nardini para na Justiça

Família do idealizador do equipamento de Mauá tenta reaver parte de verba paga pelo Estado para obter o complexo, em 1985

Raphael Rocha
Do Diário do Grande ABC
21/10/2019 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


Filho único do médico Radamés Nardini (1916-1983), que dá nome ao maior hospital de Mauá, localizado na Vila Bocaina, Antônio Carlos Nardini ingressou com ação judicial na tentativa de descobrir o paradeiro de parte do dinheiro pago pelo governo do Estado na expropriação do imóvel nos anos 1980.

O equipamento começou a ser construído em 1976, idealizado por Radamés Nardini. A obra foi viabilizada em apoio com outros cinco sócios. Nardini morreu em 1983, três anos antes do início das operações. Em 1985, porém, o então governador Franco Montoro (1916-1999) decidiu comprar o complexo hospitalar e pagou 3,8 bilhões de cruzeiros – em conversão simples e com correção da inflação pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) do período, o montante equivale a R$ 6,72 milhões.

Assinaram o documento de expropriação – ao qual o Diário teve acesso – Alcindo Tavernaro, João Takashi Higaki, Carlos Augusto Loureiro Brandão, Jorge Yamashiro e Massashi Miyake, por parte do hospital. A ata lavrada no 9º Tabelionato de Notas, no Centro de São Paulo, no dia 30 de dezembro de 1985, conta com rubrica de Leonel Damo, então prefeito de Mauá.

Antônio Carlos Nardini disse que imaginava que o hospital havia sido doado ao Estado – hoje está sob responsabilidade do município, que luta para devolver a gestão ao Palácio dos Bandeirantes –, porém, descobriu que houve transação financeira nos anos 1980. “Fui atrás para saber onde estaria esse recurso. Falaram que poderia estar depositado em juízo (a parte referente a Radamés Nardini), mas, neste depósito, não constava mais nada”, disse. “Se fosse doado, não haveria problema, esse era um desejo do meu pai, inclusive. Descobrimos (a verba) só quando fomos fazer o inventário da minha mãe (Matilde Bertolli Nardini).”

Filho do renomado médico, que atuou em Santo André e Mauá entre os anos 1950 e 1980, Antônio Carlos garantiu que não é somente a parte financeira que o motivou a ingressar com essa ação judicial. Ele argumenta que o hospital, inaugurado em 1985 como um dos mais modernos do País, passa por interferências políticas e más gestões que correm o nome até mesmo de seu pai.

“Eu sou administrador da área da saúde, professor da área, e sempre falo aos meus alunos que é preciso fazer política da saúde, não na saúde. Infelizmente, o que vemos no hospital é sucessão desse problema. Há descaso total para um equipamento que era para ser referência no Brasil. E não falo mal do pessoal que trabalha lá, que faz das tripas coração para mantê-lo funcionando”, discorreu.

A mágoa com a falta de zelo com o Hospital de Clínicas Doutor Radamés Nardini é tamanha que Antônio Carlos pensa em entrar com pedido de revogação do decreto que concedeu o nome de seu pai ao complexo hospitalar – por iniciativa do então deputado estadual Israel Zekcer, o ex-governador Orestes Quércia (1938-2010) acatou a sugestão.

O Diário não localizou antigos sócios e seus herdeiros para comentar o caso. 




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