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Cursos capacitam mulheres em direitos humanos em seis cidades

Pelo menos 2.100 moradoras da região já foram contempladas pela medida, criada há 20 anos

Por Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
26/08/2018 | 07:00
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Claudinei Plaza/DGABC


Atualizada em 29/08/2018 - 12h03

Os cursos de PLP (Promotoras Legais Populares), realizados em seis das sete cidades do Grande ABC, já capacitaram pelo menos 2.100 mulheres em aulas sobre direitos humanos e reprodutivos, Saúde, sexualidade e combate à violência doméstica, entre outros temas. A formação foi lançada em âmbito nacional, em 1994, pela União de Mulheres de São Paulo.

O curso tem duração média de dez meses e contempla 92 horas com temas baseados em currículo básico. Cada município faz adaptação para sua realidade local. As aulas, que contam com a apresentação voluntária de palestrantes sobre os assuntos abordados, são gratuitas e abertas para todas que se interessam.

“A gente percebe uma mudança muito grande nas mulheres durante as aulas. Elas entram de um jeito no curso e saem de outro”, relatou a consultora em estudos de gênero e coordenadora da formação de PLP em um dos dois polos de Santo André, Maria Cristina Pechtoll, 55 anos. “Quando as mulheres se empoderam e fazem parte de movimentos coletivos, mudam seu entorno e suas vidas”, completou.

Em Santo André, o curso existe desde 2001, com aulas no Centro promovidas pela ONG Proleg (Promotoras Legais Populares de Santo André) – atualmente realizadas no Consórcio Intermunicipal do Grande ABC – e também com módulos descentralizados, que têm sido realizados no Bairro Itapoã. Na cidade, já foram capacitadas cerca de 720 mulheres.

Em São Bernardo, as aulas tiveram início em 2005, por iniciativa de vários grupos, como a ONG Entre Nós e a Marcha Mundial de Mulheres, com média de 20 formandas por ano, cerca de 260 pessoas. Há três anos, as atividades ocorrem na Câmara Municipal. Em São Caetano, mais de 300 mulheres já se capacitaram desde 2010. A formação ocorre na Associação Antialcoolica do município. 

Em Mauá, o Coletivo Alumiá Gênero e Cidadania promove o curso desde 2006. “Já formamos cerca de 180 mulheres”, explicou a educadora social e coordenadora da atividade, Vanderli Carvalho Monteiro, 56. “Muitas se conscientizam durante as aulas sobre as violências psicológicas que sofrem. É um verdadeiro despertar de consciência”, relatou. As aulas ocorrem na Defensoria Pública do município. 

A Câmara Municipal de Diadema sedia as aulas promovidas pelo Fórum de Promotoras Legais Populares da cidade. “O curso teve início na cidade em 2004, por intermédio do governo. Deixou de ser realizado em alguns anos e foi retomado em 2011 pela sociedade civil e pelos movimentos de mulheres, que criaram o fórum”, explicou a coordenadora e educadora social, Marcia Regina Damasceno, 56. 

“O objetivo é promover acesso à informação e à formação das mulheres sobre seus direitos como cidadãs e, principalmente, dar subsídios para auxiliá-las a enfrentar a situação de violência doméstica que continua muito frequente”, concluiu. Em Diadema, a estimativa é a de que mais de 650 mulheres já tenham passado pela formação. 

Em Rio Grande da Serra, desde maio do ano passado, ocorre a primeira formação da cidade, parceria entre a a Comissão da Mulher Advogada OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), subseção de Rio Grande e Ribeirão Pires e o Coletivo Afro. Oito moradoras participam das aulas, que eram realizadas na igreja matriz da cidade e há cerca de dois meses ocorrem na sede do Instituto Geledés, em São Paulo. "Tivemos algumas dificuldades logísticas e por isso o curso mudou para lá. Mas temos conseguido fornecer o dinheiro para transporte e também lanche para as participantes", explicou uma das coordenadoras da formação, a assistente social Neusa de Jesus, 48. Informações sobre o curso podem ser obtidas pelo site www.geledes.org.br ou pelo telefone 4821-5306.



Em Ribeirão Pires, formação é retomada após 13 anos

O coletivo Mulheres na Trincheira, de Ribeirão Pires, reorganizou o curso de PLPs (Promotoras Legais Populares) na cidade após intervalo de 13 anos. “Há vários anos não havia novas turmas. Com apoio das PLPs de São Bernardo e de Santo André, conseguimos trazer a formação para cá”, explicou a integrante do coletivo Thais Nunes Perillo, 35 anos.

“Tivemos 34 inscrições, mas contamos com uma média de 12 pessoas por aula. Queremos que todas possam ser multiplicadoras dos direitos das mulheres, então discutimos a Lei Maria da Penha, questões de desigualdade de gênero, o impacto da reforma trabalhista na vida das mulheres, entre outros assuntos”, completou Thais, que também está participando do curso. “A formação dá elementos para a mulher identificar os efeitos do machismo e do patriarcado no seu cotidiano e ajuda a desconstruir isso na sua vivência”, pontuou.

As aulas na cidade acontecem na filial do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que cedeu o espaço. “Temos doação de pó de café e usamos um projetor emprestado. A gente vai tentanto ajuda para poder realizar a atividade”, explicou Thais. “Tentamos, enquanto coletivo, ocupar os espaços nos conselhos municipais para tentar diminuir as desigualdades.”

A enfermeira e professora universitária Maria Inês Puccia, 53, é uma das palestrantes do curso e já atua com as questões sobre a saúde da mulher desde o fim da década de 1990. “As PLPs desenvolvem liderança nas suas comunidades, um elo entre as necessidades das mulheres e os serviços públicos disponíveis, que muitas vezes as pessoas têm dificuldades para acessar”, afirmou. “Ter consciência sobre seus direitos é estar mais próximo para usufruir deles. O curso de PLP traz esse conhecimento, esse direcionamento”, finalizou. 
 

‘Quero dar educação diferente para a minha filha’, diz frequentadora

 

O curso de PLP (Promotoras Legais Populares) de Ribeirão Pires conta com cerca de 12 alunas. Uma delas é a dona de casa Kellyane Silva, 28 anos. A jovem frequenta as aulas acompanhada da filha Helena, 2. Há um mês morando na cidade após se separar, Kellyane conta que o conteúdo que tem aprendido trouxe conhecimentos que nem imaginava. “A cada aula são descobertas incríveis”, relatou.

A dona de casa já frequentava o curso em Santo André, antes de se mudar. “Quero dar para minha filha uma educação diferente da que eu tive, com mais informação. Ensinar que ela pode ser o que quiser. Por isso me interessei pelo curso”, explicou. Kellyane contou que foi durante as aulas que se empoderou para romper com o casamento, já que não era mais feliz. “É uma rede de apoio, de incentivo. Sempre tem uma palavra de entusiasmo quando bate aquele medo da mudança”, citou.

A aposentada Edilene Quirino, 61, faz parte do Coletivo Mulheres na Trincheira, que trouxe o curso para a cidade e se interessou pelas aulas pela possibilidade de ter mais conhecimentos. “Todo dia vou embora com raiva, de ver como as mulheres são massacradas, com homens decidindo pelas nossas vidas. A gente fica sabendo dos nossos direitos e que a gente pode lutar por eles, buscar que sejamos respeitadas”, afirmou. “Quando a raiva passa, eu penso: vamos à luta. O curso abriu muito a minha cabeça e recomendo para todas as mulheres”, sentenciou. 




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