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Elas dizem muito mais que ni
Por Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
04/06/2005 | 08:35
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Garotas que Dizem Ni. O nome bem poderia batizar uma quadrilha de assaltantes de salto alto, a ser desmascarada pelo agente Axel Foley (Eddie Murphy) num virtual Um Tira da Pesada IV. Bem, quadrilha não é, porque a legislação brasileira exige a associação de pelo menos quatro pessoas para configurar formação de bando e são somente três as tais garotas: as jornalistas Clarissa Passos (de São Bernardo), Viviana Agostinho e Flávia Pegorin. Ademais, não há qualquer fim ilícito na sociedade do trio, que lança neste sábado, em São Paulo, o livro conjunto É Impossível Ler Um Só - Histórias para Devorar a Qualquer Hora (Matrix, 152 págs., R$ 25).

Se as garotas dissessem somente ni em suas picarescas linhas, não haveria razão para prosseguir este texto. Mas não. Elas versam sobre tudo um pouco no volume, na verdade um compêndio das crônicas escritas pelas "três mosqueteiras" - conforme as descreve Mário Prata na orelha do livro - no site que criaram e acalentam desde 2003 (www.garotasquedizemni.com).

"Nos vimos desafiadas a escolher 60 textos, de um universo de 1,5 mil escritos. O que já era difícil ficou ainda pior", diz a co-autora Clarissa Passos. "Os textos tiveram de ser retrabalhados para o livro, que é uma mídia completamente diferente da internet. Todo o processo levou uns dez meses".

É Impossível Ler Um Só segue uma tendência editorial contemporânea, representada por autores como Daniel Pellizzari e André Takeda: a da literatura derivada dos blogs. Aos que desconhecem o termo, o blog (abreviatura de weblog) funciona como uma espécie de diário na internet, com anotações, observações ou ficções de seus autores.

As Garotas que Dizem Ni fundaram seu blog em 2003, após terem sido, as três, demitidas no mesmo dia de um site onde trabalhavam. "Disseram que era corte de gastos, mas demitiram somente nós três entre dezenas de funcionários. Não sei nem se dava para chamar a soma dos nossos míseros salários de gasto", diz Clarissa. Em dois anos de existência, o blog contabiliza 2,2 milhões de acessos e rendeu às cronistas uma coluna semanal em revista de grande circulação.

De que matéria é composto o bojo das crônicas presentes no livro? Uma dica reside no nome do trio, uma distorção dos cavaleiros que dizem ni do clássico Em Busca do Cálice Sagrado, filme do grupo de humoristas britânicos Monty Python; outra, no título da obra, uma apropriação do slogan de uma marca de petiscos industrializados, segundo o qual era impossível comer um só. Mais uma colher de chá para matar a charada está omitida nos codinomes por elas adorados: Clara McFly, em alusão ao Marty McFly (Michael J. Fox) da trilogia De Volta para o Futuro; Vivi Griswold, uma homenagem a Clark Griswold (Chevy Chase), de Férias Frustradas; e Flá Wonka, proveniente do doidivanas Willy Wonka (Gene Wilder), de A Fantástica Fábrica de Chocolate.

Portanto, é a cultura pop, sobretudo aquela fichada nos anos 70 e 80, o farol que guia os textos, equilibrados entre memórias e a pasteurização crítica do cotidiano. As páginas de É Impossível Ler Um Só comportam, por exemplo, a teoria de que Frodo, o minúsculo herói de O Senhor dos Anéis, é uma versão medieval dos estagiários: inexperiente, perseguido, pau-mandado e incumbido de uma missão impossível. O livro contém também o pavor crônico de uma de suas autoras pelo protagonista de ET - O Extraterrestre, observações sobre o linguajar fashionista e um manual de conduta para popstars, que deveriam "evitar tatuagens românticas" que terão de ser refeitas quando o amor for para o brejo.

Há ainda os sex symbols das garotas. O setentão Clint Eastwood lidera a preferência de duas delas, que admitem suspirar durante semanas por alguém com idade para ser seu avô, na melhor das hipóteses. E quem apostou que o galã da terceira seria um Tom Cruise ou um Brad Pitt, pode pegar seu banquinho e sair de mansinho. É ninguém menos que George Lucas, o criador de Guerra nas Estrelas. "A gente é muito estranha, né?", pondera Clarissa.

É Impossível Ler Um Só - Lançamento neste sábado, das 14h às 18h, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional - av. Paulista, 2.073, São Paulo. Entrada franca.




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