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Arte em movimento
Por Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
01/10/2006 | 19:20
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A ocupação artística das ruas e o convívio da população com a arte urbana entra em debate a partir de segunda-feira. Duas intervenções marcam o início do projeto Ruas.

Nesta segunda-feira, às 9h, cerca de 20 grafiteiros começam uma intervenção artística em placas instaladas na fachada lateral e painéis na entrada e no piso térreo do edifício do Itaú Cultural (av. Paulista, 149. Tel.: 2168-1776), em São Paulo, sede do projeto. Depois, às 19h30, haverá debate com osgemeos (grafado tudo junto, como preferem os irmãos Gustavo e Otávio Pandolfo), artistas paulistanos com um trabalho muito pessoal em grafite, que se tornaram conhecidos também no exterior.

A outra intervenção está transportando passageiros na linha C (Osasco-Jurubatuba) da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos). Quem passou a partir das 4h de segunda-feira na avenida Marginal Pinheiros deve ter visto uma composição ferroviária de quatro carros com desenhos criados e coloridos por osgemeos e pelo grafiteiros Nina, Koyó, Nunca e Ise. O trem circula até dia 2 de novembro, quando voltará ao original.

Ruas é um projeto multidisciplinar que promete uma série de discussões e reflexões sobre as ruas da cidade como inspiração do fazer artístico. Não faz parte da 27ª Bienal Internacional de São Paulo, que será inaugurada no próximo sábado com o tema Como Viver Junto, que discute a convivência nas metrópoles e terá performances de rua, nem da mostra MAM na Oca, que abre nesta terça-feira para o público, propondo um diálogo entre o acervo do museu e a cidade. Mesmo assim, há uma interseção entre estas mostras e o Ruas, mesmo com visões distintas da convivência urbana com o fazer artístico,

O Ruas reúne fotógrafos, escritores, DJs, grafiteiros, cinestas e intelectuais em debates sobre as tribos urbanas e os artistas que fazem arte onde a população está. Ou onde ela pode ir e vir, como no trem. A programação continua ao longo deste mês.

Os quatro grafiteiros e osgemeos são colegas de infância do bairro Cambuci, em São Paulo, onde começaram a grafitar. O trabalho no trem da CPTM começou às 15h de sábado e se prolongou até a noite de domingo na garagem da estação Presidente Altino, em Osasco. Só sairiam de lá domingo para votar e voltar. Uns intervieram nos desenhos dos outros, numa obra de criação coletiva.

“Com o trem em movimento, vai parecer desenho animado”, disse Gustavo. Os irmãos participaram em 2003 da intervenção artística no trem da linha B (Itapevi-Amador Bueno) que ainda está em circulação, mas com as cores deteriorando, carecendo de restauração pela CPTM. Nina também esteve com osgemeos naquele trabalho. “A arte na rua atinge todas as pessoas. O grafite é perfeito para isso”, afirmou.

O detalhe é o movimento. “É uma pintura que se desloca. É como se levássemos arte para as pessoas que não podem ir a galerias”, disse Ise. “Grafite é a cidade, uma linguagem urbana abrangente e um meio de fazer parte dela”, definiu Nunca. Gustavo aposta no inusitado. “Não é todo dia que se vê um trem todo pintado em movimento”.

Mais trens – As estações Ipiranga, Luz, Lapa e Mogi das Cruzes e os muros da estação Domingos de Moraes estão pintados graças à parceria entre a CPTM, indústrias de tinta e os grafiteiros. Segundo a coordenadora de marketing da empresa, Tania Sirurgi, a CPTM estuda levar a arte do grafite às demais estações e outros trens. “Se fosse possível fazer isso em todas seria maravilhoso”, disse.
Site: www.itaucultural.org.br
Blog: caminhantes.itaucultural.org.br



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