Economia Titulo Mercado imobiliário
Crise econômica provoca explosão na oferta por aluguel comercial

Nas avenidas Goiás, Portugal e Rua Jurubatuba,
são encontrados 66 imóveis livres para locação

Por Fábio Munhoz
Marina Teodoro
13/03/2016 | 07:00
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André Henriques/DGABC


Quem passa pelas principais avenidas da região certamente não encontra dificuldade para avistar placas com os dizeres “aluga-se”. A oferta no mercado imobiliário comercial está cada vez maior e esse é um dos reflexos da crise econômica que afeta o País.

“É assustador! Todo mundo sai e a gente fica pensando até quando vamos resistir”, lamenta o proprietário do açougue Ofício da Carne, na Avenida Portugal, em Santo André, Alberto Nunes Fernandes.

A loja existe há 18 anos no mesmo local, mas o dono afirma que, se surgisse oportunidade de mudar, não pensaria duas vezes. “O aluguel está muito pesado. E com a saída dos outros comércios, e a péssima situação econômica que todo mundo está, nossa demanda já caiu 20%.”

Na mesma via, Vanessa Aparecida da Conceição banca de jornal há seis anos, e nunca viu tanta gente se evadir. “Perdi vários clientes fiéis por conta disso. Isso influencia no meu lucro, que teve queda de 20%”, lamenta. Só na Avenida Portugal, a equipe do Diário contou 25 imóveis comerciais para locação ou venda. Mas há lugares ainda piores. Na Goiás, em São Caetano, são 28 pontos vazios. A Avenida Dom Pedro II, em Santo André tem 25. As ruas Alegre, em São Caetano, e Jurubatuba, em São Bernardo, possuem 16 e 13 locais vagos, respectivamente.

Destaca-se a quantidade de concessionárias e lojas de móveis que fecharam as portas. Esses setores são alguns dos mais afetados pela crise, principalmente por trabalharem com produtos de alto custo e que dependem do crédito.

A grande oferta de aluguel gera boas oportunidades para alguns comerciantes, como explica Sandro Oliveira, gerente da Dell Anno. A loja, localizada na Avenida Portugal, está se mudando para um imóvel na Rua das Figueiras cujo aluguel é 30% mais barato.

PROPRIETÁRIOS

Para os donos dos imóveis, a situação também não é das melhores. Dono de 36 propriedades só em Santo André e São Bernardo, um empresário que não quis se identificar afirma que o mercado imobiliário está parado. “Lugares mais valorizados são os que mais temos perda e fica difícil de vender. Às vezes os locais ficam um ou dois anos sem nenhum inquilino. Os de maior preço são os mais atingidos”, relata.

“Até R$ 14 mil conseguimos negociar. Porém, mais do que isso já fica complicado”, exemplifica o dono de um imóvel para locação na Avenida Portugal que está há um ano vazio.

Outro empreendedor que não quis se identificar é dono de mais de 200 imóveis no Grande ABC, e percebe a dificuldade dos inquilinos. “É reflexo da recessão. Os comerciantes reclamam bastante, querem que a gente entenda e negocie. Mas a situação atinge todo mundo. A inflação, o desemprego, a conta de luz. Tudo também aumentou para mim. Não dá para ser muito flexível em meio à crise que estamos passando.”

O empresário Miguel Colicchio, o Guta, da Colicchio Imóveis, classifica o momento como “assustador”. “Não me lembro de uma época como essa, com tanto imóvel para alugar”, diz. Para ele, além da queda na renda, a situação é decorrente da falta de confiança na economia, que gera desestímulo aos novos investimentos.

Aparecido Viana, proprietário da Viana Negócios Imobiliários, segue a mesma linha. Segundo ele, a quantidade de pontos comerciais disponíveis para locação hoje é de três a quatro vezes maior do que em 2012. “Isso é fruto da instabilidade pela qual passa o País. Todo mundo prefere aguardar antes de tomar uma decisão. Com isso, o setor fica parado”, comenta o empresário.

Faturamento do varejo caiu 8% em 2015

As vendas do comércio no Grande ABC tiveram queda real (considerando a inflação do período) de quase 8% em 2015 na comparação com o ano anterior, segundo levantamento da FecomercioSP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo). Em números absolutos, a redução no faturamento foi de R$ 2,623 bilhões, passando de R$ 33,691 bilhões para R$ 31,068 bilhões.

Na comparação de dezembro de 2015 com o último mês de 2014, a receita foi 8,3% menor. Em relação a novembro, foi registrada elevação de 21,7%. Entretanto, o economista Guilherme Dietze, assessor da Fecomercio.SP, diz que não há motivo para comemoração. “Essa alta é sazonal, pois dezembro tem um aquecimento tradicional em razão do Natal. Mas a tendência para 2016 é que haja novas quedas”, alerta.

O único segmento que fechou 2015 com elevação nas vendas foi o de autopeças e acessórios automotivos. Dietze, porém, ressalta que o peso dessa atividade é baixo em relação ao total do comércio regional. Chama atenção o fato de que estabelecimentos que vendem itens básicos, como supermercados e farmácias, também tiveram desempenho negativo: -0,4% e 11,2%, respectivamente.

Em relação ao comércio virtual, o Grande ABC apresentou retração de 22,5% ante 2014. Foi a pior queda entre as 16 regiões do Estado que integram a pesquisa. O tíquete médio das compras on-line foi de R$ 350, o segundo mais baixo de São Paulo. 




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