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Shakespeare ganha versões em mangá
Luciane Mediato
Especial para o Diário
23/05/2011 | 07:00
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As histórias de Shakespeare conquistam milhares de leitores desde o século XVI. E os contos de amores proibidos e conflitos existenciais são revividos pelos amantes da literatura, por meio dos livros. Para os que não conhecem esse clássico ou mesmo para os que já são fãs, chega às prateleiras a série adaptada "Mangá Shakespeare" (Editora Galera, 213 páginas, R$ 24,90, o preço médio de cada exemplar ). A nova versão une o melhor de dois mundos: toda a singularidade do eterno escritor, com o moderno estilo gráfico dos mangás japoneses.

Pode ser que metade do desafio de Shakespeare esteja na leitura. A perspectiva assustadora de ler e entender textos complexos pode afastar novos leitores. Os textos vertidos para o mangá podem facilitar o caminho e permitir que os vários públicos apreciem a poesia do diálogo, sem de desgastar na formalidade dos textos e, sentir apenas poesia das linhas.

A adaptação dos livros leva os leitores a participar das apresentações das peças e formar sua própria opinião sobre as interpretações. As primeiras histórias a chegarem ao Brasil são "Hamlet" e "Romeu e Julieta".
 
AS HISTÓRIAS
A questão do contexto é o maior desafio em Hamlet. A adaptação define a história no ano 2107, repleto de tecnologia cyberpunk. Até seria uma ideia brilhante se os livros pudessem utilizar melhor esse cenário moderno.
 
Mas a sensação que se tem ao ler a história é que os personagens estão fantasiados sem entender a ligação da história com o contexto. Para a transição para o futurismo ao trabalho de Shakespeare, os sinais visuais teriam que ser muito mais fortes.
 
Existem outros problemas nas interpretações. O exemplo mais crucial é o episódio de Hamlet avançando contra o tio, que está rezando. No original, o príncipe vê a oportunidade de vingar a morte de seu pai, mas percebe que se matar Claudius logo após a confissão seria "o mesmo que enviar o vilão para o céu." Ao invés disso, Hamlet resolve esperar até que o rei peque mais uma vez, portanto, será condenado para o inferno. Mas o mangá perde a oposição de céu e inferno inteiramente, colocando o ponto crucial em Hamlet "dizer não à vingança."

Nessa tragédia do príncipe da Dinamarca, mudanças climáticas arrasaram o planeta, que vive sob ameaça constante de guerra. Um paraíso próspero em meio ao desastre, a Dinamarca se defende dos vizinhos e, como todos sabem, guarda algo de podre em seu interior. O traço do mangá é de Emma Vieceli, uma das vencedoras do primeiro concurso "Tokyopop Rising Stars of Manga".

Já a história dramática dos namorados que pertencem a famílias inimigas mudou-se da italiana Verona para Shibuya, bairro de Tóquio, onde Montecchios e Capuletos se transformam em famílias rivais da Yakuza. O Romeu moderno é um astro do rock e Julieta uma adolescente apaixonada por moda. A ilustradora é Sonia Leong, vencedora do "Young Adult Library Services Association".

Famílias rivais, os Montecchios e os Capuletos estão em constante desavença. Enquanto isso, alheio às brigas, Romeu tenta desesperadamente esquecer sua namorada, Rosalina. Para tal, e com a ajuda e incentivo de seu amigo Benvolio, resolve ir a uma festa que os Capuletos darão - mesmo sabendo que ninguém que carregue o nome da sua família será bem-vindo.
 
Lá, Romeu é descoberto e imediatamente expulso - mas não antes de se apaixonar perdidamente por Julieta, filha do sr. Capuleto e já prometida em casamento a outro homem. Ignorando os avisos, na mesma noite Romeu vai à janela de Julieta para declarar seu amor, e é correspondido.

Apesar de reduzido, o texto original de Shakespeare foi mantido, incluindo os trechos em verso. A editora promete para breve as versões de "Ricardo III", "Sonhos de Uma Noite de Verão" e "Othello". A série "Mangá Shakespeare" já circula na Nova Zelândia, Estados Unidos, Austrália e Irlanda.




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