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Diadema revive fantasma do vice
Por Elaine Granconato
Do Diário do Grande ABC
01/11/2009 | 07:14
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Caso não se resolva nos próximos dias o impasse de o PSB de Diadema ser hoje oposição ou situação ao governo Mário Reali (PT), uma vez que o vice-prefeito Gilson Menezes retornou recentemente à sigla, uma história poderá se repetir na cidade. O chefe do Executivo ter um vice na oposição, assim como foi no passado com o professor Antônio Justino, mais conhecido como Tonhão, na gestão petista de José Augusto da Silva Ramos, hoje deputado estadual pelo PSDB.

Em 1989, o PT consegue pela segunda vez conquistar a Prefeitura. Logo de cara, mais precisamente no dia da posse, Tonhão chega abarrotado de panfletos com críticas ao companheiro de chapa. Detalhe: o rebelde de Diadema, outra pecha que carregou até hoje pela longa estrada em defesa da democracia, também era petista de carteirinha.

"O Tonhão fez oposição do primeiro até o último dia de governo do Zé Augusto. Sem trégua", recorda o ex-petista vereador José Francisco Dourado, o Zé Dourado (PSDB), hoje um dos três parlamentares tucanos na Câmara. E acrescenta: "Depois disso, inclusive, acabou politicamente". No entanto, Zé Dourado não vê nenhuma possibilidade de o atual vice-prefeito seguir o mesmo caminho de Tonhão. "O Gilson não tem coragem de fazer oposição", afirma, de forma convicta.

Embora tenha se esquivado alegando ser "coisa do passado", José Augusto afirma que não teve "nenhum problema" em administrar com o vice-prefeito na oposição. "Isso não impediu que eu fizesse um bom governo, aliás o mais bonito que já existiu", diz, sem modéstia alguma.

Indagado sobre o motivo que levou o vice a fazer oposição ao seu mandato, o deputado tucano foi taxativo: "Ele tinha um viés anarquista. Não queria participar de nada".

Burguesia - A reportagem do Diário saiu em busca do ex-vice-prefeito oposicionista Tonhão, que ainda carrega em seu currículo o título de ser o principal líder da agressão ao ex-governador Mário Covas, em 2000, na greve com ocupação que os professores realizaram em torno da Secretaria de Estado da Educação (veja reportagem abaixo).

Após tentativas inúteis por telefone, a reportagem foi até a casa do professor na quinta-feira, localizada na Vila Conceição. Bateu, chamou pelo nome e procurou ajuda dos vizinhos, mas em vão. Ninguém atendeu.

No dia seguinte, porém, a alternativa, segundo políticos influentes da cidade, foi ir em companhia de dois militantes do PSB municipal, além de velhos amigos revolucionários de Tonhão, que se distanciou da Igreja na década de 1980 e rompeu com o PT nos anos 1990. Era o ‘código secreto' para que o ex-vice abrisse a porta.

A reportagem esperou do lado de fora, enquanto os companheiros, que se declaram marxistas e leninistas, tentavam convencê-lo a conceder entrevista. Meia hora depois, a resposta inesperada viria por um porta-voz: "Ele mandou dizer que não tem nada contra você, mas a imprensa é burguesa e ajuda a elite a se manter no poder em detrimento da classe trabalhadora", comunicou Joel Serafim Mota (PSB), amigo de mais de 20 anos de Tonhão e ex-assessor parlamentar de Gilson Menezes, quando deputado na Assembleia Estadual. "Oposição ao governo atual? O Gilson é um fraco, ao contrário do Tonhão", alfinetou o ex-assessor, que ainda carrega a carteira funcional de quando trabalhou no Palácio 9 de Julho.

‘O PT é inteligente e sabe que não seria bom', diz Gilson
Primeiro prefeito petista do Brasil em 1983 e chefe do Executivo de Diadema pelo PSB de 1997 a 2000, Gilson Menezes sai pela tangente quando questionado se pode vir a ser o segundo vice oposicionista ao governo na história política da cidade. "Não vejo assim. O PT é um partido inteligente e sabe que não seria bom", afirma o hoje socialista, que foi um dos principais puxadores de votos para os petistas no pleito do ano passado.

Embora queira amenizar a saia-justa, Gilson está sendo pressionado pela Executiva municipal do PSB, que hoje ainda se declara como um partido de oposição à administração Mário Reali. Os dias minguam e a pressão aumenta. "Eu vou cumprir o que o PSB decidir", desconversa o vice-chefe do Executivo de Diadema.

Para Gilson, a cobrança é natural. "Afinal, não sou do partido do prefeito. O PSB está aberto para conversar com o PT e o Mário", adianta. Na última eleição municipal, o PSB compôs chapa com o PSDB, principal rival do PT hoje na cidade.

Indagado sobre o que estaria faltando para o PSB ser da base aliada, o vice foi curto e direto: "O PT diminuir o egoísmo de querer dominar tudo". E acrescentou: "Uma abertura seria o caminho".

Enquanto a abertura não chega, Gilson fica em situação delicada, principalmente perante a militância do PSB. Parte dos filiados ainda não engoliu o retorno do vice ao partido. "Politicamente foi péssimo, porque o PSB de Diadema não é sigla de aluguel para o PT", diz Joel Serafim Mota, ex-assessor parlamentar de Gilson na Assembleia - Gilson foi deputado estadual por dois mandatos. Amigo de Tonhão, Joel seguiu o mesmo discurso do comunista convicto: "O Gilson não passa de um burguês vendido pelo sistema".

Gilson preferiu não entrar no embate. "Sou uma pessoa tolerante", defende-se o vice de Reali, que no passado já fez oposição ferrenha ao ex-prefeito José de Filippi Júnior (PT).

Sobre a aposição do professor Antônio Justino, o Tonhão - rebelde de Diadema e comunista convicto -, Gilson diz que os tempos são outros. "Ao que me parece, a briga foi quando da montagem do secretariado. Sem falar que foi no governo do Zé Augusto (José Augusto da Silva Ramos, deputado estadual pelo PSDB)", argumenta, sem deixar de lançar um petardo no arquirrival tucano.

Presidente do PSB de Diadema, Manoel José da Silva, o Adelson, deixa o recado. "Se o PSB não se definir com o PT, com certeza, o Gilson será oposição", afirma.




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