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Gravadora brasileira investe no erudito
Por Joao Marcos Coelho
Especial para o Diário
06/05/2000 | 17:25
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O nascimento das grandes orquestras européias remonta em boa parte ao século XIX, detalhe que faz a Royal Philharmonic of London, da Inglaterra, ser relativamente jovem. Ela surgiu há 54 anos, mas já exibe uma vitalidade de fazer inveja. Conhecida bem além dos limites da música de concerto - quem nao tem em casa um CD com a Royal interpretando uma trilha sonora de filme ou mesmo o repertório dito ligeiro? -, ela virou até mesmo grife. Pois é justamente com a chancela Royal Philharmonic Collection que a Abril Music do Brasil ingressa no segmento chamado clássico, ou erudito.

Simultaneamente, propoe um preço médio bastante acessível nas lojas - algo entre R$ 15 e R$ 18 por CD. O primeiro pacote, com 20 álbuns, traz, naturalmente, as obviedades de sempre, como as Danças Polovitsianas, de Borodin; o Concerto de Aranjuez, do compositor espanhol Joaquín Rodrigo, que aliás morreu há pouco com mais de 90 anos; a Cavalgada das Valquírias, de Richard Wagner; e a Sinfonia Júpiter, de Mozart.

Oferece, inclusive, uma bobagem sem tamanho. Em plena era das execuçoes com instrumentos de época, as Quatro Estaçoes, de Vivaldi, o sempre incluído Cânone, de Pachelbel, e o Concerto de Brandenburgo nº 3, de Bach, sao interpretados com grande orquestra e instrumentos modernos. Muito ruim.

O lado positivo da série, no entanto, demonstra a presença de duas características que a diferenciam quando comparada com a enxurrada de clássicos populares. Sao as escolhas muito boas de repertório, como, por exemplo, a Quinta Sinfonia, de Shostakovich, a Quinta Sinfonia, de Mahler (e nao só o famoso adagietto usado na trilha sonora do filme Morte em Veneza, de Visconti).

Notável, ainda, é o espaço dado a jovens regentes, muitos deles filhos de notáveis maestros do passado, como Stefan Sunderling, de sobrenome ilustre, que rege as terceira e quarta sinfonias de Mendelssohn; o estoniano Pavo Jarvi, filho de Neemi Jarvi, um dos mais férteis regentes em termos de gravaçoes (sao mais de 100 CDs só para a Chandos inglesa) que lê de forma competente a Sinfonia do Novo Mundo, de Dvorák; e Jane Glover, que costumeiramente rege os London Mozart Players, desta vez enfrenta Mozart nas sinfonias 40 e 41 e na abertura de As Bodas de Fígaro.

Já batalhando muito mais em funçao do nome do que de resultados, o lendário violinista e regente sir Yehudi Menuhin faz leituras apenas corretas da Sexta Sinfonia - Patética, de Tchaikovski, e de um previsível programa Elgar: Variaçoes Enigma e, claro, a marcha Pomp and Circunstance.

Dois CDs, entretanto, sao excepcionais. Depois de comprados, podem ser ouvidos muitas vezes sem causar tédio. Eles trazem os programas Richard Strauss (Assim Falava Zaratustra, Till Eulenspiegel e Don Juan) e Dmitri Shostakovich (Abertura Festiva e Quinta Sinfonia). Nos dois casos, o segredo é a batuta, comandada por sir Charles Mackerras.

Australiano de pais norte-americanos, Mackerras está hoje com 74 anos e se firmou como uma das maiores autoridades em música checa e eslava de modo geral. O motivo sao os estudos que ele desenvolveu em Praga com Vaclav Talich, o lendário maestro da Filarmônica Checa. Mackerras surpreende nos poemas sinfônicos de Richard Strauss e reafirma um nível de interpretaçao muito elevado e pessoal nas obras de Shostakovich.




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