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Bruno Barreto faz versão ficcional de episódio do Ônibus 174
Carla Navarrete
Do Diário OnLine
21/10/2008 | 07:00
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Candidato brasileiro à vaga de melhor filme estrangeiro no Oscar 2009, "Última Parada 174" é uma obra de ficção, sem comparações com o documentário de título quase homônimo lançado por José Padilha em 2002. É o que fizeram questão de frisar o diretor Bruno Barreto e o roteirista Bráulio Mantovani em coletiva na segunda-feira pela manhã, em São Paulo, horas antes da exibição do longa na 32ª Mostra Internacional de Cinema.

"Desde o início assumimos que ia ser um filme de ficção. Por isso, para mim foi importante me distanciar o máximo possível do documentário", disse Mantovani.

Apesar disso, a idéia para o roteiro surgiu de uma cena vista por Barreto no documentário de Padilha, que mostrava a mãe adotiva de Sandro do Nascimento, o seqüestrador do ônibus no Rio de Janeiro, como a única pessoa presente no enterro do rapaz morto pela polícia. "Eu fiquei pensando o que levou essa mulher a adotar o menino", contou o diretor.

Esse foi o ponto de partida para a construção do filme, que estréia na próxima sexta-feira (24) em circuito comercial. Mantovani chegou a conhecer a mãe da vida real, em um único encontro que ele descreveu como "muito breve e sofrido". "Tirando a convicção que ela tinha de que o Sandro era mesmo seu filho, não ficou realmente nada dela na personagem", acrescentou.

Já Bruno Barreto não quis conhecer a mulher, para não influenciar sua história. Tanto que seu longa não conta de forma linear a vida de Sandro, sobrevivente da Chacina da Candelária, em 1993. No filme, o episódio acontece apenas um pouco antes do seqüestro do ônibus - na vida real ocorrido em 2000.

"A armadilha que todo roteiro adaptado corre o risco de cair é ficar muito preso à sua origem e não criar vida própria", disse. "Se você se preocupa em transpor os fatos reais para a ficção acaba fazendo um filme sem graça e diminuindo o impacto da realidade", complementou Mantovani.

Outra preocupação de Barreto foi escolher um elenco desconhecido do grande público, apesar de a maioria já ter participado de outros longas nacionais famosos. O protagonista Michel Gomes, intérprete de Sandro, esteve em "Cidade de Deus" e na série global "Cidade dos Homens", mas em papéis menores. "No caso dessa história era fundamental não saber nada sobre esses atores, para aproximar os personagens do público. Ser conhecido não é o problema, e sim as pessoas saberem da sua vida pessoal", afirma.

Esses cuidados foram tomados para o diretor construir um filme sobre as relações humanas, como ele mesmo definiu. "Há muito tempo eu não via um longa sobre esse universo que falasse do ponto de vista dos personagens. Apesar de eu ser fã de ‘Cidade de Deus' e ‘Tropa de Elite', esses são filmes mais de fora para dentro, expressionistas. Eu quis fazer algo impressionista", completou.

Oscar - Sobre as chances de ‘Última Parada' conseguir uma indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro, Barreto preferiu não fazer nenhuma aposta. "É algo muito distante ainda. São 60 longas inscritos, é uma loteria. Vamos esperar até janeiro, quando sai o anúncio."

Apesar disso, o diretor acredita que a produção "tem alguma chance" junto à Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. "É um filme que emociona, sem ser manipulador. É bem humano."




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