Durante a campanha eleitoral deste ano, o PT de São Bernardo gastou R$ 325,7 mil com a Focal Confecção e Comunicação Visual, empresa apontada como uma das destinatárias dos recursos do esquema do Mensalão e que tem suposto laranja no quadro societário. Operador do sistema, o publicitário Marcos Valério indicou que a gráfica, com sede no bairro são-bernardense dos Casa, recebeu dinheiro do caso, integrando lista enviada à CPI dos Correios, ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal.

Valério foi condenado no processo do Mensalão a 37 anos de prisão e cumpre pena pelos crimes de corrupção ativa, peculato, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Segundo o relatório elaborado pelo publicitário, a empresa arrecadou R$ 400 mil a partir de indicação de Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, também enquadrado pelo STF (Supremo Tribunal Federal). O ex-dirigente petista foi condenado a seis anos de prisão por corrupção ativa.

A Focal foi contratada pelo petismo de São Bernardo para confeccionar materiais de campanha, assim como prestou serviços para a empreitada da presidente reeleita Dilma Rousseff (PT). A empresa, que recebeu R$ 24 milhões de candidatos do PT pelo País, teve notas fiscais consideradas irregulares pela assessoria técnica do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), órgão que analisa as contas do pleito. Em contrapartida, a firma doou quantia de R$ 30 mil para engrossar a candidatura de nomes petistas no páreo.

No quadro de sócios da Focal consta oficialmente Carla Regina Cortegoso e Elias Mattos, registrados na Junta Comercial. O pai de Carla, Carlos Cortegoso, é empresário conhecido na cidade por sua ligação com o PT. Na campanha de 2002, quando o candidato à presidência do partido era Luiz Inácio Lula da Silva, a empresa angariou R$ 3,9 milhões no período. No documento final da CPI dos Correios, o grupo registrou que a agência de publicidade SMPB, de Valério, depositou R$ 300 mil na conta da Focal.

A equipe do Diário esteve ontem na sede da empresa. Nenhum dos representantes quis comentar o caso. Funcionários da firma, inclusive, fecharam os portões internos após questionamentos da reportagem e depois não atenderam o interfone. Na fachada, entretanto, a empresa esbanja materiais produzidos. Como principal parceira, a Prefeitura de São Bernardo. Há no painel outdoors e adesivos de programas do governo Luiz Marinho (PT), como o PPI (Programa de Parcelamento Incentivado) e revitalização da Chácara Silvestre.

Do outro lado, Elias Mattos declarava, por sua vez, profissão de motorista até o ano passado, entrando com R$ 3.000 na participação da Focal. A equipe do Diário se deslocou à sua residência, no Ferrazópolis, na divisa com o Jardim Limpão, e constatou imóvel modesto, discreto, nos fundos de comércio. Embora simples, a casa tinha câmera de monitoramento. Possível laranja, ele não estava no local para explicar a situação.