Política Titulo Diadema
Comissão da Verdade documenta relatos de violência

Relatório sobre vítimas da ditadura militar no município visa corrobar com estudo nacional

Leandro Baldini
Do Diário do Grande ABC
15/12/2014 | 07:00
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Montagem/DGABC


A Comissão Municipal da Verdade de Diadema, presidida pela vereadora Lilian Cabrera (PT), entregou relatório final evidenciando relatos sobre vítimas de violência durante a ditadura militar, que vigorou entre 1964 e 1985. O estudo visa corroborar com trabalho produzido pela CNV (Comissão Nacional da Verdade), no Congresso, que responsabilizou 377 pessoas direta e indiretamente por práticas de tortura e assassinatos durante o período. A conclusão da comissão diademense será votada no plenário da Câmara na quinta-feira.

A comissão focou o trabalho em localizar diademenses que tiveram contato direto, ou indireto com violações de direitos civis e humanos pelo regime militar, colher os depoimentos e tornar os casos públicos. “É papel da Câmara, dos vereadores, da sociedade civil organizada resgatar a história de Diadema. Temos que deixar claro quais pessoas daqui que passaram aperto nesse período”, argumentou.

O relatório produzido pela Comissão Municipal da Verdade poderá ser transformado em livros que servirão de material didático nas escolas de Diadema. A ideia é provocar reflexão sobre a conduta do regime militar para quem já nasceu no período democrático. “Temos o objetivo de transformar todo o material captado em uma publicação, para distribuir nas escolas da cidade. Esses nomes e relatos devem ficar gravados na história, além de proporcionar conhecimento para os mais jovens”, disse.

O relatório final possui 15 páginas e e começou a ser elaborado em novembro do ano passado, por meio de 17 reuniões, duas audiências públicas e tomando 51 depoimentos. “Cada relato trouxe um aprendizado. Poderia destacar o do ex-vereador José Rocha, que contou histórias ricas em detalhes”, comentou Lilian.

Relatora da comissão, a vereadora Cida Ferreira (PMDB) ressaltou que viver a experiência fez ela refletir sobre o regime militar. “Naquela época, eu tinha uma vida voltada a minha empresa e a criação dos meus filhos. Porém, um dos depoimentos, o do Cássio Ribeiro, me fez lembrar algumas cenas. Ele contou sobre um caminho em que eu passava para levar as crianças para escola, em que vi a polícia (autuando Ribeiro) a mulher dele e os filhos estavam desesperados”, contou.

O trabalho será encaminhado para Brasília. Porém, as cinco cidades da região que organizaram comissões da verdade – Santo André, São Bernardo e Mauá – discutem unificar os relatórios antes de enviar para a Capital federal.

As vereadoras destacaram importância da contribuição no estudo da AMA-A (Associação dos Metalúrgicos Anistiados do ABC), a subsecção da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) em Diadema e o Centro de Memória do Grande ABC.

Mauá deve concluir estudo em fevereiro

Utilizando método similar ao material produzido por Diadema, o relatório da Comissão da Verdade de Mauá está em processo de finalização e deve ser entregue à Câmara na primeira sessão, após o recesso, em fevereiro.

O trabalho foi coordenado pelo vereador Wagner Rubinelli (PT), que também realizou a função de relator. “Trouxemos destaque a depoimentos de presos políticos como Maria Julia Oliveira Lobo, representante do Centro de Memória e Resistência do Povo de Mauá e Região. Ela foi torturada, presa política, perseguida pela ditadura e que foi torturada junto com seu pai. E que após estudos, pudemos apurar que o torturador foi o Capitão Albernaz, que foi destaque em matéria do jornal O Globo como ‘O Homem que Socou Dilma’ na sala de torturas por ocasião da Operação Bandeirantes. Houve também relato de dois padres, que foram muito importantes para o relatório”, revelou.

Rubinelli detalhou que o processo de captação de depoimentos foi realizado após duas audiências públicas. “Procuramos tentar trazer o máximo de detalhes e das histórias vividas em um período cruel, que só mesmo com a produção de um material como este ajuda para que isso nunca mais volte a fazer parte da nossa realidade”, considerou.

Também compõe a Comissão Municipal da Verdade os vereadores Edgard Grecco (PDT) e Ricardinho da Enfermagem (PTB).

OUTRAS CIDADES
Em Santo André, o trabalho foi conduzido pelo vereador José Montoro Filho, o Montorinho (PT), seguindo os moldes dos municípios vizinhos, concluído e entregue à presidência da Câmara.
Já na cidade de São Bernardo, a coordenação está sob a tutela do líder do governo, Zé Ferreira (PT), mas ainda não foi concluído. 




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