Economia Titulo Dieese
Renda da região é 52% menor que salário ideal

Remuneração básica deveria ser de R$ 3.980, que é quatro vezes maior do que o piso nacional

Por Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
05/10/2019 | 07:28
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Pixabay


O salário mínimo necessário para o sustento de uma família de quatro pessoas deveria ser de R$ 3.980,82. O piso nacional, no entanto, hoje de R$ 998, é quatro vezes menor. A renda média do trabalhador do Grande ABC, de R$ 1.911,16, conforme dados da pesquisa socioeconômica da USCS (Instituto de Pesquisas da Universidade Municipal de São Caetano), é 52% inferior ao que o valor ideal.

A estimativa do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) divulgada ontem se refere ao mês de setembro. O valor é calculado com base no preço da cesta básica mais caras em 17 capitais.

De acordo com o coordenador do curso de administração do Instituto Mauá de Tecnologia, Ricardo Balistiero, o estudo é importante para mostrar o quanto a remuneração básica está defasada e também exemplificar as desigualdades econômicas do País na questão da renda. Porém, ele destacou que há dificuldades em se pagar um salário deste valor, principalmente devido à crise.

“O primeiro impacto disso seria inflacionário, e isso acabaria se voltando contra a população mais pobre, que toda vez que a inflação sobe é aquela mais prejudicada. Nós também não temos produtividade suficiente no Brasil para poder absorver um salário mínimo de R$ 4.000”, disse.

Segundo o especialista, outro fator é que “as contas públicas não aguentariam”. “Cada real de aumento do salário mínimo representa valores próximos a R$ 300 mil em despesas públicas e, um aumento como esse, geraria bilhões de despesas públicas extras de um orçamento que já está quebrado”, afirmou. Mesmo assim, ele conclui que, atualmente, “o salário (mínimo) é de subsistência, e não possibilita uma vida de consumo e grandes conquistas”, afirmou Balistiero.

Teve início em 2011 política de aumento real para o piso do trabalhador pelo governo federal, onde, além da correção da inflação, o cálculo levava em conta o PIB (Produto Interno Bruto) dos dois anos anteriores. No fim do ano passado, o governo anunciou o fim da fórmula, reajustando o valor apenas pela inflação do período. A expectativa é que em 2020 a quantia mínima paga seja de R$ 1.040, se o Congresso Nacional aprovar e passar pela sanção presidencial.

Para a família da auxiliar de limpeza Aurenir Ferreira Sales, 55 anos, moradora de Diadema, o valor faria toda a diferença no orçamento. Atualmente ela recebe R$ 1.100 de salário líquido (que, com os descontos, fica cerca de R$ 850), mesmo valor que a filha.

“Se eu ganhasse esse salário (R$ 3.980,32), com certeza gostaria de comprar uma casa em um lugar melhor, além de ajudar bastante aqui nas compras do dia a dia”, afirmou. Atualmente ela, que mora com mais quatro pessoas da família, divide com a filha as despesas. “O meu genro está desempregado e faz bicos, assim a gente faz uma compra no supermercado para dividir com todo mundo. Se o mínimo fosse essa quantia, sem dúvida conseguiríamos viver melhor.”

No valor bruto, a família ainda ganha menos (são dois salários de R$ 1.100 ou, aproximadamente, R$ 1.700 sem descontos) do que a remuneração média do trabalhador da região, que é R$ 1.911,16, segundo a pesquisa socioeconômica da USCS. Este montante despencou 33% entre o fim de 2014 e o início de 2017, já que era de R$ 2.825,97. Ou seja, com diferença de R$ 914,81 – quase um salário mínimo.
 




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