Ele já foi chamado de Deus, mas conheceu o inferno em que se encontram os dependentes químicos e alcoólatras, em suas tentativas de largar o vício. Sobreviveu à morte prematura de um filho, em decorrência de uma queda do 53º andar de um edifício em Nova York.

Depois de superar tudo isso, o lendário guitarrista inglês Eric Clapton contou sua conturbada trajetória no livro Eric Clapton: A Autobiografia (Planeta, 400 págs., R$ 45 em média).

Um dos instrumentistas mais influentes do rock, o músico chega aos 62 anos fortalecido por problemas que começou a enfrentar quando era criança.

Nascido em 30 de março de 1945, na cidade de Ripley, interior da Inglaterra, Clapton foi criado pelos avós maternos. Sua mãe, Patricia, teve um rápido caso com um aviador canadense, casado, que negou-se a assumir a paternidade. Preocupada com a reação conservadora da sociedade local, ela deixou o menino ali e anos depois voltou à cidade, casada e com dois filhos.

Clapton se interessou pela guitarra na adolescência.Autodidata, desenvolveu seu estilo a partir de técnicas utilizadas por ícones do blues, como Freddie King, Howlin’ Wolf e Robert Johnson.

Não demorou muito para que seu virtuosismo chamasse a atenção. Na década de 1960, era comum encontrar pichações em muros de Londres com a inscrição: “Clapton é Deus”. O artista conheceu a fama ao participar de bandas como Yardbirds e Cream.

Foi na época do flower power que o músico começou a beber e a consumir drogas, principalmente a heroína, de maneira compulsiva. Seu casamento com a modelo e atriz Pattie Boyd sucumbiu depois de diversas bebedeiras, escândalos, discussões e traições de Clapton.

Mulherengo assumido, ele começou a cortejar Pattie quando ela ainda era casada com seu amigo, o ex-beatle George Harrison, no fim dos anos 1960.

Uma boa oportunidade para conhecer a obra do guitarrista é o CD duplo Complete Clapton (Universal, R$ 40 em média). O disco reúne canções emblemáticas de diversas fases do artistas, entre elas Sunshine of Your Love, Layla, Cocaine, I Feel Free, Wonderful Tonight e Tears in Heaven.

trechos

“Não estava muito preocupado com o que as pessoas pensavam; estava bêbado a maior parte do tempo e me divertindo.” (pág. 187)

“Por mais que amasse Pattie naquela época, a verdade é que a única coisa sem a qual não conseguia viver era o álcool.” (pág. 219)

“No início de 1981, quando partimos em uma enorme turnê de 57 datas pelos Estados Unidos, minha ingestão de álcool era suplementada por grandes quantidades de Veganin, um sedativo à base de codeína. A 13 de março, uma sexta-feira, tive um colapso ao sair do palco. Fui diagnosticado com cinco úlceras perfuradas, uma do tamanho de uma laranja pequena.” (pág. 226)

“A sala de estar principal tinha janelas que iam do chão ao teto em uma das laterais e podiam ser abertas para limpeza. Conor corria pelo apartamento, brincando de esconde-esconde com a babá. Correu pela sala, e direto janela afora. Ele caiu 49 andares, antes de se chocar contra o telhado de um prédio de quatro andares ao lado.” (pág. 291)