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Brasileiros movimentam indústria do idioma na Inglaterra
Por Do Diário do Grande ABC
23/10/1999 | 13:14
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Todo ano, cerca de 200 mil pessoas do mundo todo desembarcam na Gra-Bretanha com uma meta em comum: voltar para a casa com o Inglês na ponta da língua. Juntas, desembolsam cerca de 130 milhoes de libras (R$ 430,758 milhoes) no pagamento de cursos de inglês. As estimativas sao da Arels, a associaçao dos principais centros de ensino do idioma na regiao, e da Eurocentres, escola com nove unidades espalhadas pelo Reino Unido.

Mesmo com o orçamento encolhido pela desvalorizaçao cambial, os brasileiros ajudam a engrossar a lista das matrículas. Exemplo disso está na Eurocentres do centro de Londres, onde, na contagem dos alunos, o País só perde para a Suíça. Este ano, 13,5% de suas matrículas vieram do Brasil, com 148 inscriçoes - 12 a menos que o total suíço.

Na temporada de estudos, a maioria dos estudantes hospeda-se em casas de família na busca de mais fluência no idioma. É o caso, por exemplo, da gaúcha Heloísa Periná, 29 anos que soltou a língua com ajuda da senhora com quem vive há três meses em Londres. "Sempre que chego em casa ela está me esperando para um bate-papo", conta Heloísa.

Colega da estudante na Eucentres, o analista de sistemas carioca Ronaldo Abifadel, 32 anos, tem rotina parecida. Todo noite conversa por cerca de duas horas com o casal de designers que o hospeda. "Em casa aprendo tanto quanto na escola", diz. "Minha família sempre corrige meu inglês."

Viver na casa de estranhos, entretanto, nao é sinônimo de satisfaçao garantida. "Morar com uma família é uma loteria" acredita o advogado paulista Mauri Lima e Silva, de 32 anos, que há 9 meses estuda inglês em Londres. "Nem todos estao dispostos conversar com os hóspedes", afirma.

"Tem gente que só pensa no dinheiro do aluguel e nao faz a mínima questao de integrar o estudante." E exemplifica: "Tive uma colega que tinha de jantar pizza enquanto os donos da casa comiam carne".

Em busca de privacidade, o advogado preferiu alugar um quarto numa casa compartilhada com outros estudantes. Ainda assim, sente falta do conforto da vida em Perdizes, bairro de classe média na zona oeste de Sao Paulo. "Troquei meu apartamento de três dormitórios numa regiao bem localizada por um quarto na periferia de Londres, que me custa 60 libras (R$ 198,80) por semana.

Como a maioria dos estudantes brasileiros, Mauri viu seu padrao de vida despencar ao chegar num país onde um cafezinho custa o equivalente a R$ 3 e a entrada de um cinema, cerca de R$ 20. "No Brasil eu saía quase toda noite", conta ele. "Eu tinha garrafas de uísque em oito casas noturnas", emenda. "Aqui o dinheiro nao dá para nada", compara.

Ainda assim, Mauri nao se arrepende de ter trocado o escritório na Avenida Paulista pela vida de estudante na Inglaterra. Afinal, a experiência lhe deu fluência na língua que tentou aprender por quatro anos no Brasil sem nunca sair do be-a-bá.

Há também quem encare o dinheiro curto com mais humor. "Eu me divirto preparando bandejas para o chá,", conta Heloísa que ganha cinco libras (R$ 16,56) por hora de trabalho num hotel da cidade. Além de ajudar nas despesas, a tarefa lhe trouxe mais contato com o idioma. "Meu Inglês melhorou bastante depois de que comecei o serviço", diz.

"Trabalhar pode ser ótima forma de aprender inglês", concorda o coordenador pedagógico da Eurocentres, Simon Rickets.

Com o visto de estudante no passaporte, é possível encontrar um trabalho temporário de até 20 horas por semana. "Mas dificilmente há oportunidades para funçoes mais qualificadas", alerta Rickets.

Trabalho pouco qualificado nao é, porém, problema para Heloísa. Depois de deixar o escritório de comércio exterior em Porto Alegre por nao falar Inglês, ela acredita que o "bico" no hotel londrino vai lhe dar mais oportunidades na volta para a casa. "Com o inglês fluente, terei muito mais facilidade para encontrar um bom emprego", prevê.




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