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Consegui um emprego. E agora?

Este ano, completo 22 anos desde que tive meu primeiro...

Carlos Ferrari
15/05/2013 | 00:00
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Este ano, completo 22 anos desde que tive meu primeiro registro na carteira profissional. Recentemente, falando um pouco sobre o tema, em uma palestra que tratava de empregabilidade de pessoas com deficiência, fui questionado por um dos que estavam assistindo: "Consegui um emprego, e agora"? Achei a pergunta fantástica, pois trazia sinceridade e, ao mesmo tempo, uma dose de angústia que poucos teriam a coragem de externar. 

Algum desavisado que pudesse estar chegando no planeta Terra horas antes responderia com a autoridade de quem está totalmente desinformado do nível de complexidade que caracteriza nosso sistema de trabalho e emprego atualmente: "Agora é só trabalhar!". Felizmente, no dia não havia nenhum tipo de ET com esse tipo de visão. Ao contrário disso, a pergunta do rapaz causou frisson, fazendo com que outros conversassem baixinho, deixando claro que essa era uma dúvida para lá de comum.

Comecei respondendo que certamente essa não era uma dúvida exclusiva de pessoas com alguma deficiência. As pessoas, quando estão fora do mundo do trabalho, almejam colocação, pois se trata, dentre outras coisas, do resgate de algumas seguranças, como por exemplo rendimentos, reconhecimento social, e porque que não dizer, do retorno do sentimento de "normalidade" no ritmo de vida.

Mas é fato que junto com as tais "seguranças" vêm as perguntas: como será meu ambiente de trabalho? Como deve ser o povo que trabalha por lá? Como vou fazer para que meu trabalho seja reconhecido? Um bom departamento de gestão de pessoas sabe disso, e procura desenvolver ações e programas específicos, com vistas a proporcionar ao novo colaborador acolhida que de fato o permita se sentir parte reconhecida da organização no menor espaço de tempo possível.

Quando falamos de pessoas com deficiência, a lógica deve seguir o mesmo princípio. Isto significa dizer que, pouco mais de duas décadas depois de nossa conquista da Lei de Cotas, não basta mais apenas conseguirmos a inserção no mundo do trabalho. É fundamental que a empresa esteja pronta para receber, com ambiente físico, equipamentos e mobiliários, software e, principalmente, com uma atitude positiva de seus colaboradores.

Com isso, não quero isentar o indivíduo de suas responsabilidades na construção de uma chegada com qualidade no ambiente laboral. Temos que estar preparados para perguntas, muitas vezes não tão óbvias ou tão pouco simpáticas, para identificar um ambiente não totalmente adequado, sabendo fazer as críticas necessárias para que tudo seja adequado, enfim, devemos sempre ser protagonistas da construção qualitativa de nossa chegada a um novo emprego.

É importante destacar o papel de entidades de pessoas com deficiências, que ao longo dos últimos anos desenvolveram know how para qualificar esse processo. Atualmente, essas organizações contam com metodologias específicas para estudo dos postos de trabalho, palestras de conscientização para os colaboradores, adequação do ambiente físico, e estruturação de plano de carreira. Pessoas com deficiências ou não, o fato concreto é: o Brasil está aprendendo a urgência em implementar estratégias efetivas com foco na gestão da diversidade. 

* Carlos Ferrari é presidente do CNAS (Conselho Nacional de Assistência Social) e vice-presidente da Fenavape (Federação Nacional das Avapes). 




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