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Grande ABC supera marca de
200 mil recuperados da Covid

Nove em cada dez infectados na região conseguem superar o coronavírus; pacientes que ficaram internados na UTI comemoram a reabilitação

Bia Moço
Do Diário do Grande ABC
30/06/2021 | 00:01
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Celso Luiz/ DGABC


Renascimento. Essa palavra resume o sentimento de duas entre as mais de 200 mil pessoas recuperadas da Covid no Grande ABC. O músico Sérgio Júlio Vieira, 44 anos, e a cuidadora de idosos Simarina Alves dos Santos, 60, estão entre os sobreviventes que têm a chance de revelar os sentimentos pós-internação. Ambos não se conhecem, mas, coincidentemente, acreditam que eles, assim como todos que venceram a doença, tiveram “uma segunda chance”, movida, sobretudo, pela fé.

Conforme dados das sete cidades, até ontem, 201.434 pessoas venceram a batalha contra a Covid, que podem contar histórias de luta e superação contra o pior inimigo do século, que tirou a vida de 8.928 pessoas da região. O número de reabilitados representa 91,7% dos contaminados, ou seja, a cada dez infectados, nove se recuperam.

Com dificuldade para trabalhar durante a pandemia, Sérgio, que mora na Bahia, mudou-se para Minas Gerais com sua mulher, Flávia de Jesus Silva, 28, e o filho Gael, 2, deixando seus primogênitos Pedro Davi, 12, e Maria Cecília, 7, na Bahia. Com os pais precisando de ajuda para compromissos médicos, o músico decidiu passar tempo em Santo André para cuidar da mãe, Maria Joselita Vieira, a dona Nina, 79, e do pai, Pedro Vieira, 78, que há três anos vive em uma casa de repouso devido ao Alzheimer.

“Meu pai estava com infecção urinária e eu tinha de levar ele até a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) diariamente para injetar medicações. Acredito que nesse meio-tempo contraí Covid”, relembra Sérgio. “No dia 8 de junho passei mal, e no dia seguinte fui internado”, explicou o músico, que ficou nove dias no hospital de campanha do Complexo Esportivo Pedro Dell’Antonia, em Santo André.

Sérgio teve mais de 50% do pulmão comprometido e precisou do auxílio de oxigênio. Mas não bastasse sua situação, seu irmão, Paulo Roberto Vieira, 47, havia sido internado com Covid horas antes, mas no hospital de campanha da UFABC (Universidade Federal do ABC), também no município andreense, com quadro ainda pior. No entanto, Sérgio não sabia.

Quem sofreu com isso foi dona Nina, que, ao ver os dois filhos internados pela mesma doença, pensou que, talvez, não os visse novamente. “Internar um filho é muito dolorido. Dois então, foi horrível. Perdi meu chão”, confessou a senhora. “Tive muito medo de perdê-los, mas entreguei a Nossa Senhora”, completou dona Nina, afirmando que ter os dois vivos em casa “é uma grande vitória”.

Para Sérgio, a recuperação dos irmãos só foi possível pela fé. “Orei muito, e toda minha família é religiosa. Com certeza foi a fé que nos salvou”, relatou o músico. “Quem está de fora não imagina o que é estar internado. Você passa a valorizar cada segundo. Tive medo de não voltar, mas recebi esse milagre”, completou, emocionado.
O mesmo ocorreu com Simarina, que afirma que Deus lhe deu uma segunda chance. Ela trabalhava como cuidadora de um senhor de 86 anos que, internado com infecção urinária, contraiu Covid e morreu. O problema é que ela ia ao hospital para tratar dele, sem saber que estava contaminado.

“Quando o hospital o diagnosticou, ela já tinha ido cuidar dele”, lamentou a filha Nayara Alves de Souza, 26. “Quando soubemos que o patrão dela estava com Covid, no dia 18 de abril, ela já tinha ficado com ele dois dias antes. Eu, ela e minha filha Nadine, 7, fomos fazer teste e deu negativo. No dia 19 de abril ele morreu e no dia que ela foi para São Caetano receber o pagamento e acertar a situação pós-morte do patrão, em 4 de maio, passou muito mal e foi levada ao hospital. Ficou 49 dias internada”, lembrou Nayara.

Simarina teve de ser entubada 24 horas depois da internação. Em seu período de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) teve paradas cardíaca e renal, precisando, inclusive, fazer hemodiálise. “O médico me ligou avisando que minha mãe tinha chance de óbito em poucas horas. Com o rim sem funcionar, parou de urinar e estava inchando muito. Ali não tinha mais volta”, contou Nayara, revelando ter sido “grande surpresa” quando recebeu telefonema que a mãe estava sendo extubada e logo iria para o quarto.
Simarina teve alta no último dia 23, e acredita ter sido seu “renascimento”. “Minha filha teve muita fé e rezou muito. Eu não lembro de quase nada, apenas que pedi a Deus antes de entrar em coma que me salvasse. Na verdade eu morri, mas tive uma segunda chance”, confessou Simarina, emocionada. 

Médicos destacam evolução no controle da doença

Com mais de 200 mil pessoas recuperadas da Covid no Grande ABC, especialistas destacam o avanço da medicina para tratar a infecção e controlar a doença no âmbito hospitalar de maneira eficaz, prevenindo que pacientes cheguem ao estado grave e possam, assim, retornar aos seus lares.

 O médico do serviço de controle de infecção hospitalar do HU (Hospital de Urgência) de São Bernardo José Raphael Bigonha Ruffato contou que nesse período de um ano e quatro meses de pandemia os profissionais da saúde aprenderam a identificar mais rápido quando o paciente pode chegar ao quadro mais grave da doença e, portanto, se antecipam no tratamento de forma que minimizem o agravo da infecção.

 “Hoje a gente atende mais rápido a necessidade de oxigênio, conseguimos mudar o tipo de ventilação antes da necessidade de entubação”, exemplificou Rufatto. “Aprendemos também que a doença é mais inflamatória e que acomete mais o aparelho respiratório. Tentamos de imediato atuar nessa inflamação, e se tem alguma alteração de imagem, identificamos mais rápido se tem ou não agravos além do vírus, ou seja, alguma infecção associada a bactérias”, completou.

 O médico pontua ainda que agora os especialistas estão mais preparados para tratar o quadro viral, com uso de corticoides, sobretudo em caso de necessidade de oxigênio, além de antibióticos para agravos infeccionais por bactéria, e imunomoduladores. Ruffato frisa que as medicações têm liberação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), porém, devem ser usadas somente por profissionais. “Não temos tratamento precoce, somente o cuidado primário, que é o distanciamento físico e uso de máscara”, pontou, reforçando que a população não deve se automedicar.

 O infectologista e fundador do IBSP (Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente), José Ribamar Branco, explicou que a letalidade da Covid é baixa, mas, com grande número de pessoas infectadas, o sistema de saúde se esgota e, por isso, a mortalidade aumenta. “Cerca de 80% dos pacientes não têm sintomas, 15% vão evoluir de leve a moderado e somente 5% apresentam caso grave”, enumerou o especialista.

 “Claro que houve evolução muito grande no sentido de suporte médico, sobretudo de terapia intensiva e uso de oxigênio. Hoje está mais ou menos protocolado (a forma de atuar). O que reduziu muito a mortalidade foi o uso do corticoide, método que se mostrou eficaz, mas que foi conhecido somente em meados de junho do ano passado”, afirmou o médico, reafirmando os perigos da automedicação. “Não existe nenhum benefício no tratamento precoce. É um risco alto se automedicar. Seja com hidroxicloroquina, ivermectina ou com outra medicação”, finalizou.




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