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Resíduos orgânicos viram oportunidade de negócio

Empresa da região transforma 300 quilos de lixo em adubo em 1 hora; iniciativa permitiu criação de horta em telhado de shopping

Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC
29/03/2015 | 07:00
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Divulgação


Fazer o lixo virar oportunidade de negócio. Esse é o objetivo da Dar Vida, empresa de São Bernardo criada no ano passado para desenvolver tecnologia capaz de transformar resíduo orgânico em adubo em pouco tempo e com baixo investimento. A iniciativa deu certo. Hoje, menos de 12 meses após o início das atividades, já existe a possibilidade de exportação do equipamento para Canadá, Estados Unidos e Coreia do Sul. Para 2015, a previsão é de crescimento do faturamento em 60%.

O projeto começou a virar realidade depois que o empresário Washington Onofre de Souza, dono da fábrica Levante Automação, no bairro Jordanópolis, em São Bernardo, fez parceria com o pesquisador Lázaro Sebastião Roberto, de Uberaba, Minas Gerais. O cientista, proprietário da empresa Bioideias, criou tecnologia na qual os restos de comida são misturados a duas enzimas e a um composto que gera calor. O material é misturado com as substâncias até chegar no ponto em que deixa de ser lixo e ganha propriedade fertilizante.

Em 2012, a Bioideias apresentou o projeto para a administração do Shopping Eldorado, na Capital, que se interessou e aceitou a realização de testes. Todo o resíduo orgânico gerado na praça de alimentação passou a ser levado para ser submetido ao novo processo. O adubo gerado deu origem a uma horta na última laje do mall, que passou a ser chamada de Telhado Verde.

Inicialmente, o procedimento era feito de maneira arcaica, com betoneiras. Foi aí que se destacou o senso de oportunidade do empresário Arthur Ferreira de Souza, filho de Washington e hoje sócio da Dar Vida. Ele estava no shopping para realizar serviços de manutenção em uma das máquinas da Levante quando conheceu o cientista. “Ele perguntou ao meu filho se conhecia alguém que pudesse desenvolver equipamento capaz de automatizar e modernizar o processo. Foi aí que entramos”, relata o empreendedor. A parceria foi fechada no meio do ano passado e a Dar Vida já tem contrato com a administradora Ancar Ivanhoe para implantação do modelo em todos os shoppings da rede e também expandirá os negócios nos empreendimentos da Multiplan.

Hoje, o procedimento é feito na chamada Unidade Compactadora de Resíduo Orgânico, uma estação de sete por três metros quadrados onde o que entra é lixo e o que sai é adubo. A transformação começa na mesa de triagem, na qual o funcionário verifica se há embalagens ou talheres. O resíduo, então, é colocado em uma esteira que o leva ao Bio Reator – um tanque de 1,10 metro de diâmetro onde o material é misturado às enzimas e ao composto gerador de calor. No Shopping Eldorado, são colocados lotes de 100 quilos na máquina, o que demanda apenas 20 minutos de processamento. Depois, o adubo sai pronto para ser ensacado. Todo o procedimento é controlado automaticamente por meio de um painel eletrônico. A estação também conta com ar condicionado, para oferecer mais conforto ao operador.

O investimento, considera Washington, é baixo: R$ 128 mil. Ele garante que um equipamento importado semelhante – que apenas processa o lixo, mas não gera adubo – custa ao menos R$ 890 mil. “Há possibilidade de ganhos futuros com a comercialização do adubo, além da redução com os gastos de coleta.”

Tecnologia possibilita ganhos ao cliente

Além de eliminar o problema da destinação do lixo, a transformação do resíduo orgânico em adubo pode diminuir gastos e gerar receitas a quem optar por esse tipo de tecnologia. Segundo o empresário Washington Onofre de Souza, proprietário e diretor industrial da Dar Vida, a primeira vantagem é a redução nos gastos com a coleta.

Em relação aos ganhos, o empreendedor salienta que o adubo produzido pode ser comercializado. “Uma tonelada é vendida a no mínimo R$ 640”, garante. O valor gasto para fazer o equipamento funcionar é relativamente baixo: R$ 245 para cada tonelada produzida, valor que inclui os insumos utilizados no processo.

O consumo de energia é baixo, assegura Washington. “Gasta-se 4 kW/h. Uma máquina importada capaz de fazer metade do tratamento e que não gera adubo ao final consome 24 kW/h”, garante.

Outro aspecto positivo é a rapidez. Washington afirma que, em um processo tradicional de compostagem, são necessários 150 dias para que 100 quilos lixo seja transformado. Com o Bio Reator, a mesma quantidade é processada em apenas 20 minutos. A capacidade diária de produção é de duas toneladas.

A tendência é de que esse mercado tenha crescimento expressivo nos próximos anos. Isso porque a Política Nacional, lei federal sancionada em 2010, determina a eliminação dos lixões e regula a existência dos aterros sanitários. A alta demanda, possivelmente, fará com que outras empresas se interessem por esse nicho. Entretanto, o aumento da concorrência não assusta o empresário de São Bernardo. “Isso é um problema muito sério, é muito além de querer agradar o meio ambiente, é uma necessidade real. Somos pioneiros e logo teremos concorrentes, mas não tem problema. Nós não conseguimos abraçar nem 10% da demanda do Brasil”, reconhece.

Washington acrescenta que, futuramente, a iniciativa também poderá ser utilizada pelo poder público. “O tamanho da unidade de transformação é pequeno, poderiam fazer uma em cada bairro, o que diminuiria o custo com o transporte do lixo, além de evitar a poluição gerada no caminho até o aterro. Além disso, o investimento para essa finalidade seria bem menor.”

Empreendimentos da região terão modelo semelhante ao do Eldorado

Pelo menos dois dos nove shoppings do Grande ABC pretendem implantar o Telhado Verde, iniciativa que é feita no Shopping Eldorado, na Capital, desde 2012. O empreendimento possui horta de 6.000 m² na laje superior e as frutas, legumes, hortaliças e ervas plantadas são distribuídas entre os funcionários.

O Golden Square, de São Bernardo, sinalizou que terá o Telhado Verde até o fim do ano que vem. O mall é administrado pela Ancar Ivanhoe, mesma rede do Eldorado e que possui outros 19 shoppings no Brasil. O ParkShopping São Caetano, da Multiplan, informou que também pretende implantar o modelo, mas ainda não definiu data.

“Vamos rever o contrato de coleta de lixo no Shopping Eldorado até o fim do ano, o que deve diminuir nosso gasto de 40% a 50%”, comenta a gerente corporativa de operações da Ancar Ivanhoe, Jaqueline Bazani. O Telhado Verde também reduz a demanda por ar condicionado. No piso inferior à laje com a horta, a temperatura média cai de 2ºC a 3ºC. 




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