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Crescem pisos próximos do mínimo
Por William Glauber
Do Diário do Grande ABC
28/09/2006 | 22:05
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Quase 44% dos pisos salariais negociados no primeiro semestre deste ano chegam a apenas 1,25 salário mínimo. Levantamento do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), com base no SAS (Sistema de Acompanhamento de Salários) de 211 negociações, revela que a maior parte dos trabalhadores em início de carreira ganha até R$ 437,50. A pesquisa mostra que, com isso, cresceu a concentração de pisos salariais próximos do salário mínimo.

No ano passado, apenas 25% dos pisos estavam nesse patamar. A política de valorização do mínimo no governo Luiz Inácio Lula da Silva – cerca de 22% de aumento real nos últimos dois anos – não teve fôlego nas campanhas salariais. Na mesa de negociação, boa parte dos sindicatos não conseguiu exigir o mesmo repasse do índice de reposição do mínimo aos pisos salariais. A proporção de trabalhadores que ganham próximo do mínimo cresceu 76% de um ano para o outro.

Entre diversos apontamentos, o estudo revela que diminuiu a quantidade de pisos entre 1,5 e 1,75 salário mínimo. Neste primeiro semestre, pouco mais de 10% das negociações garantiram pisos com valor de até R$ 612,50. No mesmo período do ano passado, cerca de 20% dos pisos oscilavam entre 1,5 e 1,75 salário mínimo. Hoje, aproximadamente 70% dos pisos brasileiros rendem salários de, no máximo, R$ 525 – equivalentes a 1,5 salário mínimo.

O supervisor do Dieese, Silvestre Prado de Oliveira, avalia positivamente a política de valorização da renda básica. “Melhor mínimo não traz dificuldade às negociações salariais. Quanto maior o mínimo, melhor. Isso se reflete no rendimento dos trabalhadores porque os pisos seguem a variação do salário mínimo.”

Segundo Oliveira, os sindicatos podem conquistar melhores índices de reajuste com base nos aumentos concedidos ao mínimo. “As categorias buscam por meio de vários sindicatos valorizar os pisos com reajuste diferenciado ao restante das outras faixas salariais”, aponta o pesquisador do Dieese. Para ele, o salário mínimo transforma-se em instrumento de negociação.

Serviços – Em nível nacional, o estudo do Dieese revela que a indústria paga a maior quantidade de pisos baixos. Apenas, 4% dos trabalhadores em início de carreira na indústria ganha acima de dois mínimos. O percentual, no entanto, sobe para 19% no comércio e 21% em serviços. Oliveira explica que o setor de serviços conta com o maior número de postos de trabalho de formação superior, o que eleva a média do segmento.

Necessidade – Segundo avaliação técnica do Dieese, a valorização do salário mínimo contribui para a contínua diminuição da diferença entre os valores do salário mínimo necessário apurado mensalmente pela entidade. Hoje, para cobrir todas as despesas básicas de uma família, o salário estimado pelo Dieese corresponde a 4,62 mínimos. Em 2005, por exemplo, o valor era de 5,29 salários.

Com o mínimo em ascensão, o Dieese aponta para a importância da renda como fator de elevação da participação da remuneração do trabalho no poder de consumo. Embora tenha diminuído o abismo entre o ideal e o real, a instituição frisa a emergência de se diminuir cada vez mais a distância entre o salário mínimo atual e mínimo necessário, como prevê a Constituição Federal.



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