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Escritora juvenil sonha em publicar suas histórias

Karina de Souza, 15 anos, é jovem talento do Parque Gerassi, localizado em Santo André

Por Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
24/02/2015 | 07:00
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Marina Brandão/DGABC


 Enquanto muitas garotas da faixa etária de Karina Andressa Jacob de Souza, 15 anos, estão centradas nas descobertas da idade, a adolescente, então com 13 anos, iniciava os primeiros passos na carreira de escritora. Foi com essa idade que a moradora do Parque Gerassi, bairro de Santo André, começou a escrever os primeiros capítulos de uma história repleta de aventuras e mistérios, mas com fatos presentes na vida real, como a máfia que envolve o mundo do tráfico de drogas.

A paixão pela leitura e escrita nem sempre foi presente na vida da menina. “Nunca fui uma pessoa que gostava muito de ler, mas comecei a curtir depois que minha mãe comprou para mim o livro As Crônicas de Nárnia. Um dia estava sem nada para fazer e pensei: ‘Vou bolar uma história’”, lembra.

Karina não queria um enredo fantasioso, mas algo que se aproximasse da realidade. No livro chamado Sacrifícios, ela conta a história de dois jovens, Lívia e Jason, que sobreviveram a um crime que culminou na morte da família do rapaz, cometido por traficantes que queriam se apossar da empresa pertencente ao clã. Inicialmente, foram 12 capítulos escritos e a obra, depois de um tempo deixada de lado, foi retomada com o incentivo de uma docente. “Tinha uma professora chamada Raquel, que começou a dar aulas de técnicas de redação e, por causa dela, passei a ter mais gosto em escrever. Vi que o que já tinha escrito estava muito simples e comecei a reescrever. A professora me incentivava bastante, eu levava alguns textos e ela falava o que estava bom e o que podia melhorar”, conta.

Atualmente, a adolescente, que cursa o 2º ano do Ensino Médio, continua complementando seu livro, que já tem cerca de 300 páginas, e começou a criar mais uma história para a composição de outra obra.

Paralelamente a isso, batalha para conseguir uma editora que faça a publicação, porém, lamenta a falta de incentivo maior das empresas do ramo para quem deseja ingressar na área. “Muitas editoras não buscam por novos escritores, novos talentos, e as que buscam acabam cobrando muito caro na hora da produção. Deveria ter um estímulo para os escritores, porque as pessoas que querem começar a carreira não conseguem”, fala ela, dizendo que a empresa mais barata que conseguiu pediu R$ 3.000 por 300 exemplares.

A dificuldade, no entanto, não coloca um ponto final no projeto de tornar seu sonho realidade. E ganhar fama é o que ela menos pensa. “Não quero ser famosa nem de modinha. Quero mostrar minha evolução e tudo o que alcancei com o meu esforço e também tocar o coração das pessoas de alguma forma por meio das minhas palavras.”

Cheirinho de pão toma as ruas do bairro

Um dos aromas mais agradáveis de se sentir é o de pãozinho saindo do forno. E é esse delicioso cheiro que vem da casa de dona Kioko Piovani, 63 anos, e toma conta das ruas do bairro, despertando a fome de quem o sente. Desde 2004, ela produz os mais variados tipos de pães para vender aos moradores do Parque Gerassi. “As pessoas falam que as mato com o cheiro do pão”, fala, aos risos.

Descendente de japoneses, Kioko nasceu na cidade de Piacatu, no interior paulista. O início da produção do alimento que não pode faltar na mesa dos brasileiros começou como hobby, mas se tornou necessidade. “Fazia pães para consumo da família até que meu marido morreu. A hora em que vi que não tinha mais nada para sustentar minha filha (com 15 anos, na época) e pagar as contas básicas, comecei a fazer pães para vender e a turma gostou”, conta a senhora que, tímida, preferiu não ser fotografada.

Dona Kioko tem uma preocupação em especial: oferecer à clientela um produto que seja o mais saudável possível. “Tem que fazer o mais natural possível para manter a saúde das pessoas. Procuro a melhor farinha, ovo fresco, leite da melhor qualidade, porque a saúde do povo está muito ruim, então, procuro fazer de forma que as pessoas comam e se sintam bem, não sintam azia, tanto que o fermento é feito por mim”, salienta.

A senhora diz que nunca parou para contar a quantidade de pães que comercializa por semana. “Comecei vendendo para a vizinha da frente, depois para a outra e agora perdi a conta de quantas pessoas me conhecem e gostam do meu pão.”

Os preços da iguaria variam de R$ 2,50 a unidade de um pão menor a R$ 6 um tipo recheado.

Dona Kioko já foi convidada para trabalhar fora, mas, embora o ofício que exerce a ajude a complementar a renda, ela ressalta que o dinheiro não é o mais importante. “Não faço questão de ganhar muito porque meu maior prazer é a pessoa comer e falar: ‘Ah, que gostoso’. Tenho o maior amor em fazer isso.”

Moradores criam área contemplativa

Ao passar pela Rua Presidente Eurico Gaspar Dutra, uma área verde chama a atenção. Trata-se de espécie de praça improvisada, mas, além de árvores e bancos, há outros complementos que se destacam, como uma casinha de madeira com diversas cadeiras de praia dentro e vasos com variados tipos de flores.

O espaço foi criado pelos moradores do bairro. “Se a gente não fizesse algo, o mato tomaria conta, as pessoas jogariam lixo e ia encher de rato e barata”, fala o retificador Juarez Vigílio Tenório, 56 anos, morador da via há duas décadas.

Na tarde de ontem, dois cães descansavam no local e serviam também de cães de guarda, já que avançavam em que se aproximasse da área.

Periodicamente, os munícipes contribuem para manter a organização do local. “A gente sempre capina para não virar um matagal. Se todo mundo fizesse por aí o que fazemos aqui, não teriam tantos lugares com um monte de entulho e sujeira”, concluiu Tenório.




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