Cultura & Lazer Titulo Teatro
Rainhas rivais
Por Ângela Corrêa
Do Diário do Grande ABC
13/09/2009 | 07:00
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O dramaturgo Friedrich Schiller (1759-1805) não conseguiu se manter neutro diante da rivalidade entre Maria Stuart e Elizabeth I, rainhas da Escócia e da Inglaterra, respectivamente. Sua preferência é expressa no título da peça que escreveu sobre a histórica disputa, encenada pela primeira vez em 1800: Maria Stuart. Mais de dois séculos depois, Julia Lemmertz e Lígia Cortez encarnam as primas rivais. E, como Schiller, não conseguem esconder a paixão pelos papéis, que apresentam ao público do Teatro Sesc Anchieta a partir do dia 19.

Nesta adaptação do diretor Antonio Gilberto, Julia é a personagem-título, mantida prisioneira e condenada à morte pela prima. “O que me desafia neste papel é mostrar os vários lados de Maria, que já nasceu rainha e tinha um prazer enorme pela vida”, destaca a gaúcha. Características radicalmente opostas às de Elizabeth. “Ela cresceu sozinha e sacrificou a vida pessoal por amor à Inglaterra”, resume Ligia.

Além de dar corpo a um personagem tão denso, a também diretora do Teatro Escola Célia Helena encarou outra pedreira: a de acompanhar uma montagem em andamento. Em junho, aceitou substituir Clarice Niskier, que interpretava Elizabeth desde o ano passado. “Nem estava nos meus planos fazer espetáculos neste ano. Mas encontrei um ambiente maravilhoso, de pessoas que amam teatro. Não é algo muito fácil de acontecer”, revela.

Julia não esconde que a saída de Clarice foi um baque. “Nos tornamos muito companheiras. Foi com Clarice que eu desenvolvi minha Maria. Ela estava em cartaz com outro espetáculo, uma produção sua, e chegou o momento de priorizar uma delas”, explica.

Ligia era a primeira da lista das atrizes que a produção pensou para seguir com o espetáculo até dezembro. Seu ‘sim’ foi um alívio para a protagonista.“Eu queria muito que fosse ela. Nos conhecemos desde meninas e nunca trabalhamos juntas. Sua chegada trouxe um gás fora de série”, comemora Julia.

As duas têm histórias de vida parecidas: são crias de casais de atores “que já estão no céu”, define Julia, filha de Lilian Lemmertz e Linneu Dias. “De alguma forma, há uma simetria em nossas vidas”, concorda Ligia, herdeira de Raul Cortez e Ligia Helena.
 A produção mescla o texto clássico de Schiller ( traduzido pelo poeta Manuel Bandeira nos anos 1950) a figurinos e cenários atemporais.

Como o espetáculo tem três horas de duração, as atrizes, redobraram a preparação de corpo e voz. E continuam estudando sobre suas soberanas. Julia brinca que está orgulhosa de si mesma, por tanto conhecimento acumulado. “Mas há uma hora em que tenho de lembrar que não é uma biografia. E também prestar atenção à mulher por trás da rainha, que é o principal.”
 
Maria Stuart Teatro Estreia sáb. (19), às 21h. No Teatro Sesc Anchieta do Sesc Consolação – Rua Dr. Vila Nova, 245. Tel.: 3234-3000. Sáb., às 21h, e dom.. às 19h. Ingr.: R$ 20. Até 25 de outubro.

 

Na vida real elas nunca se encontraram

Schiller descreveu um encontro entre Maria Stuart (1542-1587) e Elizabeth I (1533-1603) em sua peça. Puro recurso dramatúrgico. As rivais nunca estiveram de fato no mesmo ambiente, mesmo nos 19 anos em que a Rainha Virgem manteve Maria como prisioneira.

Nascida nove anos antes da parente escocesa, Elizabeth era a bastarda de Henrique VIII com Ana Bolena, condenada à guilhotina pelo marido. Chegou ao trono da Inglaterra em 1558 e era protestante. Seu reinado foi chamado A Era de Ouro, por conta do grande desenvolvimento artístico e econômico da Inglaterra. Enérgica, não se dobrava perante o conselho. Nunca se casou, o que não quer dizer que não mantivesse casos amorosos.

Maria, filha do rei escocês Jaime V e da francesa Maria Guise tinha situação bem mais confortável. Depois da morte do pai, foi enviada à França para se casar com o herdeiro Francisco.

Viúva precoce, voltou à Escócia, onde se casou mais duas vezes e assumiu o trono. Acusada de participar do assassinato do segundo marido, foi obrigada a abdicar em favor do filho, Jaime.

Fugiu para a Inglaterra, e foi encarada como uma ameaça ao poder da prima, já que era católica e poderia fazer alianças com a França ou a Espanha, velhos inimigos ingleses. Mantida prisioneira, foi condenada à morte por supostamente ter tramado complô para tomar o reino de Elizabeth.




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