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Entidades sociais sentem efeitos da crise
Por Isaac Ramiris ( * )
09/08/2009 | 07:02
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Se os economistas traçam um panorama positivo sobre a crise econômica para o setor empresarial, a mesma situação não acontece com as entidades sociais do Grande ABC. Creches, asilos, abrigos e entidades que prestam todo tipo de assistência social têm registrado a diminuição de doações de alimentos e, principalmente, de dinheiro, por parte de pessoas jurídicas.

A coordenadora técnica da Feasa (Federação das Entidades Assistenciais de Santo André), Maria Inês Villalva, observa que os estoques de alimentos de creches e asilos sempre estiveram repletos, mas a situação mudou desde o fim do ano passado. "A crise foi muita sentida e as despensas estão em baixa", afirma a assistente social.

A Feasa chegou a fazer campanha de arrecadação de alimentos com divulgação no Diário, mas o resultado deixou os organizadores perplexos: "Não chegou nenhuma doação", destaca Maria Inês.

SOBRAS - A presidente do Projeto Pequeno Cidadão, de São Bernardo do Campo, Valquíria Moraes, também afirma que a situação é preocupante: "No Brasil, a ideia de responsabilidade social é ajudar quando sobra e depois da crise não tem sobrado às pessoas e empresas, que pararam de fazer doações."

Segundo o coordenador- geral do Recanto Somasquinho, Francisco Augusto Bartolomeu Raposo, a creche que fica em Santo André e atende 210 crianças de 1 a 5 anos quase não conseguiu ovos de Páscoa. "Tínhamos sempre uma quantidade fantástica de doações e neste ano só conseguimos depois de muita insistência."

Na Entidade Todo Mundo Feliz, creche de Santo André que atende 50 crianças, diminuiu o número de sócios mantenedores, o que faz com que haja dificuldade para conseguir leite, alimentos em geral, materiais de papelaria e pedagógico (brinquedos e livros), segundo a coordenadora-geral Érica Nogueira Freitas da Silva.

Na Casa Lar Ebenezer, abrigo para crianças em situação de risco social, o problema não são os alimentos básicos, segundo o tesoureiro Ferna ndo de Souza. "As pessoas mais humildes, de baixa renda, continuam ajudando, com doações de alimentos. Mas as empresas que doavam dinheiro pararam de nos ajudar", conta.

SAÍDAS - Diante da diminuição de doações e contribuições, as entidades sociais procuram alternativas para não fecharem as portas. Segundo a coordenadora da Feasa, Maria Inês Villalva, embora cada entidade tenha seus eventos de arrecadação, esse tipo de apelo também está em baixa. "Ninguém aguenta mais chás, noite da pizza e festas, pois isso já está saturado", afirma.

O tesoureiro do Lar Ebenezer encontrou uma forma criativa de pagar as contas do abrigo: "Converso com os conhecidos que desejam ajudar e, em reuniões, dou a conta para as pessoas se cotizarem e pagarem."

Outras alternativas têm sido a criação de e-mails marketing, anúncios e organização de pequenos eventos. A coordenadora da Casa Lar Novo Rumo, Iolanda Maria da Silva, comenta sobre as estratégias utilizadas pela entidade de São Caetano. "É fundamental fazer com que as pessoas acreditem na idoneidade da instituição. Por isso, queremos atrair os cidadãos para que conheçam a casa e, assim, percebam as nossas necessidades."

Em Santo André, a Feasa (4436-7477) recebe doações, principalmente de fraldas geriátricas, leite em pó e gêneros não perecíveis. Também podem ser consultadas as secretarias de Inclusão Social: 4433-0190 (Santo André); 4126-3700 (São Bernardo) e 4228-8900 (São Caetano).

Situação pode piorar com aprovação de lei

Está em tramitação na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei 3.021/08, que pode piorar ainda mais a situação financeira de ONGs e entidades assistenciais. "Com a aprovação, muitas entidades vão fechar", afirma Maria Inês Villalva, coordenadora técnica da Feasa (Federação das Entidades Sociais de Santo André).

Ela esclarece que o projeto vai onerar as entidades com os encargos sociais dos funcionários que trabalhem em ‘atividades meio', ou seja, aquelas que não estão diretamente ligadas à assistência mas são fundamentais para a arrecadação financeira. É o caso, por exemplo, de uma entidade que tenha uma academia de ginástica e cobre da população para arrecadar fundos para a manutenção de uma creche. De acordo com Maria Inês, muitas entidades só conseguem se manter por causa da verba arrecadada com a prestação de alguns serviços.

(*) Aluno do terceiro ano de Jornalismo da Universidade Municipal de São Caetano do Sul, sob orientação da profa. Mônica Pegurer Caprino, coordenadora do Projeto Laboratório Olhar Social




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