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O desafio de humanizar as cidades

Natália Garcia, uma jovem jornalista brasileira de 27 anos, decidiu que vai dedicar-se a procurar boas ideias

Por Wilson Marini
04/07/2011 | 00:00
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Natália Garcia, uma jovem jornalista brasileira de 27 anos, decidiu que vai dedicar-se a procurar boas ideias sobre como podem as áreas urbanas tornarem-se melhores para os seus moradores. Um roteiro de 12 cidades já foi traçado e a viagem pelo mundo começou por Copenhague, capital da Dinamarca, no início de maio, segundo revela reportagem do jornal português Público, publicada no dia 24 de junho. O tour pode ser acompanhado pelo site que ela criou com essa finalidade, www.cidadesparapessoas.com.br
É paradoxal que o site tenha esse nome, porque as cidades, em sua essência, foram feitas exatamente para reunir as pessoas e deveriam ser construídas e planejadas com prioridade para a vida e a evolução humana em todos os sentidos. "Cidades para pessoas" bem que poderia ser um título redundante. Mas não o é, se for considerado o quadro caótico vivido pela maioria delas em todo o mundo. E o Interior Paulista não é exceção. Ao contrário, acompanha as tendências do novo mundo, boas e ruins.
Sufocadas pelo automóvel e a poluição, dominadas pelo medo, com pouco verde e desequilíbrio ambiental, e crescendo de tamanho de forma descontrolada, as cidades em sua maioria se tornam cada vez mais desumanas. As áreas urbanas cada vez mais globalizadas, verticais e extensas, oferecem o abrigo e o conforto material, mas em troca impõem transtornos diários que se manifestam em violência e estresse. Aumenta a expectativa de vida cronológica das pessoas, mas que vida é essa?
A qualidade é questionada em todos os cantos. Nas formas de urbanismo se encontram atualmente os maiores gargalos das populações de nossas cidades. O desafio maior é não apenas saber como enfrentar os problemas atuais, mas sobretudo como deter o seu avanço, e, ainda mais complexo, de que forma prevenir a degradação da qualidade de vida ao longo desta e das próximas décadas..

Arquiteto
É um sonho, mas Natália vai fazendo a sua parte. Na entrevista que deu ao jornal português, conta que o seu projeto começou quando resolveu experimentar locomover-se de bicicleta na capital paulista. Estava "exausta de ficar parada no trânsito", muitas vezes quatro horas por dia. Então, começou a interessar-se por questões ligadas à ocupação do espaço público. A escolha das áreas urbanas a visitar foi feita depois de conhecer o trabalho de Jan Gehl, um arquiteto dinamarquês que há várias décadas vem se notabilizando na área do planejamento urbano e na introdução de soluções para proporcionar aos habitantes das cidades uma melhor qualidade de vida, especialmente conquistando espaço para os ciclistas.
Discípulo da ativista americana Jane Jacobs, autora de "Morte e Vida nas Grandes Cidades", Jan Gehl, aos 70 anos de idade, a maior parte dos quais dedicados ao planejamento urbano, tenta encontrar soluções para o uso racional das cidades. Os congestionamentos no trânsito não seriam, segundo ele, causa mas sintoma de mau planejamento urbano. Por exemplo, impedir simplesmente o trânsito de carros em uma importante avenida da cidade não resolverá o problema, mas pode melhorar a vida das pessoas que circulam por essa via e devolver à cidade, ainda que em apenas alguns pontos, uma das funções que ele acredita ser primordial: a convivência entre as pessoas. E assim começam a brotas ideias, que muitas cidades colocam em prática.

Exemplos
Até maio de 2012, Natália pretende visitar locais apontados pelo arquiteto como "exemplos de cidades para pessoas", ou pelo menos cidades que tentam soluções pontuais para que se tornem mais agradáveis. De início, ela foi conhecer Curitiba, que criou um sistema de transporte público em que os ônibus circulam por vias expressas exclusivas, o "ligeirinho". Há controvérsias locais, mas não deixa de ser motivadora a ideia para quem enxerga de fora.
Depois de Copenhague, virão Amsterdã, Londres, Paris, Lyon, Barcelona, Sidney, Melbourne, São Francisco, Nova Iorque, Portland e Cidade do México. Ela permanecerá durante um mês em cada uma delas. Os depoimentos em vídeos e as fotografias em Copenhague podem ser vistos no site ou em sua página na rede social do Facebook. A expectativa dela é que cada cidade tenha "uma história diferente para contar", mas pretende descobrir exemplos positivos que possam "inspirar" os moradores e agentes públicos.

Congestionamento
"Estou conseguindo chegar onde eu queria, que é perceber que é possível adaptar boas práticas à realidade brasileira", diz ela.  De Copenhague, Natália tirou uma série de ensinamentos, como o de que é possível dar uma nova vida a espaços antes pouco utilizados como os canais ou o de que se pode andar de bicicleta em grandes cidades sem que isso represente um perigo.
Diz ela no blog: "Quantas vezes você passou mais de uma hora preso no trânsito? Ou ficou até mais tarde no escritório para evitar o congestionamento de volta para casa? Ou ainda deixou de passear num sábado à tarde de sol porque "até chegar lá e achar lugar para parar o carro...". Isso sem contar o dilema entre alugar um apartamento perto do trabalho, só que caro, ou um mais afastado e em conta, mas que demande por volta de uma hora de deslocamento. Os problemas das grandes metrópoles se repetem em diversas cidades do mundo. Mas como tornar uma cidade melhor para seus moradores?".

Catarse
O projeto Cidades para Pessoas está sendo financiado pelo dinheiro que arrecadou (cerca de 11.200 euros) por meio do site www.catarse.me, criado para ajudar quem tem uma ideia a encontrar quem esteja disposto a apoiá-la monetariamente. No caso de Natália, 285 pessoas contribuíram e todas receberão algo em troca. Uma newsletter semanal sobre a experiência, um pôster sobre uma das cidades visitadas e um livro relatando toda a viagem. Para a única pessoa que contribuiu com "mil reais ou mais" (uma quantia superior a 400 euros) a brasileira promete uma recompensa especial: fazer o arquiteto Jan Gehl dar ideias de como ajudar a melhorar a região em que vive o benemérito.




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