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Paulo Coelho: novo tsunami nas livrarias do mundo
Por Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
21/03/2005 | 13:19
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O mercado editorial dá as boas vindas ao retorno do alquimista que prescindiu da transformação de chumbo em ouro para dedicar-se à mutação da prosa em muito, muito níquel. A partir de terça-feira, Paulo Coelho pede a reintegração de posse das prateleiras de lançamentos nas livrarias para O Zahir (Rocco, 318 págs., R$ 35 em média), seu 12º e mais fresco romance, lançado dois anos depois de Onze Minutos. E trata-se de uma reintegração agressiva, com direito a tiragem inicial recorde entre os autores brasileiros, com 320 mil exemplares, dos quais 85 mil foram comercializados no primeiro fim de semana de pré-venda, dez dias atrás. O fenômeno transcende os limites nacionais, uma vez que estão garantidas de antemão a sua tradução para 36 idiomas e sua distribuição para 60 países.

Em que costados foi dar agora o artífice de bruxas, magos e valquírias, que se diz fiar literariamente em dois Jorges, o baiano Amado e o argentino Luis Borges? Bem, o protagonista-narrador de O Zahir não tem nome, mas trata-se de um escritor famoso, que vende volumes aos borbotões ao redor do mundo mas trafega na calçada oposta à da crítica, e, em outros idos, já militou na composição musical e na (anti)doutrina hippie.

Qualquer semelhança com o autor é mera coincidência? “O livro é baseado em muitas experiências minhas como escritor e como ser humano. Todo livro tem seu aspecto autobiográfico, já que não podemos transformar nada além de nossa própria experiência”, afirma o autor de 58 anos, em entrevista anexada ao material de divulgação de O Zahir. No gatilho da ação do novo romance é que se encontra o desvio entre a ficção e a vida de Coelho. Seu personagem perde a mulher, Esther, de modo súbito. Ela simplesmente desaparece, sem deixar notícias ou vestígios. Oficialmente, suspeita-se de uma ação de terroristas contra Esther, que, jornalista, já fora correspondente de guerra no Iraque. O marido, entretanto, desconfia que o sumiço é efeito das fissuras no casamento de dez anos e do amor conduzido no piloto automático. Aqui, a arte transfigura a vida. “Continuo casado com minha mulher (a artista plástica Christina Oiticica), a quem o livro é dedicado”, diz o imortal ocupante da cadeira 21 da Academia Brasileira de Letras.

O abandono/desaparecimento desencadeia uma jornada rumo ao autoconhecimento e à espiritualização do personagem, conforme a regra paulo-coelhiana, e o instiga a procurar Mikhail, um jovem rapaz com quem Esther se encontrava antes de escafeder-se. A relação dos dois, em tese rivais, distancia-se do código de conduta do cangaço em direção à concórdia e à cumplicidade.

Em tempo: a palavra “zahir”, segundo nota presente no livro, remete ao vocabulário islâmico e significa uma idéia, uma pessoa ou um objeto que se implanta de tal modo no pensamento do sujeito que monopoliza sua atenção dia após dia. “Isso pode ser considerado santidade ou loucura”, encerra Coelho.



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