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Medicina ABC: 18 são suspensos por trote violento
Artur Rodrigues
Do Diário do Grande ABC
30/03/2006 | 08:01
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Dezoito alunos da Faculdade de Medicina do ABC foram suspensos por quinze dias, acusados de envolvimento e incentivo ao trote violento. A decisão saiu depois de sindicância concluída nesta semana. Com o resultado, já são 20 alunos punidos pelos trotes deste ano, já que outros dois veteranos haviam sido penalizados anteriormente. “Tenho a impressão de que a lição não vai ser esquecida”, avalia o diretor da faculdade, Luiz Henrique Paschoal.

Pelo menos dez calouros do curso de Medicina deixaram a faculdade por causa dos trotes violentos. Boletins de ocorrência de lesão corporal e ameaça foram registrados no 4º DP de Santo André. Uma mãe indignada estapeou uma veterana. Alunos foram coagidos a ficar de cuecas e a tomar banho em uma piscina de lama. Antes da decisão da congregação da faculdade, segundo o diretor Paschoal, as conseqüências do trote chegaram ao ponto de um homem armado entrar no campus e ameaçar os veteranos. “Devia ser alguém chamado por um dos calouros”, desconfia o diretor.

Mas, para veteranos entrevistados pela reportagem, tudo não passava de uma “tentativa mesquinha de sujar o nome da faculdade”. Alguns calouros chegaram a ser “convencidos” a passar uma lista para diminuir a suspensão de alunos do sexto ano de 30 para sete dias. Conseguiram. O que não impediu que fossem “deserdados” pelos veteranos e impedidos de voltar a participar de ensaios da bateria da faculdade.

Divisão – Agora, segundo parentes dos calouros, a sala do primeiro ano está dividida entre alunos pró-trote e anti-trote. Os novos suspensos, segundo o diretor da faculdade, são alunos do segundo e terceiro ano. Marcados, os alunos que denunciaram o trote costumam ouvir xingos em todo canto. Uma menina que fez boletim de ocorrência por lesão corporal precisaria de acompanhante para ir e voltar da faculdade.

Os veteranos do curso de Medicina, quando contatados pelo Diário, sempre negaram a violência nos trotes. Diziam que o pedágio, organizado pela Atlética, era para angariar fundos para a Calomed (jogos universitários que reúnem calouros de várias faculdades do Estado). Seriam nove dias de pedágio por aluno. O que daria direito a participar dos jogos universitários.

As denúncias se estendem também para o curso de Farmácia. Um dos veteranos do curso, em seu álbum de fotografias do Orkut, tinha uma imagem dele com uma arma (ou réplica) na cintura. A legenda da foto era: “Olho na sintura (sic), calouro”.

Pisoteado – O Diário vem publicando as denúncias de trotes violentos na faculdade há um mês. A Polícia Civil utilizou foto em inquérito que ainda corre sobre o caso. Até o diretor chegou a ser chamado para depor. A reportagem entrevistou um rapaz que deu queixa no 4º DP de Santo André. Ele afirma ter sido humilhado e agredido por veteranos. Teve de pagar cerveja a veteranos e, durante uma das “brincadeiras”, teria sido pisoteado. “Estava fazendo flexões, quando um veterano chegou perto de mim, pisou nas minhas costas. Me desequilibrei e acabei me machucando”, lembra o rapaz, que deixou a faculdade.

O jovem pretende processar a faculdade. A mãe dele classificou o episódio como “tortura física e mental”. Além dele, uma moça teve insolação, após horas fazendo pedágio. Um rapaz ficou desidratado porque, segundo acusam calouros, os veteranos só dariam água quando conseguiam determinada quantia em dinheiro.

Depois dos episódios, o Diretório Acadêmico da Faculdade de Medicina do ABC promoveu um trote solidário na Creche Mei Mei, em Santo André. Quem havia passado pelo trote com exageradas doses de violência, promovido pela Atlética, parecia aprovar a mudança. Manutenção no parquinho, brincadeira com as crianças e uma festinha com doce, pipoca e refrigerante marcaram o trote.

Quarta-feira, enquanto alguns se lamentavam e outros comemoravam pela decisão da suspensão dos veteranos, ocorria mais uma etapa do trote solidário. Toda a instituição participou da doação de sangue promovida anualmente pelo Diretório Acadêmico e apoiado pela direção da instituição, uma das mais tradicionais do Estado.



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