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Famílias desocupam prédios no centro de SP
Do Diário do Grande ABC
27/03/1999 | 14:26
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Desmaios, bate-bocas, 400 PMs para garantir a segurança e uma legiao de moradores desamparados, com os móveis enfileirados na calçada, sem saber para onde ir. Cenas da reintegraçao de posse de dois edifícios, na manha deste sábado no centro de Sao Paulo.

Em cumprimento ao mandado judicial, 330 famílias abandonaram dois edifícios que ocupavam desde fevereiro, na Avenida Prestes Maia e rua Brigadeiro Tobias. Sob ordens de oficiais de Justiça, garantidos por soldados do Batalhao de Choque, desde 6 horas os moradores desmontaram móveis e carregaram pertences para os caminhoes. Houve confusao. Mulheres desmaiaram, crianças perderam-se dos pais.

Sobrevivendo com salário mínimo, os moradores estavam sem rumo. "Se pelo menos deixassem a gente pagar o que pode pra morar numa casinha", lamentava o vigia Carmelito da Conceiçao, depois de descer 10 andares de escada com um armário nas costas e uma bolsa na mao. Baiano, ele veio para Sao Paulo há três anos "para tentar a sorte". Apesar de tudo, diz que melhorou de vida. "Se aqui a vida é dura, lá é pior", disse. "Agora eu sou trabalhador registrado."

Com o violao nas costas, puxando pelo braço a mulher e a filha de 3 anos, o cantor sertanejo Laércio Afonso da Silva, de 44 anos, apelava para a verve de compositor para definir a desolaçao: "Nao é vergonha nao poder morar/Se eu nao posso ser proprietário/Ninguém é dono de nada/Essa é a realidade da vida." Em dois cômodos, sem cozinha e banheiro, moravam sete pessoas de sua família.

Na calçada, encostados nas parede, ficavam amontoados os pertences dos moradores: roupas, fogoes, quadros, bonecas. Aos 73 anos, o alagoano Antenor Rodrigues Oliveira, tentava encontrar um lugar para o saco de estopa com suas roupas. Veio para Sao Paulo em 1946, foi PM, trabalhou na construçao civil, na lavoura. "É triste demais", dizia. "Esperava melhorar de vida, mas nunca é como a gente quer." No local, um dos proprietários, Augusto Amorim, de 24 anos, disse que os prédios abrigarao um hotel. "É triste, mas nao temos nada a ver com os problemas do país."




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