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Documentário mostra a vida de Anselmo Duarte
Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
17/03/2001 | 15:15
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Redescobriu-se o Brasil – da forma mais pirotécnica possível – no último 22 de abril. Agora, em 2001, a mesma data será reservada para o redescobrimento, em áudio e vídeo, do ator e diretor Anselmo Duarte. É justamente no próximo 22 de abril que a TV Cultura incrementa o horário nobre de sua programação com o documentário De Salto para o Cinema – A História do Cineasta Anselmo Duarte. Essa cruzada cabralina acerta as contas com um homem que acumula os títulos de galã de ponta das companhias cinematográficas Atlântida e Vera Cruz (esta em São Bernardo), de ator com participações em 38 filmes, de diretor de nove longas-metragens e de episódios em outros dois, além de ser o dono da única Palma de Ouro concedida a um filme brasileiro.

O prêmio em Cannes, em 1962, foi a consagração da obra-prima de Duarte, O Pagador de Promessas, e o auge da popularidade do primeiro diretor a pintar de verde-amarelo as indicações para o Oscar de filme estrangeiro. O período é fartamente retratado em De Salto para o Cinema, arquitetado por Anselmo Duarte Júnior, com o endosso do pai. “Sou inclusive o narrador do documentário. O Júnior ficou aqui em casa durante uma semana, gravou 20 horas de entrevista e lembrou, então, que eu falava pelos cotovelos. Resolveu colocar os meus depoimentos ao fundo, para narrar os fatos”, adianta o cineasta Duarte.

No formato que vai ao ar na TV Cultura, o trabalho de Júnior ficou com 50 minutos. Lá estão condensados 80 anos de vida e 54 de carreira do ator e diretor natural de Salto, cidade no interior de São Paulo que Duarte ainda adota como lar. “Estreei como ator em Querida Suzana (filme de 1947, que também lançou no cinema Nicete Bruno e Tônia Carrero), dirigido por Alberto Pieralisi”, continua Duarte, deixando de lado o verdadeiro début, como figurante, em Inconfidência Mineira (1943), de Carmen Santos.

Lapso saldado em De Salto para o Cinema, que resgata também o breve contato entre Duarte e Orson Welles em 1942, quando o norte-americano selecionava figurantes para o documentário It’s All True no Rio. O diretor de Cidadão Kane teria planejado o seqüestro de Lolita, namorada de Duarte, por quem se apaixonara.

Lewis Milestone é outro cineasta norte-americano citado no registro audiovisual da vida de Duarte. E é sobre ele um dos mais curiosos depoimentos: “Eu estava no Festival de São Francisco (Califórnia) para mostrar O Pagador de Promessas na mostra competitiva. Um amigo que me acompanhava apontou para um velhinho sentado e disse que aquele era o presidente do júri do evento, além de um grande diretor. Eu não falava nada de inglês e, no momento em que ele me apresentou aquele cara e disse que seu nome era ‘Lius Maiustouni’, eu achei que era ninguém. Quando ele falou que eu estava na frente do diretor de Sem Novidades no Front (1930), eu quase caí para trás. Esse é um dos meus filmes prediletos. Até então, eu chamava o Milestone de forma aportuguesada, algo como ‘Lévis Milestôni’.”

Ficou sem destaque no documentário a próxima empreitada de Duarte na cadeira de diretor, que ocupou pela primeira vez nas filmagens de Absolutamente Certo (1957). “Pretendo retomar um projeto que eu filmaria no início dos anos 60 e deixei de lado para rodar O Pagador de Promessas, depois de assistir a peça do Dias Gomes, no Teatro Brasileiro de Comédia, em São Paulo.” O tal projeto engavetado é O Mensageiro Messias, a história de um carteiro baseada numa figura real que circulava em Salto. “A semelhança física com Jesus era incrível. Seu pai, um carpinteiro, se chamava José e a mãe era Maria. Além de tudo, Messias era conhecido por só trazer boas notícias.” Previsão para filmar? “O roteiro já está pronto. Faltam disposição e recursos para sentar atrás da câmera.”




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