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Romance de cinema baseado em história real

Cineasta Bruno Barreto resgata conto de amor homossexual em 'Flores Raras'

Por Luís Felipe Soares
16/08/2013 | 07:10
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Divulgação


O Rio de Janeiro dos anos 1950 serve como cenário de um intenso e problemático encontro amoroso homossexual. Em visita a uma amiga na Cidade Maravilhosa, a poetisa norte-americana Elizabeth Bishop inicia inesperado romance com a arquiteta local Lota de Macedo Soares. A história real é trazida para as telonas pelo filme 'Flores Raras', que chega ao circuito comercial após passar por festivais na Alemanha e na França.

Orçado em cerca de R$ 13 milhões, o projeto do longa-metragem existe desde 1995, quando a produtora Luci Barreto adquiriu os direitos em torno do livro 'Flores Raras e Banalíssimas – A História de Lota de M. Soares e Elizabeth Bishop', de Carmen Lucia Oliveira. A direção caiu nas mãos de seu fillho, Bruno Barreto ('O Que É Isso, Companheiro?').

“Li o livro e me apaixonei. Entre 2004 e 2008, tentei encontrar o melhor ângulo para contar essa história, buscando saber o motivo de contá-la. Percebi que o que permeava essa jornada era a perda. Como a personagem forte e vencedora representada pela Lota não sabia perder e como a perdedora, disfuncional e alcoólatra escritora, mal ou bem, fica cada vez mais forte por saber justamente como lidar com a perda de tudo”, explica Barreto. “É preciso que um diretor tenha um caminho muito claro do que quer fazer.”

Nas filmagens, ele comandou a veterana Glória Pires, que sempre esteve envolvida com a produção desde o início da ideia para interpretar Lota. O papel de Elizabeth Bishop caiu nas mãos da australiana Miranda Otto (da trilogia 'O Senhor dos Anéis').

Como os protagonistas conversam em inglês, desenvolver um personagem em outra língua foi um desafio para Glória. “Foi bastante complicado. Tive de soltar a língua. Faz mais de 40 anos que trabalho com interpretação e tento fugir às regras, buscar desafios. Quando o papel veio, eu dei pulos”, recorda a atriz.

Ela também avaliou que o tema do longa é propício para alimentar debates sobre a liberdade sexual. “Acho que o filme chega em um momento importante, onde essa discussão quanto às diferenças já está aberta. O projeto vem para acrescentar, já que mostra essas duas mulheres em uma vida comum. Isso desmistifica um pouco o universo gay, pois são seres humanos como quaisquer outros”, afirma.

'Flores Raras' será lançado internacionalmente, inclusive em salas dos Estados Unidos. A esperança é de que as atuações possam colocar as atrizes como aspirantes ao Oscar do ano que vem.

RECONSTITUIÇÃO

Além da trama, o filme chama a atenção pela reconstituição do Rio de Janeiro do passado. Enormes paredes azuis ficavam ao fundo das cenas para depois serem substituídas por paisagens, como a construção do Parque do Flamengo. “É o milagre da computação gráfica!”, brinca Bruno Barreto. O trabalho de efeitos especiais é completado pelo figurino, com roupas feitas a mão a partir de modelos antigos. É uma produção de primeira qualidade.

Diferenças de personalidades são marcadas por boas interpretações

Em seu 19º projeto, o cineasta Bruno Barreto embarca em história de amor que parece ser pouco convencional nos dias de hoje, e que ganha ar ainda mais proibido nos anos 1950. 'Flores Raras' coloca frente a frente personalidades bem diferentes que encontram ponto em comum na paixão.

Se de um lado Lota Macedo de Soares (Glória Pires) é uma mulher decidida, a escritora Elizabeth Bishop (Miranda Otto) vive a brigar com seu jeito introvertido. O encontro desses mundos gera faíscas repletas de tensão sexual e colisões de ideias, ações e até mesmo de sentimentos. Parte das sutilezas do romance gira em torno do quão entregues elas estão a essa história. Os altos e baixos da relação refletem em seus trabalhos, com Lota extremamente envolvida na construção do Parque do Flamengo e Elizabeth fervilhando seus versos no novo escritório diante de paisagem magnífica.

O modo como lidam com a perda é o mote do longa-metragem. É no dom de saber deixar as coisas irem (e virem) que aprendemos a lidar com a vida. No caso das protagonistas, tudo se torna ainda mais intenso.




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