Enquanto o título mundial de pilotos não estiver matematicamente definido em favor de Michael Schumacher, Rubens Barrichello está proibido de ganhar corridas na Fórmula 1 se o alemão estiver na pista. “Acho que é isso mesmo”, disse o brasileiro neste domingo em Zeltweg, depois da maior demonstração de subserviência de um piloto, e de soberba de uma equipe, da história da categoria. Rubens, mais rápido que seu companheiro durante todo o final de semana do GP da Áustria, liderou a corrida de ponta a ponta. E a poucos metros da bandeirada, tirou o pé do acelerador, por ordem do time, para Schumacher vencer.

A Ferrari, do alto de sua filosofia que julga inatacável, justificou a decisão com um discurso bem ensaiado: o que vale é o interesse da equipe, o time já perdeu três títulos consecutivos na última corrida recentemente, e se esses pontos forem necessários no final do ano a decisão será aplaudida por todos. “Se isso acontecesse na última prova do ano, ninguém iria dizer nada”, tentou defender Schumacher. “Qual a diferença em fazer agora ou no fim? É assim que trabalhamos. Há quem goste, há quem não goste. Eu não gostei, mas também tenho de obedecer a equipe.”

A ordem do time, indefensável do ponto de vista moral, foi condenada por todos que se dispuseram a falar sobre o assunto no paddock de Zeltweg após a corrida, exceção feita a um ou outro integrante da Ferrari.

“Vergonhosa”, disse Flavio Briatore, diretor da Renault. “Ninguém deveria se surpreender, é assim que a Ferrari trabalha”, falou Ron Dennis, da McLaren. “A FIA, que organiza isso aqui, deveria fazer alguma coisa”, acrescentou Gerhard Berger, da BMW. “Se fosse meu marido, jamais deixaria passar”, comentou Connie, a namorada de Montoya. “Ainda bem que não corro na Ferrari”, completou o colombiano.

Jean Todt, o diretor-esportivo do time que a três voltas do final deu a ordem, repassada ao piloto pelo rádio por Ross Brawn, fez questão de acompanhar pessoalmente a entrevista coletiva dos pilotos na sala de imprensa. Schumacher e Rubinho foram recebidos com vaias pelos jornalistas. Quando um sueco perguntou a Barrichello, Schumacher e Montoya se existe um campeonato de pilotos com classificação individual, já que todos eles justificam as ordens com o argumento de que o Mundial é disputado por equipes, ninguém soube responder. Todos levantaram-se e foram embora.