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Centenário de Euclides da Cunha motiva encontro
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13/06/2009 | 07:00
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O centenário da morte do escritor e jornalista Euclides da Cunha (1866-1909) terá um encontro especial na Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, entre 1º e 5 de julho. O autor de Os Sertões, que profetizava "o esmagamento inevitável das raças fracas pelas raças fortes", será tema de discussão da mesa "O Mar e Os Sertões - Euclides da Cunha, 360°", que, a partir das 15h30 do dia 4, vai reunir os professores Walnice Nogueira Galvão e Francisco Foot Hardman, além de Milton Hatoum, escritor e cronista.

O encontro vai acontecer na Casa de Cultura de Paraty e a mediação será do jornalista Daniel Piza. Publicado em 1902, "Os Sertões" nasceu da cobertura jornalística de um dos conflitos mais sangrentos da história brasileira: a ação vitoriosa do exército contra revoltosos instalados na cidade baiana de Canudos. Euclides viajou para o local em 1897, a convite de Julio Mesquita, então diretor do jornal "O Estado de S.Paulo".

Outros correspondentes já acompanhavam as infrutíferas tentativas do exército de derrotar os seguidores de Antônio Conselheiro, no interior da Bahia, e Euclides destacava-se como o escolhido natural para representar o jornal: colaborador havia nove anos, publicara, nos dias 14 de março e 17 de julho daquele ano, dois artigos com o título de "A Nossa Vendeia".

São textos em que Euclides não apenas apresenta aspectos físicos daquela região do sertão como também se aventura a dar palpites sobre as dificuldades táticas e estratégicas do levante. No período em que cobriu o fato, Euclides submeteu-se a um verdadeiro rito de passagem: se quando deixou São Paulo estava seguro da natureza monarquista da rebelião em Canudos, o escritor (republicano convicto) foi obrigado a reformular seu julgamento, forçado pelas contingências.

PROFUNDIDADE - E, se tinha a urgência do repórter, acumulou material para a reflexão profunda sobre o fenômeno, que resultaria em "Os Sertões". "É por isso que não gosto de falar sobre a atualidade da obra", comenta Walnice. "Trata-se de um livro difícil, que não é entretenimento e cuja leitura faz o coração bater forte."

Professora de Teoria Literária e Literatura Comparada da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, ela ressalta o aspecto literário da obra. "Euclides utilizou a linguagem com fins estéticos."

Professor titular do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp, Francisco Foot Hardman acredita que Euclides é um daqueles casos de grande escritor que teve o conjunto de escritos ofuscado pelo brilho da obra-prima.

"Acho interessante, então, neste, como em outros eventos, cursos e debates, sempre que possível destacar os outros planos de sua atividade literária, que incluíram o ensaio, o jornalismo político e a crítica literária, a correspondência, a crônica e, last but not least, a poesia", comenta.

"Além de ‘Os Sertões', ele publicou mais três livros, dois deles em vida ("Contrastes e Confrontos" e "Peru Versus Bolívia", ambos de 1907) e um póstumo, mas organizado ainda em vida ("À Margem da História", 1909).

Afora isso, uma obra extensa de artigos, crônicas e poesias, tanto dispersos quanto inéditos. "Seria bom para o público de hoje ter uma ideia aproximada de toda essa riqueza e variedade."

Já Milton Hatoum pretende ler um conto de seu livro "A Cidade Ilhada" (Companhia das Letras), Uma Carta de Bancroft. O texto faz referência a uma carta que revela um sonho (ou pesadelo) do escritor quando estava em Manaus, antes de partir para o Purus.

CIVILIZAÇÃO E BARBÁRIE - "Uma das questões mais recorrentes na obra de Euclides é a relação entre civilização e barbárie", observa Hatoum. "Ele dizia que a Amazônia era uma ‘terra ignota', ‘a última página, ainda a escrever-se, do Gênese', onde o homem travaria uma ‘guerra de mil anos contra o desconhecido'."

Hatoum comenta que a ânsia de conhecimento científico e de exercer uma missão civilizadora é latente no escritor. "Euclides, como bom positivista, acreditava no progresso e na ciência, temas que ele aborda nos ensaios sobre a Amazônia", afirma. "Mas ele sabe que a ‘civilização' e os ideais republicanos falharam, e são mais bárbaros que os nativos que ele, Euclides, critica. Penso que esses temas são importantes."




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