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Rock in Rio: Elba empolga mais que Young
Leonardo Blaz
Enviado pelo Diário ao Rio de Janeiro
21/01/2001 | 18:49
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Neil Young, um dos ícones mais cultuados do cenário roqueiro mundial, fez seu primeiro show no país na madrugada deste domingo, mas sofreu o descaso de um número considerável das cerca de 125 mil pessoas que compunham o público do Rock in Rio Por um Mundo Melhor. O grande destaque ficou por conta de Elba e Zé Ramalho, que, literalmente, fizeram a Cidade do Rock sacudir poeira, provocada pela ação dos pulos na terra seca. Para muitos, foi a melhor apresentação da noite.

Sem nenhum hit ou música que integre a programação das rádios, apesar de ter uma discografia enorme, Neil Young é considerado o inventor do grunge, décadas antes de o termo ser criado. Versátil, já se dedicou a vários gêneros e dividiu o palco com inúmeros artistas.

Mesmo com esse currículo invejável, o show de Young – que segundo o idealizador do festival, Roberto Medina, era a realização de um sonho – foi ignorado por boa parte do público. Na verdade, a platéia poderia ser dividida em três tipos: poucos fãs do artista, que se comoveram com sua apresentação; muitos aborrecidos, que não estavam nem um pouco interessados no show; e vários desentendidos da obra do músico, mas que se divertiram ao som de canções como Rock in the Free World e Hey Hey My My.

Young não foi muito solícito. Disse poucas palavras no palco e nos bastidores foi o artista que mais exigências fez. Com a imprensa, também não fez questão de ser agradável. A entrevista coletiva com o cantor, marcada para o início da tarde de sábado foi cancelada.

A apresentação fechou um ciclo que foi englobou todos os shows internacionais da noite: performances que não empolgaram, mas receberam o respeito do público, que pôde ver uma ótima amostra do melhor da música norte-americana na atualidade. A bela voz e o talento de multiinstrumentista de Sheryl Crow só conseguiram levantar o público com uma cover do Guns N’ Roses, Sweet Child O’Mine. “Axl está de volta”, disse a cantora, depois de receber fortes aplausos.

O bom folk auxiliado pela competência dos músicos, com destaque para as intervenções da violinista Lorenza Pone, foi bem aceito. Sheryl fez um show honesto, em que os hits chamaram maior atenção, como All I Wanna Do, Everyday e If It Makes You Happy. A cantora poderia apresentar Run Baby Run e sua versão para o clássico All By Myself, sucessos no país por terem integrado trilha sonora de novelas, mas preferiu deixá-los de fora.

O espírito independente e alternativo que a noite anunciava veio mesmo à tona, entretanto, com a Dave Matthews Band. Apesar de ser pouco conhecido no país, dezenas de fãs da banda se aglomeravam próximo ao palco com cartazes que anunciavam “Dave Matthews is the best” (Dave Matthews é o melhor”).

Uma mistura de jazz, blues e rock fez com que a banda chegasse ao primeiro lugar na parada da Billboard com o álbum Before These Crowded Streets, de 1998. Alguns desses hits foram criados quando o vocalista, que comprovou ao vivo ser um exímio violonista, fazia música apenas por hobby, exercendo a profissão de garçom num bar em Charlottesville, cidade da Virginia, nos Estados Unidos.

Após milhões de cópias vendidas, os músicos seguem com mais sete álbuns gravados. Mas mesmo com esse grande número de lançamentos pelo curto espaço de tempo em que se reuniram, a banda mostrou, também, apenas sete músicas no show. Com uma longa duração, muitas com o domínio de sessões instrumentais, a platéia não desanimou, chegando a cantar junto músicas como So Much to Say e All Along the Watchtower, de Bob Dylan.

Passado – Para envolver o público, as três atrações nacionais recorreram a músicas antigas. Sem trabalhos recentes que alcançassem relevância popular, os artistas brasileiros, entretanto, conseguiram tirar da platéia pedidos de bis.

Elba e Zé Ramalho foram inegavelmente a grande surpresa da noite. Sabiamente, os primos paraibanos iniciaram a segunda apresentação com Eu Nasci há Dez Mil Anos Atrás, de Raul Seixas, músico que recebe a devoção de milhares de roqueiros e do próprio Zé, que gravará em seu próximo álbum apenas canções do roqueiro baiano. Com a platéia em polvorosa, seguiu-se um set list composto exclusivamente por canções de compositores nordestinas, como Asa Branca, de Luiz Gonzaga – que fez com vários casais saíssem dançando forró pelo gramado –, De Volta para o Aconchego, de Dominguinhos, e Leão do Norte, de Lenine, entre outras.

Elba Ramalho, tensa no início, mostrou, como é de costume, um vigor incomparável, provando que ainda é a melhor cantora brasileira em aliar música e dança. Já Zé Ramalho foi ovacionado quando cantou Admirável Gado Novo. No fim, a platéia ficou esperando durante alguns minutos a volta da dupla.

Refém dos hits da década de 80, o Kid Abelha conseguiu que o público o acompanhasse em músicas como Alice, Lágrimas e Chuva, Amanhã é 23 e, principalmente, a versão remixada de Fixação e Pintura Íntima. Paula arrancou gritos da platéia masculina, extasiada com suas pernas que os telões não paravam de mostrar. A banda também foi a mais prejudicada da noite por constantes microfonias. Paula mostrou irritação com um produtor inglês que, segundo a vocalista, não parava de gritar em seu ponto eletrônico.




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