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As vantagens da mentira
Por Carlos Brickmann
Para o Diário do Grande ABC
26/11/2014 | 07:00
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Os Dez Mandamentos da Lei de Deus são severos, rígidos; e nem eles proíbem a mentira. O estadista britânico Winston Churchill dizia que a verdade é tão preciosa que precisa ser protegida por uma muralha de mentiras. A mentira, vemos, tem muitas vantagens; mas tem o poder de destruir quem acredita nela.

Todos assistimos à campanha eleitoral, todos assistimos hoje à desconstrução, pela presidente Dilma, daquilo que a candidata Dilma afirmava. Não tem grande importância: o importante é que a presidente tenha reconhecido, ao escolher sua equipe econômica, a necessidade de gastar menos do que o governo arrecada, de evitar manobras criativas com a aritmética, de fingir que a inflação e as contas externas estão sob controle, que tudo vai bem e no melhor dos mundos.

Independentemente das promessas de campanha, Joaquim Levy é um bom nome para a Fazenda? Este colunista não tem a menor ideia: sabe que fez uma carreira sólida, que ocupa alto cargo num grande banco, mas se é capaz de formular uma política econômica é algo a ser visto no futuro. É coisa nova para ele.

Há quem ache que o ministro da Fazenda, de fato, será a presidente Dilma. Aí não vai dar certo: da mesma forma que nenhum presidente terá uma boa política econômica com ministros compreensivos como Guido Mantega, nenhum bom ministro aguentará ficar levando pitos, ouvindo gritos e cumprindo ordens.

Dizer uma coisa na propaganda e fazer outra, OK – desde que se faça o que é preciso. O que não pode ocorrer a um governo é acreditar na própria propaganda.

A palavra e o fato
Levy não é o que Dilma prometeu. E alguém tinha acreditado na promessa?

Fluxo de tráfego
Dizem que o líder chinês Deng Xiao-ping, que iniciou a modernização do país, ia de carona num carro dirigido por seu sucessor já indicado, Jiang Zen-min. Em determinado local, a estrada se bifurcava, e Jiang perguntou a Deng qual o caminho a seguir. Deng respondeu: “Dê sinal à esquerda e vire à direita”. A história é ótima, embora (e talvez por isso) jamais tenha acontecido. Mas vai ao fundo da questão: o problema não é ser direita, esquerda ou centro, mas saber como fazer com que o dinheiro do governo – e, portanto, da população que arca com as despesas – seja suficiente para pagar as contas, impulsionar o crescimento do país, oferecer rede de proteção eficiente a quem dela necessite. Que o governo combata a inflação, acerte as contas externas, bote o País em dia. Talvez assim dê para entender a frase incompreensível do deputado Gilberto Kassab, sobre seu partido: não é de direita, nem de centro, nem de esquerda.

Manda primeiro, conversa depois
Boa parte da resistência do PT à escolha de Joaquim Levy para a Fazenda e de Kátia Abreu, a líder dos ruralistas, para a Agricultura, deve-se à forma como foram escolhidos e anunciados. Não houve sequer aquela reunião formal, em que o comando partidário recebe a decisão consumada, mas tem a chance de dizer que foi consultado e se prepara para justificar a escolha. Primeiro houve o anúncio, e o partido que se estressasse para explicar decisões que o surpreenderam; e, pior ainda, que tentasse conter as manifestações de inconformismo, sem ter tido o tempo de acertar as coisas com as bases. Dilma pode até trazer ideias novas para o novo governo, mas a maneira de implementá-las é a mesma de sempre.

Aqui e lá fora
Acredita que a Operação Lava-Jato e a Operação Juízo Final são um tsunami político? Pois não são: tsunami mesmo são as investigações norte-americanas sobre a Petrobras, que a empresa acaba de confirmar. A SEC, equivalente norte-americana à CVM, investiga a Petrobras para saber se os investidores que compraram seus recibos de depósito (ADR) na Bolsa de Nova York foram ou não prejudicados. E o Departamento de Justiça a investiga por denúncias de corrupção, de acordo com a Lei de Atos de Corrupção no Exterior. Quem cuida do caso é a procuradora-geral assistente do Departamento de Justiça, Leslie Caldwell. A Petrobras contratou dois escritórios de advocacia, o brasileiro Trench, Rossi & Watanabe e o norte-americano Gibson, Dunn & Crutcher, especializados nas leis norte-americanas anticorrupção, que preparam auditoria das contas e práticas comerciais da empresa, para demonstrar que estão de acordo com as leis dos Estados Unidos. Foi uma legislação desse tipo, na Europa, que levou a multinacional alemã Siemens a contar ao menos parte do que sabia do cartel dos trens em São Paulo. 




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