De olho no transito Titulo
Fé em Deus e Pé na Tábua

Este é o nome do livro que será lançado pelo antropólogo Roberto Da Matta que mostra que o trânsito reproduz valores de uma sociedade moderna

Por Cristina Baddini
30/07/2010 | 00:00
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Este é o nome do livro que será lançado pelo antropólogo Roberto Da Matta que mostra que o trânsito reproduz valores de uma sociedade moderna, mas atrelada ao passado. Ele assessorou estudos feitos no Rio Grande do Sul que constataram uma contradição percebida facilmente por quem circula por ruas, avenidas e estradas. Para os motoristas gaúchos, os responsáveis pelo trânsito violento e incivilizado são sempre os outros, Mas, como interpretar as causas desta visão distorcida da realidade? Dos entrevistados, 69% disseram que não cometem imprudências ao volante.

Ficou demonstrado que o espaço de todos pertence a quem ocupar este espaço primeiro, com mais agressividade. Todo mundo é cidadão, todo mundo tem direitos, mas respeitando a igualdade do outro. E é exatamente o que caracteriza o trânsito. Por quê? Porque pessoas que estão submetidas às regras das vias públicas brasileiras e do espaço público brasileiro, em geral, não aprenderam a ser igualitárias. A igualdade para nós é menos importante do que a liberdade.

Hierarquias bem definidas

Obedecer no Brasil é um sintoma de inferioridade. É um aspecto que a pesquisa identificou. Quem obedece, quem segue lei no Brasil, é bobo, idiota. Como o estilo brasileiro de dirigir é agressivo, também fomos criados com uma visão da casa como inimiga da rua. É como se o mundo da rua não fosse regrado pelas mesmas regras de casa, que é a regra do acolhimento.

Lei Seca

No Brasil nós não preparamos a sociedade para as mudanças. Quando se discute a questão da igualdade, o fazemos de maneira retórica. Há uma elasticidade grande na cultura brasileira, que tem uma grande inércia. Você freia, mas o peso da tradição continua. A Lei Seca foi maravilhosa neste sentido, pois atingiu o comportamento da classe média. A Lei Seca provocou uma visão ambígua e paradoxal na classe média.

Os incomodados que se mudem

Não é verdade! Precisamos falar mais em equidade e ensinar mais igualdade além de praticá-la no cotidiano. Quem que tem carteira de motorista e já não passou muitos sufocos? Um carro que leva o retrovisor do outro carro e simplesmente vai embora. Motoristas que atropelam e não prestam socorro. Inconcebível! As pessoas quando estão dentro de um carro, parecem imaginar que estão dentro de uma bolha blindada ou algo parecido, e que só elas importam.

O cúmulo do egoísmo, por exemplo, é aquela situação onde alguém pretende mudar de faixa, observa que há uma boa distância do carro que vem vindo na faixa em que vai entrar, mas perceber que o outro carro acelera simplesmente para impedir a manobra pretendida e sinalizada. O que ele ganha com isso? Mas o contra-ataque vem com aquela tática incrível e imprudente para mudar de faixa quando o motorista primeiro joga o carro, depois liga a seta e assim o carro de trás não acelera e se houver batida pode-se argumentar que o carro estava dando seta.

Situações esdrúxulas como passar sobre as poças espalhando água suja nos pedestres que estão próximos são comuns mas intoleráveis. O pedestre é tratado como um cidadão de segunda classe. É a tal ‘Lei de Gérson'! Esse tema não tem fim, concordam? São tantos os absurdos que vemos por aí, tanto egoísmo, falta de delicadeza, agressividade e violência que nos fazem apenas sonhar com o dia em que veremos o trânsito deixar de ser uma selva com irracionais dirigindo carros!




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