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Portinari em São Paulo

Há 54 anos, os famosos painéis Guerra e Paz, último e grandioso trabalho de Candido

Por Wilson Marini
23/02/2012 | 00:00
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Há 54 anos, os famosos painéis Guerra e Paz, último e grandioso trabalho de Candido Portinari, foram enviados diretamente para a sede da ONU (Organização das Nações Unidas), em Nova York. Era um presente do governo brasileiro. Agora, as duas telas gigantes e de grande valor histórico e artístico estão expostas no Salão de Atos do Memorial da América Latina, em São Paulo, com entrada gratuita, pela primeira vez no Brasil depois de restaurados.

Portinari é natural de Brodowski, na região de Ribeirão Preto, interior Paulista. Nasceu em 30 de dezembro de 1903, numa fazenda de café, filho de família humilde de imigrantes italianos. Teve apenas instrução primária. Aos 15 anos, frequentou a Escola Nacional de Belas Artes, no Rio.

A exposição Guerra e Paz é um dos maiores acontecimentos culturais do ano no País. O evento "tem significado especial para a vida cultural dos brasileiros e para a história recente do país", diz com entusiasmo o presidente da fundação, Antonio Carlos Pannunzio.

Ele se refere ao fato de que nos Estados Unidos a obra-prima que Portinari dedicou à humanidade ficou durante mais de meio século ao alcance apenas da vista de diplomatas com acesso às atividades da ONU. "Nem mesmo o seu criador pôde participar da festa de inauguração dos quadros. E jamais voltaria a vê-los: morreu seis anos depois, ironia do destino, intoxicado pelo chumbo das tintas".

A obra

Ambos os painéis foram pintados por Portinari em um galpão com teto de zinco nos estúdios da TV Tupi no Rio, cedidos por Assis Chateaubriand. Devido às dimensões, o trabalho não era possível de ser feito no ateliê em Brodowski. Foram dias de muito calor, conta o filho único, João Candido Portinari, um dos grandes incentivadores do resgate da obra no Brasil. "Meu pai pintava à base de muita limonada".

Portinari criou um dos mais belos e impactantes testemunhos da natureza humana. Retratou a guerra por meio das suas vítimas, como a figura da mãe que perdeu o filho. Sua arte pungente ainda clama por um tempo utópico em que não haja a exploração do homem pelo homem.

Há anos iniciou-se uma campanha para trazer a obra ao Brasil. Em 2007, a ONU decidiu uma reforma em sua sede e anunciou que transferiria provisoriamente a guarda dos painéis ao governo brasileiro e como contrapartida pediu a restauração das obras, o que foi feito, antes da exposição na Capital paulista. 

Exposição

A exposição é itinerante. Depois de São Paulo, vai percorrer algumas das principais capitais do mundo, como Oslo, na Noruega, por ocasião da entrega do Prêmio Nobel da Paz, em dezembro de 2012. E voltará à sede da ONU em 2013. Guerra e Paz ocupa no Memorial da América Latina o local onde normalmente fica o mural Tiradentes, pintado também por Portinari entre 1948 e 1949.

O público pode assistir à projeção de três filmes. A exposição inclui ainda uma mostra de preparatórios à obra, como desenhos a lápis, aquarelas e cartas e outros documentos relativos. A abertura da exposição no Memorial da América Latina, no dia 7 de fevereiro, coincidiu com os 50 anos da morte do artista, em 6 de fevereiro de 1962. 

Frases

"O talento de Portinari transcendia a sua arte. Era respeitado como artista no Brasil e no Exterior e também tinha a admiração de intelectuais, como Carlos Drummond de Andrade. Não é segredo que Portinari, ainda menino, admirava Picasso e mais tarde, Matisse, Modigliani, De Chirico e o brasileiro Almeida Junior, entre outros, que influenciariam a sua carreira."

"Essas obras falam tudo a respeito das aflições e da esperança que atormentam e acalentam a humanidade desde sempre e serão vistas por milhares. Sem dúvida, elas ajudarão o Memorial a cumprir sua missão de aproximar povos, especialmente povos latino-americanos, sobretudo se isso for feito sob a motivação maior, a busca da paz".

(Antonio Carlos Pannunzio, presidente da Fundação Memorial da América Latina)

Números

Os dois quadros foram pintados em nove meses, depois de três anos de estudos;

Cada painel mede cerca de 14 metros de altura por dez metros de largura;

Ocupam uma superfície maior do que o do Juízo Final, de Michelângelo, na Capela Sistina, no Vaticano;

Por duas semanas, em dezembro de 2010, os painéis ficaram expostos no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Foram apreciados por 44 mil pessoas;

Depois, passaram por restauração que durou quatro meses, antes de serem transportados a São Paulo para a exposição no Memorial da América Latina.




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