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Agostinho dos Santos está vivo na Vila Tupi

Filha do cantor e compositor famoso nas décadas de 1950 e 1960 mantém bar em São Bernardo

Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
07/02/2015 | 07:00
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A Vila Tupi, em São Bernardo, é um pequeno bairro formado por apenas cinco ruas. Na Professor Gieg, 15, está abrigado o acervo de um dos maiores cantores e compositores da MPB, Agostinho dos Santos. O bar A Ferradura é mantido há 11 anos pela filha do compositor, Nancy dos Santos, 61 anos, e está cheio de recordações da obra e vida pessoal de Agostinho. Recortes de jornais e revistas, discos de vinil, CDs e documentos são alguns dos itens que decoram as paredes do espaço.

Agostinho ficou conhecido nas décadas de 1950 e 1960 principalmente pela interpretação das músicas da peça e filme Orfeu Negro. Ele também apadrinhou o cantor Milton Nascimento, inscrevendo-o em um festival musical, fato que o lançou ao estrelato.

Atualmente, Nancy mantém o legado do pai, dando oportunidade a músicos em início de carreira. “Costumo dizer que aqui não é um bar, é um celeiro onde a arte plástica, a poesia, a literatura e a música têm espaço.”

A programação é variada. Terça-feira é dia de samba, quarta é a vez do nova MPB, quinta-feira bossa nova e sexta, noite de mais MPB. A programação inclui nomes como Elaine Morunga, Reinaldo Márcio, Beto Popular, a dupla Claudionor e Orlando, entre outros. “Eu me sinto muito feliz ao ver que os músicos começam a tocar aqui e depois saem para grandes bares. É uma satisfação enorme.”

Nancy decidiu montar o espaço após o quiosque que tinha no mercado municipal de São Bernardo fechar. Ela disse que a ideia inicial era um estabelecimento de música country e que não havia nenhuma intenção de expor o acervo do pai. Porém, um ano depois da fundação, Nancy resolveu pendurar nas paredes alguns objetos de Agostinho dos Santos.

“Tudo que tenho dele ficou muito tempo guardado. Aliás, a maioria das coisas ainda não está aqui, porque preciso de tempo para catalogar e transformar de fato em um acervo”, contou.

Os objetos do músico acabaram atraindo fãs e admiradores, estudantes de música e Rádio e TV, além de compositores e cantores que ele conhecia. “Desde que mantenho o espaço, aprendi a conhecer outro lado do meu pai, que, como filha, não fazia ideia de que existia. Um ponto é o relacionamento com os amigos, por exemplo. Ele era um pai muito exigente e rígido, mas atencioso comigo e meus dois irmãos.”

Agostinho dos Santos morreu em 1973 em um acidente de avião. As três últimas composições dele, incluindo um dueto com Johnny Mathis, foram realizadas com a ajuda de Nancy. “Acredito que o meu pai ficaria orgulhoso ao ver que continuo próxima da música e, principalmente, dos artistas novos que precisam de apoio. Todo esse espaço só vale a pena pelos músicos e pelos fãs dele”, disse.

Seu Paulo fundou única padaria do bairro em 1967

Em todo o bairro há uma padaria que fornece o tradicional pão francês, alimento que não pode faltar no café da manhã dos brasileiros. Na Vila Tupi, o estabelecimento Flor dos Vianas, na Rua dos Vianas, 908, é de propriedade do seu Antônio Paulo, 82 anos, português natural da cidade de Lamego.

Seu Paulo, como é conhecido pelos frequentadores, fundou a padaria em 1967 e, desde então, não deixou de trabalhar ali nenhum dia. “Penso em parar, mas, por enquanto não me importo em trabalhar no caixa”, disse.

Ele chegou da Europa na década de 1950 e começou a trabalhar na indústria da região como metalúrgico. “Naquela época todo mundo vinha se aventurar por aqui e achava que ia ganhar dinheiro. Eu, como tantos outros, via as propagandas desse País bonito e tinha como sonho morar aqui. Muitos parentes vieram para cá fazer o mesmo”, contou.

Em 1960, seu Paulo montou armazém no bairro junto com a mulher. Porém, o que mais fazia sucesso era o pão francês, que era procurado até pela freguesia de outros bairros. “Como era o que mais vendia, abri uma padaria, né? Foi em 1967, sete anos depois. Assim criei todos os meus filhos que estão aí formados e felizes. Tem um que já está até comigo no negócio”, afirmou.

Ele garante que, para o preparo do pão, não há segredo ou ingrediente especial. “O negócio é assim: se você usa matéria prima de qualidade, ou seja, farinha, leite e ovos, o pão vai ser de ótima qualidade. Esse é o segredo para qualquer coisa que você for fazer na vida.”

Hoje ele se lembra com nostalgia dos primeiros anos na vila. “Antes tudo era barro, e hoje está assim. Eu cresci junto com o bairro.”

Pizzaria que não entrega a domicílio é famosa na região

A pizzaria La Cantonata é conhecida em São Bernardo desde a sua fundação, há 26 anos. O espaço na Rua dos Vianas, 703, foi fundado por dois casais que decidiram investir no comércio e é a única pizzaria da região que não realiza entrega por motoboys.

Sueli Cardoso, 59 anos, é uma das sócias e garante que o espaço é tradicional, por isso a opção por não entregar as pizzas a domicílio. “Acabamos nos tornando um ponto de encontro entre vizinhos e amigos. As pessoas vêm até aqui para conversar, pedem a pizza no balcão para levar ou comem aqui mesmo.”

Sueli afirma que são vendidas em torno de 500 redondas por semana. O carro chefe da casa é a Cremosa, preferida dos clientes. Os ingredientes são lombo, requeijão cremoso, bacon e parmesão. A iguaria sai por R$ 43.

O sabor é o preferido do comerciante Fernando Sanchez, 49, que mora no bairro há 11 anos. Ele vai até o local comprar pizza para a família todos os fins de semana. “O sabor e a massa deles é muito diferente. Isso porque é fininha no ponto, do jeito que a gente gosta”, disse.

Porém, a clientela não é só composta por moradores da Vila Tupi e das sete cidades. “Temos clientes que vêm até do Centro de São Paulo para comer a pizza. Mas não pretendemos sair daqui, a gente gosta muito do bairro. Ele, inclusive, começou a se desenvolver depois da pizzaria. Acho que o importante é respeitar quem mora aqui, tanto que quando dá 23h30, mandamos todo o mundo embora”, afirmou.

No cardápio há 62 tipos de pizzas salgadas e quatro doces. No imóvel, onde anteriormente funcionava um bar, precisou ser ampliado para comportar todos os clientes da pizzaria. “Vender pizza é um ótimo negócio porque não temos alta e baixa temporada. Não importa o tempo ou a época, todo mundo quer comer pizza.” 




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