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Aos 105 anos, umbanda ainda enfrenta preconceitos

Religião fundada no Brasil agrega elementos das culturas branca, negra e indígena

Por Natália Fernandjes
Do Diário do Grande ABC
15/11/2013 | 07:00
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Marina Brandão/DGABC


A comunidade umbandista comemora 105 anos da religião brasileira que cultua os Orixás hoje. Apesar de ainda enfrentar o preconceito de grande parte da sociedade, inclusive de seguidores, a doutrina comemora o diálogo interreligioso e a disseminação de sua filosofia, que prevê a humildade, caridade e a harmonização das famílias.

Fundada em 15 de novembro de 1908 pelo médium Zélio de Moraes, no Rio de Janeiro, a religião ganhou força à medida que o catolicismo não atendia às necessidades da população, explica o presidente da Federação Umbandista do Grande ABC, Ronaldo Antônio Linares, ou apenas Pai Ronaldo. Sua estimativa é que a umbanda tenha cerca de 40 milhões de adeptos no Brasil e que cerca de 15% dos moradores da região sejam praticantes.

De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), no entanto, apenas 0,33% da população do Grande ABC se declara seguidor da religião. “Muitos se declaram espíritas para fugir do preconceito, que quase sempre ocorre por desconhecimento ou fanatismo”, diz.

O cenário da umbanda atual mostra que muitos ‘filhos’ que abandonaram a religião em detrimento dos cultos evangélicos estão retornando, observa Pai Ronaldo. São pelo menos 400 terreiros espalhados pelas sete cidades, mas, segundo ele, cerca de 70% dos praticantes não conhecem sua filosofia. “Mistura-se muito com o candomblé (religião de influência africana) e esoterismo”, destaca.

O culto umbandista congrega elementos das culturas branca, negra e indígena. “Temos um altar católico, uma prática espírita e um ritual meio africano, meio indígena”, explica pai Ronaldo. Nos terreiros são realizadas as chamadas giras, onde os seguidores fazem suas preces, cantam, dançam e incorporam diversos guias.

O primeiro encontro da umbanda foi realizado em 16 de novembro, na Tenda Nossa Senhora da Piedade, no Rio de Janeiro, um dia após a primeira manifestação do Caboclo das Sete Encruzilhadas no ainda jovem Zélio de Moraes, durante uma reunião da recém-formada Federação Espírita de Niterói. A partir de então, a religião se difundiu e surgiram diversos centros de umbanda.

“Ele (Caboclo das Sete Encruzilhadas) fez revelações sobre acontecimentos que estavam por vir, como duas ondas de sangue sobre a Europa e que um único engenho militar seria capaz de destruir milhares de pessoas”, afirma Pai Ronaldo ao explicar que as previsões se referiam às duas guerras mundiais e à explosão da bomba atômica no Japão.

Ao lembrar do episódio em que conheceu Zélio de Moraes, já idoso, a emoção tomou conta de Pai Ronaldo. “Ele me disse que eu era o homem que iria tornar conhecido o seu trabalho”, lembra. E assim o médium vem fazendo. Desde a fundação do Santuário Nacional da Umbanda, na Estrada do Montanhão, em Santo André, há quase 40 anos, até a luta para oficializar o dia 15 de novembro como o Dia Nacional da Umbanda.

Criado para que a comunidade umbandista tivesse um espaço para cumprir seu rito, o santuário é refúgio em área de 645 mil metros quadrados, sendo apenas 5% construída. “Quando chegamos aqui isso tudo era um espaço devastado após anos de exploração mineradora. Hoje temos uma área verde preservada”, orgulha-se Pai Ronaldo.

Crença é lembrada em atividades culturais

Além de ser lembrada em sessão solene, realizada pela Câmara de Ribeirão Pires, no dia 22, a umbanda integra calendário de atividades das prefeituras voltado ao Dia da Consciência Negra, celebrado na quarta-feira.

Ribeirão Pires organizou série de apresentações na data, como a do grupo Cultura Afro-Brasileira, comandado pelo Pai Wilson, que reunirá os povos de umbanda da cidade. Além disso, a população poderá assistir gratuitamente a diversos shows, que serão realizados a partir das 14h no palco da Vila do Doce, no Centro.

Em Diadema, o evento Kizomba – Festa da Raça, organizada pela Coordenadoria de Promoção de Políticas Públicas para a Igualdade Racial, terá atividades como uma celebração da Pastoral Afro da Paróquia Arnaldo Jansenn, no dia 23 de dezembro, às 19h, no Poliesportivo Eduardo de Jesus (Avenida Brasília, bairro Campanário). A celebração é uma missa que envolve diversas religiões. Já no dia 30 de novembro será realizada uma Roda de Conversa do Ponto de Cultura Êremi – Casa das Minas Thoya Jarina, no Centro Cultural Canhema (Rua 24 de Maio, 38), às 16h.

São Bernardo realizou sessão solene em comemoração à data na terça-feira e a 1ª Festa em Homenagem ao Dia Nacional da Umbanda ocorreu no domingo. Promovido pela AUEESSP (Associação Umbandista e Espiritualista do Estado de São Paulo), o evento atraiu milhares de seguidores da religião ao Ginásio Baetão.

“É uma data muito importante para a umbanda e a maior parte dos terreiros da região fará trabalhos voltados à memória de Zélio de Moraes”, destaca Pai Ronaldo. 




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