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O que você precisa saber sobre a Ilha de Páscoa
Por Paulo Basso Jr.
Do Rota de Férias
18/10/2017 | 12:11
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Em um raio de 2.500 km não há nada, apenas mar. É por isso que a Ilha de Páscoa também é conhecida como o Umbigo do Mundo. Trata-se do ponto de terra mais isolado do planeta, também chamado de Rapa Nui (que significa algo como Ilha Grande), mesmo nome dado ao idioma e ao povo nativo da ilha situada no Pacífico Sul, a cinco horas de voo de Santiago (Chile).

Muitas pessoas sonham em conhecer a região graças aos moais, estátuas erguidas entre os séculos 13 e 17 para homenagear ancestrais influentes das tribos rapa nui e, segundo a crença local, proteger o povo. Mas há diversas outras histórias curiosas a serem descobertas por lá, como a dos homens-pássaro, que marcam uma era que perdurou entre os séculos 18 e 20, quando uma competição que mesclava habilidade, força e até um pouco de sorte definia quem seria o rei do pedaço durante um ano.

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A Ilha de Páscoa ganhou esse nome por ter sido encontrada num domingo de Páscoa de 1722, quando o holandês Jakob Roggeveen desembarcou por lá. Desde então, o local passou por diversas mãos e foi dominado por europeus até 1888, quando um acordo comercial o anexou ao Chile.

Hoje, cerca de 10 mil pessoas vivem ali, a maioria nos arredores do vilarejo de Hanga Roa, o centrinho da ilha. Desse total, aproximadamente 3 mil são rapa nui, povo que tem orgulho de sua origem e faz questão de manter algumas tradições vivas. Entre elas está a realização anual do Tapai, competição na qual homens nadam, correm e carregam até 25 kg de bananas nas costas.

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A plataforma Ahu Tongariki , também conhecida como “Os 15”

A disputa, realizada em fevereiro, celebra o período de alta temporada na Ilha de Páscoa, o verão, quando também são realizadas competições em que são eleitos os misteres e as misses da ilha, sempre na figura de um casal. Danças, desfiles e apresentações culturais marcam os eventos.

A vida na ilha

A vida em um lugar isolado do resto do mundo como a Ilha de Páscoa não é simples. A energia elétrica é parca, o que impede, por exemplo, a manutenção de um frigorífico. Assim, carnes só podem ser compradas quando um comerciante mata um boi ou uma ovelha e vende os pedaços em mesas montadas à beira das estradas. Por isso, a alimentação por lá tem como base os peixes, além de frutas e vegetais, embora a terra local não seja das mais produtivas.

A cada duas semanas, um navio chega do Chile com suprimentos, como gás, usado pela população para aquecer água, por exemplo. Caso alguém não apareça com seu cilindro de armazenamento no dia marcado, terá de esquentar comida na fogueira nas próximas duas semanas. E torcer para não fazer muito frio.

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Próximo à vila de Hanga Roa, o Ahu Vai Ure é um dos pontos preferidos dos turistas

Os navios também se encarregam de levar os produtos para os hotéis e restaurantes locais. E esse trâmite com o transporte eleva (e muito) os preços de tudo que é vendido por lá. Uma cerveja ou Coca-Cola chega a custar R$ 20.

As hospedagens também não são baratas. No hotel Explora Rapa Nui, o mais luxuoso da ilha, três diárias para duas pessoas chegam a custar US$ 4.690. O pacote inclui alimentações, bebidas, tranfers e tours diários. Mas há opções mais econômicas e até campíngs próximos à Hanga Roa, cuja rua principal concentra barzinhos, lojas e baladas que, depois das 2h da madrugada, ficam lotadas no verão (antes desse horário e no restante do ano, curiosamente, são bem vazias).

Os moais

Os rapa nui ficaram isolados dos polinésios (que supostamente os originaram) por quase 500 anos a partir do século 13, o que os levou a criar uma série de culturas próprias que, hoje, fazem a fama da Ilha de Páscoa. A mais exótica, sem dúvidas, é a confecção dos moais, que eram talhados diretamente na rocha de uma montanha com ferramentas de pedra, pois eles não conheciam metais.

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Pedreira onde foram construídos 95% dos moais da Ilha de Páscoa

A pedreira é atualmente um dos pontos mais visitados do Parque Nacional de Rano Raraku, cujo entrada custa US$ 80 e permite acessar, ao longo de 10 dias, os principais sítios históricos locais (é possível voltar quantas vezes quiser a eles durante esse período, com exceção da pedreira e da plataforma de moais conhecida como “os 15”, que podem ser visitados apenas uma vez). Ali foram construídos 95% dos moais, e 396 deles podem ser observados até hoje na região.

Apenas homens honrados e grandes artesãos tinham permissão para entrar na pedreira, já que os rapa nui não eram escravocratas. Eles aperfeiçoaram a construção das estátuas ao longo do tempo, que foram ficando cada vez maiores, chegando a pesar 80 toneladas (isso sem contar um chapéu pintado de vermelho com 20 toneladas que as ordenavam em determinada época). O moai mais alto transportado até a costa tinha 10 metros, mas o maior de todos talhado na rocha, embora nunca tenha sido colocado em pé, pode ser visto deitado na pedreira com seus imponentes 21 metros.

As estátuas demoravam cerca de um ano para ficar prontas. Depois disso, amarradas a cordas e troncos de palmeiras, tinham uma espécie de quilha cortada até se desprenderem da montanha e escorregarem de modo a se posicionarem em pé. Então, eram transportadas como uma geladeira, empurradas de um lado para o outro, protegidas por cordas. Esse curioso processo era conhecido como “a caminhada dos moais”.

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Moais em Anakena, os únicos que ficam ao lado de uma bela praia

O objetivo era chegar à costa, onde eles eram colocados sobre uma plataforma de pedra chamada ahu. As estátuas sempre ficavam de costas para o mar, com a missão de olhar e proteger as tribos. Segundo as lendas da Ilha de Páscoa, quanto mais altas eram, mais proteção ofereciam.

Como o transporte era uma tarefa complicada, muitas caiam pelo caminho, sobretudo nos arredores da pedreira. Para os rapa nui, ao cair elas perdiam o maná, força espiritual que ainda faz parte da crendice popular. Por isso, muitos moais foram largados e até enterrados no local.

Entre os que chegaram à costa, muitas vezes a mais de 10 km da pedreira, destacam-se o Ahu Tongariki (“os 15”), a maior entre as plataformas, com 15 estátuas; o Ko Te Riku, único com olhos restaurados (originalmente eles eram feitos de corais); o Ahu Vai Ure, ponto preferido pelos turistas para ver o famoso pôr do sol da região; e o de Anakena, situado em uma das duas únicas praias de areia branca da ilha (a outra é a Ovahe).

Todos os moais que conseguiram ser transportados até as proximidades do mar foram encontrados tombados no século 20. Muitas vezes, até destruídos. Guerras tribais e tsunamis estão entre as principais explicações para as quedas. Dessa forma, as estátuas que podem ser observadas hoje imponentes em suas plataformas passaram, na verdade, por um longo processo de restauração, que ainda deve perdurar por muitos anos na região.

Homem-pássaro

Assim que o período dos moais acabou, a Ilha de Páscoa ficou marcada, entre os séculos 18 e o início do século 20, pela era do homem-pássaro. Graças a um culto ao deus Make-Make, símbolo de fertilidade, foi dada origem a uma competição anual realizada na primavera e chamada de Tangata Manu, na qual um jovem selecionado de cada tribo rapa nui treinava durante a vida toda para correr perigosamente pelas paredes de uma cratera de vulcão, escalar escarpas, nadar no mar por 1,4 km com o auxílio de pedaços de totora e alcançar uma ilhota, onde escolheriam o melhor lugar para ficar e capturar um ovo de manurata (espécie de gaivota já extinta por lá).

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Cratera do vulcão em que ocorria parte da competição do homem-pássaro

O primeiro a cumprir a tarefa concedia ao líder de sua tribo o reinado da ilha por um ano. Além disso, tinha o direito de escolher uma mulher entre as selecionadas por cada tribo para viver na Caverna das Virgens, sem contato com o mundo externo. O local era tão isolado que muitas delas ficavam com a pele alva, já que os pátios internos da gruta não eram iluminados pelo sol.

Quando as missões católicas chegaram à Ilha de Páscoa, já no início do século 20, o ritual do homem-pássaro foi encerrado. Mesmo assim, é emocionante ir até à cratera de Rano Kau, onde era dada a largada da Tangata Manu. Ali, os guias costumam pedir para o viajante fechar os olhos antes de caminhar um pouco e finalmente se deparar com a enorme circunferência do vulcão, atualmente alagado. O mar ao fundo e a ilhota onde as manuratas chegavam na primavera deixa a vista ainda mais inacreditável. Como quase tudo na fascinante Ilha de Páscoa.




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