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Volks foi ‘pouco inteligente’, afirma ministro do Trabalho
Por Frederico Rebello Nehme
Do Diário do Grande ABC
30/10/2005 | 08:33
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A greve por PLR (Participação nos Lucros e Resultados) na Volkswagen, em São Bernardo, encerrada após 25 dias na última segunda-feira, teve como pano de fundo a renovação do acordo de estabilidade dos empregados, que vence em novembro do próximo ano, segundo avaliação do ministro do Trabalho, Luiz Marinho, ele próprio ex-funcionário da empresa.

Em entrevista ao Diário, o ex-presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores) e do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC classificou como “pouco inteligente” a recusa da Volks de discutir a prorrogação do compromisso, do qual ele foi o principal artífice em 2001.

“O custo de uma paralisação longa é muito alto para as partes, não apenas para a empresa. Se há uma parte que entra na mesa de negociação dizendo que não há chance, o conflito está estimulado. Acho que a direção da Volkswagen deveria analisar essa questão tendo em vista a necessidade de diálogo”, afirmou.

Segundo o ministro, o governo federal deve enviar até março um projeto de lei ao Congresso Nacional instituindo patamares mínimos de reajuste, com aumento real, do salário mínimo. Esses parâmetros levariam em conta a inflação mais o aumento do PIB (Produto Interno Bruto).

Relacionado recentemente pelo ex-gerente de Recursos Humanos da montadora Klaus-Joachim Gebauer no escândalo sexual envolvendo dirigentes sindicais e diretores da Volks, Marinho – que nega participação – não falou sobre o assunto.

DIÁRIO – A geração de empregos formais apresentou uma redução em seu ritmo ao longo de 2005 em comparação com 2004. Qual a expectativa de geração de empregos para o ano de 2006?

LUIZ MARINHO – Esse é o momento em que o Brasil mais está gerando empregos nos últimos 25 anos. É o momento de maior consistência da economia brasileira. Acredito que em 2006 teremos uma geração de empregos muito parecida com a de 2004, quando criamos 1,523 milhão de novos empregos. Falo isso com base na seguinte consideração: entre 2003 e 2004 tivemos um processo de redução da taxa de juros, que deve se repetir entre 2005 e 2006. Entre 2004 e 2005, num certo excesso de conservadorismo, o Comitê de Política Monetária, do Banco Central, puxou demais o freio (com o aumento da taxa de juros Selic), o que acabou limitando nossa capacidade de geração de empregos. No final do governo Lula, deveremos alcançar o saldo de 5 milhões de empregos com carteira assinada.

DIÁRIO – A perspectiva de redução do volume de exportações em diferentes setores para o ano de 2006 não pode atrapalhar esses resultados?

MARINHO – É fato que o câmbio tem diminuído o resultado do setor exportador, mas nós continuamos quebrando todos os recordes de exportação. A esperança é que a partir do processo de redução da taxa Selic aconteça um ajuste no câmbio. É natural que isso ocorra. O câmbio está com problemas em grande parte por causa de nosso dinheiro valorizado.

DIÁRIO – Como estão as negociações sobre o reajuste do salário mínimo? Qual o patamar de aumento que será defendido pelo Ministério do Trabalho?

MARINHO – O Ministério do Trabalho quer o maior reajuste que couber no orçamento da União. Não há outra opção. Também está no orçamento a correção da tabela do Imposto de Renda, o reajuste do funcionalismo, a Lei Kandir, demandas de cada parte da sociedade. Como ministro, espero terminar este governo deixando uma lei que estabeleça por um período determinado uma política de valorização do salário mínimo. Queremos criar um indicador que garanta aumentos acima da inflação. Evidentemente que esse indicador precisa estar relacionado ao PIB (Produto Interno Bruto). A idéia é que um projeto de lei seja apresentado até março criando esses parâmetros. A proposta será resultado das discussões da Comissão de Valorização do Salário Mínimo.

DIÁRIO – Recentemente, o secretário-adjunto da Receita Federal, Ricardo Pinheiro, afirmou que as propostas de reajuste da tabela do Imposto de Renda eram “papo de viúva da inflação”. Como se dá esse embate dentro do governo com relação à correção?

MARINHO – Isso é normal. A Receita tem o papel de ajudar a fechar o orçamento, projetando quanto vão arrecadar e quanto vão gastar. É natural que eles não aceitem em princípio essas reivindicações. O trabalho do (Jorge) Rachid (secretário da Receita Federal), do Ricardo (Pinheiro), da equipe do (Antonio) Palocci (ministro da Fazenda), é duro, muitas vezes incompreendido. Nesse ponto, acredito que há equívocos. Corrigir a tabela do imposto de renda significa injetar dinheiro no consumo, fazendo a economia crescer. Corrigir a tabela do imposto de renda é importantíssimo, e certamente vamos fazer isso, apesar do Ricardo (Pinheiro).

DIÁRIO – Qual a avaliação que o sr. faz da paralisação na Volkswagen por conta da negociação sobre a PLR?

MARINHO – Não acompanhei de perto o processo, mas vejo que isso é o resultado de uma abordagem da direção da empresa em relação ao acordo (de estabilidade) que está em vigor. Os trabalhadores desejam a renovação desse acordo e a direção da empresa diz que quer interrompê-lo. Acho que esse endurecimento tanto por parte dos trabalhadores como da empresa tem a ver com isso.

DIÁRIO – O acordo de estabilidade corre o risco de não ser renovado?

MARINHO – O presidente da empresa (Hans-Christian Maergner) assumiu (a direção da montadora no Brasil) dizendo que o acordo não será renovado. Talvez esse processo da PLR tenha sido um ensaio do que pode ocorrer na discussão sobre a renovação do acordo. Acho pouco inteligente por parte da Volkswagen não querer renovar, dizer que não será renovado. Se o acordo precisa de ajustes, que se façam os ajustes, mas é importante que as partes, tanto os trabalhadores como a empresa, tenham o compromisso do diálogo em relação ao acordo. Talvez hoje haja tamanha tranqüilidade que não seja necessário um acordo como esse. Mas é preciso abertura para fazer esse diálogo da maneira mais harmoniosa possível, até porque o custo de uma paralisação longa como essa é muito alto para as partes, não apenas para a empresa. Mas se há uma parte que entra na mesa de negociação dizendo que não há chance, o conflito está estimulado. Acho que a direção da Volkswagen deveria analisar essa questão tendo em vista a necessidade de diálogo.

DIÁRIO – Desde que assumiu, o sr. se colocou na linha de frente da defesa do governo Lula, estabelecendo comparações com o período do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. É uma orientação de governo?

MARINHO – Não há uma discussão sobre que papel cada ministro deve cumprir. Procuro cumprir o papel de ministro do Trabalho da forma que conceituo a tarefa do ministro do Trabalho. Se trabalho com os indicadores (de emprego), tenho a obrigação de prepará-los para o presidente e de me dirigir à opinião pública com essas informações. Tentam vender a idéia de que esse governo é ruim e que o anterior é bom. Então vamos analisar os dados. Topamos qualquer comparação, em qualquer área. Não temos medo de comparações.




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