É tradição no dia de Natal, celebrado ontem, almoçar com familiares e pessoas que amamos. No Parque São Bernardo, 6.000 pessoas se reuniram para desfrutar juntas do cardápio preparado pela família Lemes. O tradicional almoço comunitário chegou à 16ª edição, com intuito de ajudar pessoas carentes. Todos os alimentos e brinquedos foram doados e a estrutura, preparada por voluntários. O evento aconteceu na Emeb (Escola Municipal de Ensino Básico) Professora Maria Therezinha Bessana.

Conforme explicou Benedito da Silva Lemes, 62 anos, conhecido como Ditinho da Congada, o evento passa de geração em geração na família. “A minha bisavó já dava comida para os mais necessitados em Minas Gerais. Por muito tempo, passamos fome aqui. O meu pai dizia que um dia teríamos para dividir com quem precisasse. E hoje meus filhos e netos ajudam a realizá-lo. Vai ficar para a posteridade.”

A escola ficou aberta desde as 9h, sendo que o almoço foi servido às 13h. Os números do cardápio, que é preparado durante toda a madrugada de Natal, impressionam. Foram 30 quilos de arroz, 25 de feijão, 27 de macarrão, 18 de carne, 20 de cenoura e 20 de beterraba, total de 140 quilos de alimentos. Foram assados 89 frangos e cinco pernis.

A matriarca da família, Maria do Carmo Lemes, 87, a dona Cotinha, é a responsável pela supervisão e preparo, feito em fogão a lenha. “A comida tem que ser tradicional mineira. Eu acho lindo ver toda essa gente comendo.”

Os mantimentos que não foram utilizados vão servir para a montagem de 200 cestas básicas. “A necessidade que passamos lá atrás nos lembra que ainda tem gente que precisa disso”, disse José da Silva Lemes, 51, o Zé Neguinho.

Durante todo o dia, as crianças da comunidade brincaram de dança da cadeira e pularam em cama elástica. O Papai Noel entregou cerca de 800 brinquedos.

“Peço a minha folga no Natal para ajudar. É uma ação social gratificante, além de nos fazer olhar para o próximo”, disse a telefonista Cleonice Maria de Oliveira, 51, que trabalha desde o início do evento como voluntária e é responsável por fazer o bolo de 70 quilos servido como sobremesa.

Já a manicure Neide Oliveira, 37, percorre o comércio desde agosto para conseguir doações. “Vou de loja em loja, com os ofícios, além de procurar marcas grandes para ajudar na realização.”

Quem vem desfrutar do almoço fica agradecido. “Conheço os Lemes há muito tempo e trago minha família desde o primeiro almoço. Não tenho palavras para descrever o quanto eles são iluminados e fazem bem às pessoas aqui do bairro”, disse, emocionada, a dona de casa Maria Helena Santos do Nascimento, 62.

“Estava passeando com a minha filha de 3 anos e vi a faixa. Adoramos a comida, e ela ainda ganhou uma boneca. Que Deus abençoe essas pessoas”, disse o carregador José Edson da Silva, 36.

Quem também não deixou de se emocionar foi José Carlos da Silva Nascimento, 56, que é morador de rua e conhece a família há 20 anos. “Perdi todos os meus parentes e moro na rua há 30 anos. Passei frio e muita fome e foi ao lado deles que me senti seguro. Só tinha a roupa do corpo e não tinha lugar para tomar banho e eles me deram a mão.”

Trabalhando como voluntário no evento, Nascimento aprendeu a lição mais valiosa com a família. Tudo que consegue ganhar com pequenos bicos, divide com o próximo. Muitas vezes chega a gastar todo o dinheiro comprando doces para as crianças da comunidade.

“O Ditinho é como se fosse o meu pai. Neste Natal, desejo que eles tenham muita paz, saúde e força para ajudar quem precisa”, disse.