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A música e as novas relações na era digital
Por Ângela Corrêa
Do Diário do Grande ABC
13/06/2010 | 07:06
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Cia da Foto/Divulgação


Há quase três anos o Radiohead lançava na internet o sétimo álbum. A prática não era novidade. O que surpreendeu foi o quinteto britânico ter deixado para os internautas a decisão do valor a ser pago pela versão digital de In Rainbows. A estratégia seria para alavancar a venda do CD físico, mas a ousadia da banda de Thom Yorke anunciou também uma nova maneira de encarar a música. Não mais como um produto mercadológico, que sustentava uma indústria gigantesca, mas como um serviço.

"A música seria como gastronomia ou como fazer roupas ou vinho. É uma forma de consumo que tem público em vez de clientes. Mas requer o entendimento de que não há mais tanta intermediação entre o trabalho do artista e seu público", destaca o produtor musical Pena Schmidt, que já foi executivo de gravadoras e hoje é diretor do Auditório Ibirapuera.

Mesmo com a resistência de quem não se acostumou a lidar com MP3 players, a venda de CDs sofreu queda significativa no País. No ano em que In Rainbows saiu, a ABPD (Associação Brasileira de Produtores de Discos) contabilizou queda de 17,21% nas vendas de CDs e DVDs. Em 2007, 31,3 milhões foram vendidos - em 2004, esse número era de 66 milhões.

A geração de músicos que surgiu nessa transição não sofre agora com adaptação. "Desde o início optamos por uma filosofia onde o foco principal não é mais a venda direta de discos. Apostamos muito na ideia de que espalhar nossa música por todo o mundo com uma maior facilidade no intuito de ter mais gente por aí querendo nos ver tocar e acompanhando nossa carreira. E a internet é a ferramenta mais prática", diz Chiquinho Moreira, tecladista do Mombojó, que acaba de lançar Amigo do Tempo diretamente para download gratuito no UOL.

Os shows ganharam ainda mais importância. "Mais do que arrecadação, são o sangue e a eletricidade que movem a música. Os artistas que têm público de shows são os que têm vida própria", afirma Schmidt, destacando ainda que a renda se faz além da bilheteria. "Mercadorias - incluindo o CD, por licenciamentos, publicidade, prestígio", enumera.

É por isso que não se aposta na total extinção do conceito dos álbuns. "Ficou mais fácil a produção e audição de músicas individuais, mas não é novidade. Os artistas continuam produzindo em bloco e ouvimos de cabo a rabo quando é algo que vale a pena", aposta Schmidt.

"Gosto muito de pensar numa obra completa, com capa e ordem de músicas. Espero que isso não morra", concorda o músico do Mombojó, que lança o CD físico no fim do mês.

O brasileiro não deve ser resistente à ideia de trocar o download em sites piratas e começar a botar a mão no bolso, acredita Schmidt. "Pagamos pela cerveja, pela internet e pelo ingresso do show. Por que não pagamos pela música digital? Eu digo porque: pagar para quem, pelo quê? Não tem ninguém no caixa! Se for do modo que saibamos que o dinheiro acaba no bolso dos artistas, pagaremos com gosto".

Os puristas têm razão quando falam que a gravação digital - por impulsos - diminui a qualidade com que os som chega até nossos ouvidos. "O formato digital corta as ondas dos sons. As harmonias não passam com tanta intensidade", explica o produtor Marco Mazzola.

Mas a questão maior nem é essa, defende a jornalista Marcia Elena, uma das sócias da Kappamakki Digital, que presta consultoria na área. "Pode-se até fazer um som cheio de qualidade, mas são raras as pessoas que vão ter caixas de som ou fones de ouvido de estúdio para aproveitar tudo isso", afirma. "O que melhorou foi o acesso à música. Muita música, em qualquer lugar", encerra Schmidt.

PREMIAÇÃO - Como forma de estimular a mudança de comportamento do brasileiro, o produtor Marco Mazzola realiza no Rio em 23 de novembro a primeira edição do Prêmio de Música Digital, inédito no mundo. Até lá, artistas e gravadoras já podem inscrever suas músicas no site www.premiodemusicadigital.com.br. Serão 15 premiados.

Os músicos disputam em três categorias: vendas (em dez categorias, divididas por gênero), voto popular (artista do ano, música do ano e artista revelação) e reconhecimento digital (para a marca que mais estimulou a música digital e para o artista que representou bem a bandeira).




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