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Banco do Povo reduz empréstimos
Por Niceia de Freitas
Do Diário do Grande ABC
17/12/2004 | 10:25
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O volume de empréstimos concedidos pelo Banco do Povo-Crédito Solidário caiu 7,4% de janeiro a novembro deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. Nos primeiros nove meses de 2004, o total de recursos liberados totalizou R$ 2,5 milhões, contra R$ 2,7 milhões em igual período de 2003. Desde a sua fundação, em maio de 1998, até novembro deste ano a instituição emprestou R$ 11,5 milhões.

O Banco do Povo atribui a redução no volume de concessões sobretudo ao aumento da concorrência. O sistema financeiro, antes voltado apenas ao cliente com maior poder aquisitivo e capaz de comprovar renda, partiu neste ano para a bancarização e possibilitou a abertura de conta corrente a população até então excluída do mercado.

Com o mesmo objetivo, de permitir o acesso das classes mais pobres ao sistema financeiro, o governo federal lançou neste ano linhas de microcrédito destinadas a clientes de baixa renda e empreendedores populares com juros acessíveis. Para o gerente executivo do Banco do Povo, Fernando Costa de Amorim, as iniciativas confundiram o mercado. "Há diferença entre o crédito concedido para consumo e o destinado a incrementar a produção", ressalta. Ele destaca que a finalidade do Banco do Povo é oferecer empréstimos a empreendedores que querem impulsionar ou abrir negócio próprio, seja formal ou informal.

A redução do risco também é apontada por Amorim como justificativa para a diminuição do volume emprestado. O gerente executivo lembra que, neste ano, o banco se esforçou para diminuir a inadimplência, que caiu de 4,6% dos contratos em 2003 para 3,86% neste ano. "É melhor ter menor volume, mas pagamento garantido", comenta. Segundo Amorim, o tempo despendido para reduzir a inadimplência reduziu a possibilidade de prospectar novas concessões.

Apesar do desempenho negativo, Amorim ressalta que o objetivo do Banco do Povo é conceder mais empréstimos e buscar novas fontes de recursos. A boa notícia nesse sentido é que o governo federal permitiu a partir do ano que vem a tomada de empréstimos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) por meio de instituições financeiras. Segundo Fernando Costa de Amorim, a Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil poderão repassar os recursos. "Até então era só o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento e Econômico Social)", diz.

A intenção é conseguir empréstimo de pelo menos R$ 2 milhões para engrossar a conta do banco. Atualmente, o banco opera com carteira ativa de R$ 1,4 milhão, contabilizada até novembro deste ano, com 1.145 clientes. Quando o Banco do Povo foi criado, o BNDES liberou R$ 1,6 milhão.

Líder - As Prefeituras de Santo André, Mauá, Ribeirão Pires e Diadema são parceiras no projeto juntamente com a Cúria Diocesana. Santo André lidera ranking de empréstimos concedidos, com total de R$ 1,4 milhão, seguida por Mauá (R$ 351 mil), Diadema (R$ 335 mil), Ribeirão Pires (R$ 200 mil) e Cúria (R$ 73 mil). Dos créditos solicitados, 64% foram destinados a empreendimentos comerciais, 31% de serviços e 5% para a indústria. Desses, 84% são atividades informais e 16%, formais. Lideram a carteira os recursos destinados a capital de giro (compra de mercadoria e matéria-prima).

O empresário Evandro Paulo Engelberg é um dos clientes do Banco do Povo. Proprietário da loja Poison, revenda Hering e moda multimarca, em Santo André, diz ter descoberto as possibilidades oferecidas pela instituição há cinco anos. "Consegui vários empréstimos, com os quais reformei a loja", acrescenta. Engelberg comenta que o acesso aos serviços da instituição é fácil, já que há menor número de exigências para aprovação do crédito do que em bancos tradicionais. "Basta ter o nome limpo", afirma. No entanto, o comerciante reconhece que os juros cobrados, 3,9% ao mês, é alta e deveria ser reduzida, já que os recursos do Banco do Povo são subsidiados pelo BNDES.

Outra empreendedora, Célia Aparecida Cassiano de Melo, conduz há um ano empreendimento informal do ramo de artesanato. Célia produz na própria casa, em Ribeirão Pires, terços para instituições religiosas e obteve empréstimo de R$ 4,6 mil no ano passado, pelo qual paga R$ 427 por mês - o parcelamento está no final. Com o dinheiro, conseguiu atender à época a pedido de oito mil itens. Atualmente, Célia produz 1,2 mil terços por mês, mas prepara ampliação do mix de produtos, para a qual espera obter novo empréstimo.

Serviço - A instituição mantém unidade de atendimento em cada cidade. A agência do Banco do Povo de Diadema foi a última a entrar no projeto, com recursos da Prefeitura injetados no final do ano passado.

Em novembro, a unidade de Diadema realizou 77 atendimentos, que totalizaram R$ 33 mil em créditos. Desde dezembro do ano passado foram contabilizados 2,7 mil operações e total de R$ 401 mil em empréstimos. A maioria dos crédito situa-se na faixa até R$ 1 mil.




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