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Na crise, Siscom lança mão de novas formas de cobrança

Para driblar cenário, empresa de recuperação de
crédito usa redes sociais e parceira com universidade

Soraia Abreu Pedrozo
Diário do Grande ABC
16/10/2016 | 07:00
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Ari Paleta/DGABC


 A Siscom, empresa de recuperação de crédito sediada há 20 anos em São Bernardo, atravessa situação inusitada. Em tempos de crise, quando, na teoria, deveria ampliar seu faturamento – já que a demanda por esse tipo de serviço cresce, pois mais pessoas deixam de honrar seus pagamentos –, não é o que tem ocorrido. A receita de 2015, de R$ 97 milhões, deve encolher 10% neste ano, para R$ 87 milhões. Diante disso, a companhia lança mão de formas adicionais de cobrança e novas parcerias para driblar o cenário.

“O aumento do desemprego impacta diretamente na recuperabilidade dos valores devidos. E a situação vem piorando ao longo do ano. Tanto que, da nossa base, 48% dos inadimplentes alegam a falta de trabalho como motivo para o não pagamento”, explica Satoshi Fukuura, CEO da Siscom, ao pontuar que a carteira de devedores da companhia gira em torno de 1.000 CPFs.

“E aqui na região a taxa de desemprego é maior do que a média do País, já que a indústria, mais presente no Grande ABC, segue dispensando altos volumes de profissionais, o que gera efeito em cadeia, com o recuo do consumo. Em 30 anos de atuação nesse mercado eu nunca vi algo assim. É assustador”, afirma Fukuura. De acordo com dados do Seade/Dieese, nas sete cidades 16,4% da PEA (População Economicamente Ativa) estava desocupada em agosto, a maior marca para o mês desde 2005, o que representa 234 mil pessoas sem emprego.

E nem a Siscom passou ilesa nessa conjuntura. O executivo explica que, neste ano, apesar de sua carteira de clientes ter crescido 10%, ele tem desembolsado 20% mais para recuperar 10% menos. Situação que exigiu gerenciamento maior dos custos e do tamanho da empresa. Para melhorar a margem de rendimentos, a companhia enxugou em 15% o quadro de funcionários, para 1.050 colaboradores.

Fukuura acredita que uma melhora só deva começar no segundo semestre de 2017, mas, até lá, a criatividade é palavra de ordem dentro da companhia. Tanto que a Siscom investiu R$ 400 mil, de janeiro a agosto, em treinamento, a fim de preparar sua equipe para atuar em outras frentes.

Hoje, ainda, 80% das cobranças são feitas por ligações, o que força o devedor a negociar na hora. Porém, estão sendo introduzidos canais alternativos, como SMS, e-mail, chat, WhatsApp e Facebook – com mensagem inbox. “O objetivo é que o consumidor escolha como e quando vai pagar. A autonegociação é uma grande tendência”, assinala.

De acordo com o CEO, a inadimplência com cartão de crédito e empréstimo pessoal é muito mais frequente do que de carro e casa, situação que pode custar a retomada do bem. Ainda assim, a negociação nesses casos tem crescido, e é analisado caso a caso. “Por exemplo, financiamento de veículo em 36 parcelas. Com cinco atrasos logo no início do contrato, percebe-se que concedeu crédito a quem não devia. Agora, se faltam apenas 12 para terminar de pagar, vamos entender o que aconteceu para voltar a manter a quitação em dia.”

A empresa também está ingressando no segmento de Educação, ao negociar com universidades a recuperação do pagamento das mensalidades, a retenção da evasão de alunos e a reativação de estudantes que trancaram sua matrícula. “Com a aproximação, cerca de 17% deles voltam para a sala de aula. E queremos ampliar esse percentual”, conta. A Metodista é uma das novas clientes, a USCS e a Faculdade de Direito de São Bernardo estão sendo prospectadas.

“Com a Metodista estamos desenvolvendo, ainda, parceria para democratizar a educação financeira, que é a base de tudo, para ajudar as pessoas a saírem do buraco. Queremos abrir para todos os cidadãos, não só aos alunos. O objetivo é envolver a comunidade local.”


Mercado de crédito ‘podre’ é aposta para 2017

Ainda como parte das iniciativas para driblar o cenário de dificuldades da economia e voltar a crescer, a Siscom está se preparando para ingressar no mercado de créditos podres em 2017. Na prática, esse tipo de atividade envolve tentar retomar valores de calotes que já eram dados como perdidos. “Crédito com mais de três, cinco ou dez anos se torna irrecuperável. A cada cinco anos, a dívida prescreve, e o nome não é negativado, o que eleva a dificuldade na retomada. Lá fora, nos Estados Unidos, Chile, México existem fortes mercados secundários”, explica Satoshi Fukuura, CEO da Siscom.

“Dependendo da faixa de atraso pode ser um bom negócio. Para créditos em haver acima de três anos, apenas entre 3% e 4% do valor costuma ser recuperável, ou seja, o deságio varia entre 95% e 97%, o que é muito alto”, exemplifica. Na prática, portanto, considerando dívida de R$ 10 mil, se conseguir o pagamento de R$ 1.000 já está satisfatório. “Geralmente, funciona assim. A empresa que comprou sozinha o portfólio de créditos podres de outra entra em acordo de que, se conseguir recuperar até determinado valor, tudo fica para o comprador. Porém, se passar disso, é rateado com quem vendeu a carteira”, esclarece.

A prospecção da Siscom se dará, inicialmente, com bancos de pequeno e médio portes, assim como os de montadoras.  




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