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Combate à Aids deve ser permanente

Apesar de queda nos novos casos na região, doença ainda cresce entre os jovens; especialista alerta para necessidade de prevenção

Bia Moço
Do Diário do Grande ABC
01/12/2018 | 07:00
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Qualidade de vida é possível quando se fala na temida Aids, doença causada pela infecção do vírus da imunodeficiência humana – conhecido popularmente como HIV. Embora a patologia já tenha sido motivo de pânico em todo o mundo, os avanços na medicina proporcionam um novo cenário a quem contrai a enfermidade. Isso porque ações de combate à doença – cujo dia de luta é celebrado hoje –, ofertadas pelas redes de Saúde, proporcionam tratamento gratuito e eficaz, não só na região, mas em todo o Brasil.

Apesar do avanço em relação ao tratamento, o cenário não é de tranquilidade quando se fala em novos casos. Embora os registros de Aids em quatro cidades da região (Santo André, São Bernardo, Mauá e Ribeirão Pires) tenham apresentado queda de 11,6% entre 2016 e 2017, aumentou a incidência da doença no público jovem – de 15 a 24 anos – em 11,4% no mesmo período, com prevalência entre homens homossexuais. As demais cidades não informaram.

Os novos casos totais de Aids (doença desenvolvida quando a infecção pelo vírus HIV acarreta desgaste do sistema imune) reduziram de 231 para 204. Já entre os jovens, passaram de 35 para 39, representando 19,1% dos novos casos em todas as faixas de idade – praticamente um a cada cinco infectados.

O casal homoafetivo Lucas, 29 anos, e Carlos, 33 (nomes fictícios), descobriu a doença em 2015, quando Lucas apresentou manchas corporais que se assemelhavam a uma alergia. “A princípio, fui diagnosticado com alergia de refrigerante de uva. Mas mesmo fazendo tratamento com antialérgico, dez dias depois, cada vez mais erupções pelo corpo apareciam.”

Lucas buscou na internet e viu que os sintomas correspondiam aos do vírus HIV. Com “muito medo”, procurou pela rede municipal de São Caetano, já que mora no município, onde realizou o teste. O resultado foi positivo. “Meu companheiro teve relacionamentos antes de mim e também sabia que tinha sido traído algumas vezes. Na hora pensei que só poderia ser daí que o vírus havia surgido. Entreguei o resultado nas mãos dele e pedi que ele também fizesse o teste”, relembrou.

Carlos seguiu o conselho e também recebeu o resultado positivo, inclusive com índice de contaminação maior do que o do parceiro. Enquanto Lucas apresentava 6.000 linfócitos – que indicam o vírus –, Carlos estava com 3 milhões. “Ficamos em estado de choque. Mas conversamos com a psicóloga da rede de Saúde e ela nos explicou como funcionaria o tratamento e que hoje em dia a doença é altamente controlável. Estamos juntos até hoje, felizes. Levamos vidas normais”, explicou Lucas.

O casal utiliza medicação específica que é fornecida gratuitamente pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Ambos comemoram a mais recente avaliação médica pela qual passaram, em outubro, quando receberam a notícia de que podem realizar a testagem daqui um ano. “O teste já aponta sorologia negativa para a Aids. Claro, ainda temos o vírus, mas já está indetectável e controlado nos dois. É uma grande conquista”, comemorou Carlos.

PRECONCEITO
Embora o casal tenha qualidade de vida, decidiu manter sigilo sobre a doença, vista por eles como tabu. Lucas e Carlos vivem em união estável, trabalham e estão relativamente saudáveis. No entanto, têm medo do preconceito. Segundo Lucas, os amigos, inclusive ligados aos movimentos LGBTI+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Intersexuais e Outros), costumam fazer brincadeiras maldosas com quem é acometido pelo HIV, dizendo que “está com a tia”. “Não queremos ter estereótipos ligados a nós. Todos convivem conosco normalmente e, se souberem da doença, não sei como reagiriam. Acredito que muitos amigos ficariam do nosso lado, mas não dá para arriscar”, lamenta.

A família dele, religiosa, custou a aceitar sua identidade sexual e o relacionamento com Carlos. Embora o casal tenha boa convivência com parentes, acha que o vírus seria divisor de águas. “Não aceitariam (família). É melhor viver escondendo e seguir em frente. Temos esperança que um dia esses preconceitos, tanto com o grupo LGBTI como com a Aids, acabem.”

ESTADO
Segundo a Secretaria de Saúde, a mortalidade por Aids no Estado de São Paulo caiu cerca de 75% em pouco mais de duas décadas. A maior taxa da história ocorreu em 1995, quando foram registrados 7.739 óbitos, índice de 22,9 mortes por 100 mil habitantes.

DIAGNÓSTICO
Segundo especialistas, é possível viver com Aids e ter qualidade de vida por um conjunto de fatores. O principal deles é o diagnóstico precoce. A partir do momento em que no exame consta HIV positivo, quanto mais cedo tratar, melhor para a longevidade da pessoa.

Professor de Infectologia da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC), Juvencio Duailibe Furtado destaca que é preciso diagnosticar e tratar a doença o quanto antes. “Diferentemente de 30, 20, dez anos atrás, os medicamentos atuais são extremamente confiáveis em relação aos efeitos colaterais. Os remédios têm maior resistência genética – que influencia no quanto o vírus resiste ao medicamento – então quanto maior a resistência genética do remédio, melhor ele vai agir no organismo.”

Como toda doença, ainda há o lado negativo. “A população acometida pela Aids acaba interpretando de maneira errônea o que o medicamento faz. Pensam que por estarem com o vírus controlado, estão livres dele, e não é isso. Ainda estão contaminados e sempre estarão. Ainda transmitem.”

O especialista destaca que os jovens, de maneira geral, não usam preservativos, o que faz com que a doença continue aumentando. Furtado ressalta que, apesar dos avanços da medicina, é preciso lembrar que a Aids é uma doença incurável.


Grande ABC oferece testagem e tratamento gratuitos

Para evitar novos casos de Aids, as sete cidades realizam campanhas sobre relação sexual com segurança e distribuem preservativos nos postos de Saúde. Aos que convivem com o vírus, a rede municipal oferece testagem e acompanhamento para tratamento da doença, com distribuição de medicamentos e profissionais destinados ao atendimento, inclusive psicólogos.

Em Santo André, programa traça estratégias de política pública de controle das doenças sexualmente transmissíveis no âmbito da prevenção primária. Já o atendimento ao tema é feito no Armi (Ambulatório de Referência em Doenças Infecciosas).
O programa de São Bernardo funciona na Policlínica Centro. O serviço está direcionado à população que deseja realizar testes e receber orientação sobre HIV, sífilis e hepatites B e C.  

Mauá oferece o programa pelo CRS (Centro de Referencia e Saúde em IST – Infecções sexualmente transmissíveis –, Aids e Hepatites Virais), que é a unidade de referência para diagnóstico, tratamento, prevenção e articulação da rede e parceiros na ação. 

Diadema promete para 2019 a estruturação de ambulatório para pessoas transexuais, além do atendimento já realizado.

Ribeirão Pires irá ampliar a oferta de testes rápidos nas unidades de atenção básica no próximo ano. Rio Grande da Serra realiza os testes nas unidades de Saúde. 




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