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A força dos encontros

Longa ‘Legalize Já’, que estreia quinta no cinema, fala sobre o início do Planet Hemp

Por Daniela Pegoraro/Especial para o Diário
15/10/2018 | 07:09
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Divulgação


O bairro da Lapa, no Rio de Janeiro, serve de pano de fundo para uma realidade sofrida, sem oportunidade, dinheiro ou ambição. E foi nas suas imediações, nos anos 1990, que o caminho de dois jovens se cruzou por acaso, o que mudou de vez o futuro de ambos e do cenário da música brasileira. Cansados de suas realidades e movidos pela paixão artística, naquele momento foi dado início a uma das bandas mais conhecidas e renomadas de rap e rock do País, o Planet Hemp . O filme Legalize Já – Amizade Nunca Morre, que estreia quinta nos cinemas e conta a história da relação de Marcelo D2 (Renato Góes) e Skunk (Ícaro Silva), que, entre sonhos e tragédias, provou-se forte o suficiente para alcançar o que, até então, parecia inimaginável. “É um trabalho que foi feito com muita paixão. Não acho que é um filme exclusivamente para os fãs, é para todos. Ele fala sobre a força dos encontros, do poder que isso tem em nossas vidas”, conta o ator Ícaro Silva, natural de São Bernardo.

Embora o nome de Skunk tenha ficado tão pouco tempo na formação da banda por conta de sua morte precoce por ser portador do vírus HIV, é inegável que sem sua persistência e paixão o Planet Hemp não teria existido. O longa expressa esperança de que as coisas darão certo, mesmo quando tudo der errado. Conhecer ou não a banda não é pré-requisito para assistir ou se emocionar com a história. “Não queria fazer meramente um filme sobre o Planet Hemp, para isso um documentário serviria. Quis trazer essa questão da amizade, dos vínculos que temos com os outros”, explica o diretor Johnny Araújo, que assina a produção com Gustavo Bonafé.

A questão da indústria fonográfica é algo que se encontra sempre presente. Os protagonistas se encantam pela arte, descobrem e exploram sonoridades, letras e arranjos – que anos depois renderia à banda mais de 140 mil cópias vendidas e um disco de ouro pelo primeiro álbum, Usuário. Ao mesmo tempo, sofrem com a necessidade de conseguir dinheiro suficiente para sobreviver e com a dificuldade de inserção no meio musical. Essa trama inteira se passa em uma composição de paleta dessaturada, quase sem cor. “Tivemos uma preocupação de dar a impressão de voltar aos anos 1990, ao mesmo tempo em que aquela época não se diverge muito da que vivemos agora. Essa falta de saturação representa justamente a aridez de tempos difíceis, falta de dinheiro e opção que dois meninos enfrentaram”, esclarece Araújo.

Embora o título do filme remeta a uma das músicas do Planet Hemp e automaticamente faça lembrar da questão da legalização da maconha, em uma das cenas o próprio personagem Skunk elucida que é sobre desmarginalizar a vida. “Tivemos resistência por conta do nome. O filme é atemporal, fala sobre discriminação, mas é também um grito de liberdade”, comenta o produtor Paulo Schmidt, relembrando que a obra passou por um longo processo para conseguir ser produzida. Foram dez anos desde o início do projeto, sendo que as gravações só se deram em 2016. “Não é sobre maconha, é sobre amor. As próprias músicas da banda são mais políticas do que sobre a droga”, explica o ator Renato Góes.

Passar para a tela uma história real não é uma tarefa fácil, e talvez Legalize Já tenha sido bem-sucedido justamente por não se prender meramente em imitar a realidade, mas dar releitura sensível ao acontecido. Ícaro Silva, por exemplo, não tinha nenhuma referência de como era o seu personagem, Skunk. Por ter morrido antes da banda decolar nas paradas de rádio, são poucos os materiais disponíveis do músico. “Muito do Skunk tirei do próprio Marcelo. É notável que ele ainda está vivo e presente no brilho do olhar do amigo. Também tenho comigo a força dos anos 1990 e dessa repressão policial sofrida pelo personagem, visto que cresci na periferia de Diadema”, explica o ator.

Já para interpretar o Marcelo D2, figura viva e presente no imaginário brasileiro, a tarefa foi diferente. Renato Góes conta que foi um processo de oito meses de preparação. Chegou a morar no bairro em que o personagem residia, trabalhou no sotaque e, até mesmo, montou uma banda para tocar apenas músicas do Planet Hemp. “Foi a coisa mais difícil que fiz na minha vida, e também a mais prazerosa”, comenta Góes. Todas as canções presentes no filme, inclusive, foram gravadas pelos próprios atores.

Marcado pelas icônicas batidas das faixas da banda, como Phunky Budda e Futuro do País, o longa apresenta o que está nos bastidores do sucesso, o suor, insistência e amor de quem batalha para viver no mundo da música. A história de Skunk e Marcelo D2, independentemente de gosto musical, vale a pena ser conhecida.  




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