Os dois Budas gigantescos esculpidos na rocha em Bamiyan, no Afeganistão, destruídos em 2001 pela fúria iconoclasta dos talibãs, escondiam um tesouro arqueológico. Trata-se de um sutra (texto sacro) budista, cujos fragmentos foram encontrados este ano por uma equipe internacional de pesquisadores entre as ruínas das duas estátuas.

A descoberta, que aconteceu em julho, foi anunciada hoje pela agência japonesa Kyodo, que cita o professor Kazunobu Matsuda da Universidade budista de Kyoto. "A descoberta é de grande relevância, já que é a primeira vez que são encontrados documentos no interior de estátuas budistas afegãs", declarou Matsuda.

"O sutra foi escrito com caracteres utilizados na região que corresponde ao norte da Índia, Paquistão e Afeganistão", prosseguiu o estudioso, que acrescentou que "no fragmento encontrado, estão escritos os princípios básicos do budismo, como a crença na efemeridade de todas as coisas terrenas". "O material utilizado é casca de bétula, envolvida em tecido colorido com lama, talvez um símbolo dos ossos do Buda", descreveu o pesquisador.

O grupo de pesquisadores encontrou no mesmo lugar uma pequena placa metálica, decorada com desenhos de flores, e um selo de terracota com desenhos de serpentes e uma criatura com asas. Segundo os especialistas, essas decorações poderiam estar ligadas a um grupo ou instituição específica que teria financiado a construção das estátuas.

Os dois Budas gigantescos que existiam em Bamiyan, esculpidos na rocha, foram destruídos por militantes integralistas islâmicos em março de 2001, sob o regime dos talibãs.

No mês passado, numa região a cerca de cem quilômetros de Bamiyan, um grupo de arqueólogos japoneses descobriu algumas grutas com afrescos de inspiração budista, revelando que o budismo era praticado nas regiões norte e central do Afeganistão de modo muito mais intenso do que os cientistas acreditavam.