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Manifestantes tentam invadir prefeitura e furtam lojas

Protesto na Capital transformou Centro em campo de batalha

Por Camila Galvez
Do Diário do Grande ABC
19/06/2013 | 07:00
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O sexto dia de manifestações na Capital, que começou pacífico na Praça da Sé, terminou com atos de vandalismo e saques a lojas praticados por uma minoria, na região central, ontem à noite. A Tropa de Choque foi acionada para conter os tumultos. Ao menos oito pessoas foram presas. A maior parte dos manifestantes, no entanto, seguiu sem violência pela Avenida Paulista, onde permanecia até por volta das 23h.

A concentração começou às 17h na Praça da Sé. Com cartazes e bandeiras do Brasil, o grupo rumou unido até o prédio da prefeitura de São Paulo, no Viaduto do Chá, onde 50 mil pessoas participaram do protesto, segundo o Datafolha. Elas foram recebidas pela GCM (Guarda Civil Municipal), que fechou a frente do prédio com grades.

Mas os manifestantes foram contidos por pouco tempo. Primeiro, colocaram fogo em boneco com o rosto do prefeito Fernando Haddad (PT) de um lado e o do governador Geraldo Alckmin (PSDB) do outro. Em seguida, derrubaram as barreiras com a intenção de invadir o prédio. “Sem revolução não há mudança!”, bradou um jovem de 19 anos com o rosto coberto por um lenço. Com o tumulto, a GCM jogou spray de pimenta nos manifestantes e fechou as portas de vidro e as grades que dão acesso ao prédio da prefeitura. A partir daí, diversos jovens começaram a atirar pedras nos vidros.

Aqueles que eram contra o vandalismo gritavam: “Sem violência”, enquanto os outros respondiam: “Sem moralismo.” Cordão humano foi formado em frente ao prédio para tentar impedir o avanço da depredação, sem sucesso. A maioria dos manifestantes, então, deixou o local rumo à Avenida Paulista.

Os que ficaram continuaram quebrando os vidros da prefeitura. Bombas caseiras foram jogadas dentro do prédio, que também teve as paredes pichadas. “Concordo até certo ponto com o que acontece aqui. Acho que deveriam se ater mais ao protesto para que reduzam a tarifa. Tem que ser o foco, e não a destruição sem causa”, disse jovem de 20 anos e morador de Santo André.

O grupo, então, atacou viatura da Rede Record que fazia a cobertura dos protestos; tentou virar o carro mas, sem conseguir, ateou fogo usando bombas caseiras. Base da PM (Polícia Militar) que fica ao lado da prefeitura também foi incendiada. O Corpo de Bombeiros foi chamado para conter os focos de incêndio.

Os vândalos deixaram a área em frente à prefeitura e passaram para a Praça dos Patriotas, onde depredaram agências bancárias. O caos se instalou: lojas foram invadidas e vários produtos foram roubados. Havia gente carregando televisores, rádios e celulares roubados pelas ruas. Policiais tentaram conter os saques com bombas de gás lacrimogênio, mas foi necessária a ação da Tropa de Choque para dispersar os criminosos.

O Theatro Municipal teve tentativa de invasão e todas as entradas foram fechadas. Pessoas que assistiam a um espetáculo ficariam no local até que fosse seguro sair. Os vitrais da fachada foram pichados.

O km 31 da Rodovia Raposo Tavares também ficou fechado por conta de manifestações, mas foi reaberto por volta das 22h, segundo o DER (Departamento de Estradas de Rodagem).

REGIÃO

As manifestações devem chegar hoje ao Grande ABC. A partir das 6h30, manifestantes do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) e Movimento Periferia Ativa prometem fechar o Terminal Ferrazópolis, em São Bernardo.

A população organiza pelo Facebook ato para protestar contra o aumento das tarifas, com concentração a partir das 18h, na Avenida Goiás, em frente ao Centro Digital, em São Caetano. Até às 23h de ontem, quase 7.000 pessoas haviam confirmado presença.

Para amanhã, a onda de protestos chegará a Santo André. Dois grupos organizam protestos à tarde. Um deles promete se concentrar na frente do Terminal Urbano, enquanto outro iniciará a caminhada no Paço Municipal, ambos no Centro.

Cinco cidades reduzem tarifas de ônibus após manifestações

Após a onda de protestos que varreu 12 capitais nos últimos dias, cinco prefeitos anunciaram ontem a redução da tarifa de ônibus. Manifestantes dizem, no entanto, que não pretendem interromper o movimento.

Em Cuiabá (Mato Grosso), Recife (Pernambuco), João Pessoa (Paraíba) e Caxias do Sul (Rio Grande do Sul), a justificativa foi a isenção de PIS/Pasep e Cofins para o setor de transporte, em vigor desde 1º de junho. Os governos negaram relação com os protestos e disseram que já estudavam como repassar a isenção à tarifa.

A alíquota dos tributos federais, que era de 3,65%, não coincide com o percentual de redução tarifária em nenhuma cidade.

Em Porto Alegre, um dia após os protestos, o prefeito, José Fortunati (PDT), disse que vai reduzir a tarifa em R$ 0,05, mas não estipulou data para o início do desconto. Em Cuiabá, Caxias do Sul e João Pessoa, a redução foi de R$ 0,10 na tarifa.

A manifestação marcada para amanhã em Recife também foi mantida. Ontem, o governador Eduardo Campos (PSB-PE) convocou a imprensa de última hora para anunciar redução de R$ 0,10 em todas as tarifas na capital e na região metropolitana.

Ontem, a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hofmann, apresentou estudo do governo federal sobre medidas já tomadas pelo Palácio do Planalto para garantir redução no preço das tarifas de ônibus de todo o País. Segundo o estudo do Planalto, a redução possível com as medidas de desoneração seria de R$ 0,23 na tarifa em São Paulo. (das Agências)

Pela 1ª vez, Haddad admite rever o aumento da passagem

Em reunião convocada para a manhã de ontem no Conselho da Cidade de São Paulo – órgão sem caráter decisório que reúne 136 notáveis da Capital paulista –, com presença de integrantes do MPL (Movimento Passe Livre), o prefeito Fernando Haddad (PT) admitiu, pela primeira vez, a possibilidade de reduzir a tarifa de ônibus na cidade. Mas isso só depois de “ampla discussão” que resulte em apoio popular para a causa.

“Se as pessoas me ajudarem a tomar decisão nessa direção, vou me subordinar à vontade das pessoas porque eu sou prefeito da cidade”, disse. A frase foi no fim de uma reunião de três horas, que começou às 10h, em que Haddad ouviu forte apoio, por parte do conselho, no sentido de revogar o aumento da tarifa. “Vou fazer reflexão sobre os números, sobre o que ouvi e vou dar resposta para o movimento.”

Ele, no entanto, afirmou que o apoio que espera à reivindicação teria de vir após entendimento da população de que o preço a ser pago para revogar o aumento de R$ 3 para R$ 3,20 seria grande. Para isso, comentou tabelas com os valores dos subsídios pagos às empresas de ônibus para manter o sistema de transportes. “Se não houver reajuste, até 2016 o custo do subsídio das tarifas seria de R$ 2,7 bilhões”, afirmou. Os valores apresentados por Haddad indicam que a diferença dos R$ 0,20 representam, nas contas, um acréscimo de cerca de R$ 200 milhões nos gastos da prefeitura, isso apenas no Orçamento deste ano.

De acordo com as tabelas da administração municipal, sem aumento na tarifa, o subsídio para os ônibus chegaria a R$ 1,425 bilhão em 2013. Com aumento, será de pelo menos R$ 1,250 bilhão.

OUTRAS CIDADES

Ontem, ao menos 30 cidades espalhadas pelo País registraram protestos. Em Belo Horizonte, os manifestantes voltaram a bloquear as ruas. Em Florianópolis (Santa Catarina), protestos fecharam as pontes que interligam a cidade. Em Juazeiro do Norte (Ceará), o prefeito Raimundo Macedo (PMDB) foi cercado por 8.000 pessoas que o impediram de sair de uma agência bancária.(da Agências) 




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