Política Titulo Entrevista da semana
‘Rodrigo Garcia tem capacidade
para comandar SP’, afirma Camarinha

Líder do governo Doria na Assembleia considera que tucano alia atributo técnico, disposição e, principalmente, apego ao diálogo

Raphael Rocha
Do Diário do Grande ABC
23/08/2021 | 00:01
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Divulgação/ Alesp


Líder do governo de João Doria (PSDB) na Assembleia Legislativa, o deputado estadual Vinicius Camarinha (PSB) avalia que o vice-governador do Estado, Rodrigo Garcia (PSDB), está preparado para comandar o Palácio dos Bandeirantes – o nome de Garcia é o favorito para concorrer à sucessão de Doria dentro do tucanato. Camarinha, que foi prefeito de Marília, admite a força do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) no Interior, porém, vislumbra estrada de crescimento a Garcia. “Penso que ninguém ganha eleição de véspera”, citou o socialista, lembrando que o atual vice é da região de São José do Rio Preto. O parlamentar fala sobre a função e sobre a crise no PSB.

Como tem sido a condução na liderança do governo Doria na Assembleia Legislativa?
Posso dizer que tem sido tranquila. Lógico que isso não significa ausência de debates e divergências. Contudo, sempre pautei minha relação com os demais deputados com toda a transparência e objetividade. Sem o ‘embromation’ que, às vezes, se faz muito presente em uma casa política. Tenho buscado implementar esse meu jeito de encarar a política na liderança do governo João Doria-Rodrigo Garcia. Olho no olho, debate qualificado e com argumentos, respeitando todas as posições dos deputados, sejam oposição, independentes ou do governo. E faço isso porque parto do princípio de que todas as opiniões, em todas as bancadas, querem o melhor para o Estado.

O senhor foi deputado em outras legislaturas. Como avalia esta atual?
A composição das bancadas na Assembleia reflete o momento histórico no qual o Estado está vivendo. As correlações de força e a visão de futuro que o eleitor, na eleição passada, tem para São Paulo. E os desafios, da mesma forma, também se renovam. Penso que não há como fazer comparações com legislaturas anteriores. O que posso garantir é que os deputados e deputadas hoje não têm fugido da responsabilidade cotidiana de construir Estado melhor para todos os paulistas viverem. Como falei, há divergências de prioridades e caminhos, claro. Mas o fim é o mesmo para todos. Temos aprovados projetos importantes, tanto na área da economia e da infraestrutura, como na área social. Propondo, avaliando e aprovando medidas que estão à altura dos desafios que o momento apresenta a todos nós neste momento de pandemia (de Covid).

Como tem sido a relação com deputados bolsonaristas em um ambiente de Fla-Flu político?
Como disse anteriormente, ouço e debato com todas as forças políticas na Assembleia. E a todas elas dedico o mesmo respeito e a mesma atenção. O debate, às vezes, até caloroso, é absolutamente salutar. Afinal de contas, estamos decidindo, todos os dias, sobre o futuro de milhões de brasileiros e brasileiras que vivem em São Paulo. Desde antes de ser líder do governo eu já mantinha esse mesmo tipo de relação com todas as bancadas. Não seria agora que mudaria. Tenho comigo que na política perde quem se recusa a ouvir o outro. Nós temos que estar sempre abertos a sermos convencidos. Não existe verdade absoluta. Agindo dessa forma, tenho certeza que erramos menos.

Como se deu o convite para o senhor virar líder do governo Doria na casa?
Penso que o convite por parte do governador João Doria e do vice-governador Rodrigo Garcia tenha se dado justamente por este meu perfil de diálogo, de construção de consensos, mesmo que passivos em alguns momentos, de bom ouvinte. E uma sinalização por parte do governo de querer construir pontes, de se pautar pelo diálogo. Creio que para me convidarem, os head hunters (caçadores de talentos) do governador tenham observado a minha atuação quando fui líder partidário e vice-líder de governo.

O senhor foi suspenso pelo ex-governador Márcio França assim que Doria o escolheu para a função. Como viu essa decisão?
Absolutamente natural. Orientação do PSB é manter oposição ao governo do Estado. Não seria lógico quadro filiado a suas fileiras ser líder desse governo. Sempre tive e sigo tendo ótimas relações com o ex-governador Márcio França. Contudo, ao receber convite do governador João Doria e do vice Rodrigo Garcia, não podia me omitir do chamado de contribuir com meu Estado. Penso que no momento minha contribuição será muito mais valiosa aos paulistas sendo líder do governo do que ficar à parte fazendo críticas e sugestões. Política tem de ser feita para construir. É assim que penso. E por isso aceitei o convite.

Acha que houve injustiça, até pelo fato de o senhor ter sido secretário dele?
Absolutamente não. Como disse, o partido tem suas posições, terá candidatos nas próximas eleições e, portanto, não seria coerente eu ficar na legenda se o projeto defendido pela direção estadual caminha em outro sentido.

Em que pé está o procedimento de expulsão partidária?
Não há um processo de expulsão. Me encontro suspenso. Isso implica no desligamento da presidência do diretório municipal da minha cidade e também das comissões da Assembleia que eu ocupava em nome do partido. Isso se dará até que se conclua o processo disciplinar instaurado que está a cargo da direção estadual do PSB.

O PSDB é o destino mais certo para o futuro?
No momento minha preocupação está em fazer funcionar o trabalho na liderança do governo. O momento pelo qual passa o Estado e o País exige o máximo de comprometimento de seus líderes para a construção de soluções. A pauta estará cheia no segundo semestre de votações importantes. É nisso que estou focado. Filiação partidária, assim como eleições, são temas para o próximo ano.

Ir ao PSDB modifica a correlação de forças em sua cidade, já que o prefeito Daniel Alonso, seu adversário, é tucano?
Dentro da tese de uma ida para o PSDB sim, mudaria. Mas volto a falar, isso é menor hoje. Os desafios são muito maiores do que decidir em qual partido estar. A população está preocupada em saber se o seu representante está cumprindo o papel para o qual foi eleito, o quanto ele trabalha para atender suas reivindicações e as questões mais prementes nas áreas da saúde, educação, da assistência social, infraestrutura, habitação, emprego e renda, principalmente neste período de pandemia.

O senhor tem boa relação com Rodrigo Garcia e tem acompanhado o vice. Acredita ser ele nome natural à sucessão de Doria?
Eu diria mais: Rodrigo Garcia está preparado para governar São Paulo. Ele alia capacidade técnica, disposição para o trabalho e, principalmente, apego ao diálogo. Conheço o vice-governador Rodrigo Garcia desde os tempos em que ele foi deputado aqui na Assembleia. Um político jovem, determinado, com uma visão ampla das questões do Estado. Em relação à sucessão para o governo de São Paulo, acredito que o Rodrigo Garcia atende todos os requisitos. Um político que conhece o Estado como poucos, que tem um currículo invejável e sem máculas, conhecedor do Interior e, dessa forma, acredito que a sua escolha para suceder o governador João Doria seja uma ótima decisão.

Onde fica o ex-governador Geraldo Alckmin neste xadrez?
O governador Alckmin é um político experiente, foi governador por quatro mandatos, um quadro valioso da política. No xadrez político, cabe ao ex-governador escolher a sua trajetória. Que me parece já o fez.

É possível driblar o favoritismo de Alckmin no Interior?
Penso que ninguém ganha eleição de véspera. Apesar de o ex-governador ser querido no Interior do Estado, isso não representa que esse seja motivo para fazer o eleitor optar pelo programa de governo que ele vá apresentar. Ser do Interior, o Rodrigo Garcia também é (nascido em Tanabi, região de São José do Rio Preto). Penso que o debate no ano que vem passará por outros conteúdos e não por esse. Visão de futuro, visão de como o Estado se mantém puxando a economia nacional será a pauta. Aí o eleitor vai comparar projetos. Penso que a ideia será muito mais forte que uma pessoa nas eleições do ano que vem.

Como vê a candidatura presidencial de Doria?
Avenida enorme para caminhar. Grande espaço de crescimento. A política de Fla-Flu que você se referiu anteriormente, muito presente nessa disputa (Jair) Bolsonaro e Lula, penso que jogue a favor de uma candidatura com o perfil do Doria. Não é candidato sem sal, tem personalidade, mas está fora dessa polarização a que o Brasil está submetido desde as últimas eleições. Os números das pesquisas indicam isso. Há, nas duas extremidades, total de 40% dos eleitores identificados somando a candidatura de Bolsonaro e de Lula. Me refiro aqui aos que declaram que votariam com certeza. Logo, restam 60% de eleitores que, de pronto – e não pela negação do outro, buscam alternativa. Fazer o diálogo com esses eleitores de uma forma assertiva e inteligente pode garantir a ida de Doria ao segundo turno. E aí são outras eleições.

Acha que ele deveria ser candidato mesmo sem vencer nas prévias, por outro partido?
Pelo que tenho acompanhado, perder as prévias não está no radar do governador João Doria.

Rejeição de Doria é alta a despeito de ele ter liderado a vacinação no País. Por quê?
Uma coisa importante de destacar é o fato de que os temas estaduais, aos olhos da população, ficam sempre espremidos entre temas nacionais e municipais. As luzes nunca estão sobre o governo do Estado e a Assembleia. As prefeituras e o governo federal têm maior preponderância na cobertura da imprensa e nos debates entre as pessoas. Isso ofusca boa parte das realizações de qualquer governador de Estado. Penso que com o debate sendo nacionalizado e o governador conseguindo espaço para falar de suas realizações o jogo mude de figura. Imagina você, e aqui vai um dado: o governo do Estado de São Paulo, sob o comando do governador João Doria e do vice Rodrigo Garcia, está realizando investimento de R$ 7 bilhões em infraestrutura. Enquanto isso, o governo federal – para todo o Brasil –, estará investindo nesta mesma área apenas R$ 4 bilhões. Quando essas comparações começarem a ganhar mais espaço no debate penso que os números das pesquisas dirão outra coisa. Isso sem contar o posicionamento sobre a vacina, o negacionismo de um lado e a busca incansável pelo imunizante de outro. 




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